‘Napoleão atirou ali’
Conhecer uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo consistiu em algo realmente extraordinário em minha vida. Estive ao pé dos maiores túmulos já construídos pela humanidade em novembro de 2022, portanto há um ano.
Incrível presenciar ao sol forte do Cairo, no Egito, das páginas dos livros de história do ginásio e do colegial, aquele amontoado de pedras, equilibradas pela engenharia rudimentar das primeiras civilizações e carregadas por homens e mulheres cativos. Os suores dos hebreus edificaram aquelas sepulturas enormes. Se bem, que o guia que nos levou até o complexo da antiguidade situado em Gizé afirmou que muitos que trabalharam o fizeram por amor ao faraó, que teria até acertado o salário para quem ali assentou pedra ou bateu massa.
Ao olharmos para a maior delas, a Quéops ou a Grande Pirâmide de Gizé, somos informados de que aquele ‘buraco’ que permite chegar ao seu interior foi resultado de um tiro de canhão autorizado pelo próprio Napoleão Bonaparte, quando da campanha de invasão à Àfrica. O ataque francês ao Egito foi de 1798 a 1801, e está retratado no recém-chegado ao Brasil ‘Napoleão’, do magnífico diretor Ridley Scott (o novo Cecil de Mille da 7ª arte).
Contudo, conforme uma matéria do The New York Times, traduzida e reproduzida pela Folha de S. Paulo, há controvérsias. Certamente Scott ouviu a mesma história que nos foi contada em novembro de 2022 e, obviamente com a sua visão de cineasta, sintetizou o disparo de canhão como a forma que Napoleão quis deixar um recado ao mundo. Ao The Times, de Londres, Ridley Scott – que na minha opinião está absoluto na direção de ‘O Gladiador’, de 2000 e com Joaquin Phoenix fazendo o imperador romano da época – reconhece que talvez, Napoleão realmente não tenha disparado contra a Quéops.
“Mas foi uma maneira rápida de dizer que ele conquistou o Egito”, disse. Phoenix, agora, é o próprio Napoleão e pode ser até indicado ao Oscar de Melhor Ator pela sua interpretação do homem que ousou dominar o mundo. Ele não era baixinho – como se reproduz, tinha 1,68 m, portanto uma estatura mediana à época – porém, como os demais militares eram bem maiores que ele, os franceses passaram a considerá-lo, por comparação, um ‘nanico’. Mas era esse ‘nanico’ que comandava a tropa.
Em ‘A revolução dos bichos’, de George Orwell que acaba de ser relançado em um trabalho primoroso da Darkside com posfácio do tradutor e professor Vinicius Tomazinho (meu grande amigo e conterrâneo), Napoleão é o porquinho que corrompe a proposta de novo governo da granja que passa para o domínio dos animais. Lá, na granja de Orwell, todos os animais são iguais, mas alguns são bem mais iguais que os outros. Scott e eu achamos que o imperador Bonaparte meteu um balaço na pirâmide. Os estudiosos ouvidos pelo The New York Times não dão certeza disso. Mas, se é fato ou folclore, o que importa é que a história é passível de interpretação, o mesmo ocorre com as decisões. Cabe, então, ao leitor (espectador) decidir e dialogar consigo na reflexão.
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’ (La Musetta Editoriais), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato), ‘Contos do japim’ (Carlini & Caniato), ‘Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato), ‘Laurinda Frade, receitas da vida’ (Poiesis Editora) e das HQs ‘Radius’ (LM Comics), ‘Os canônicos’ (LM Comics) e ‘Onde nasce a Luz’ (Unimar – Universidade de Marília), ramonimprensa@gmail.com.