“Não vamos deixar a peteca cair”, diz presidente do Grenom sobre o Carnaval
Presidente do Grêmio Recreativo Nova Marília (Grenom), corintiano, apaixonado por futebol e Carnaval. Gilson Alves Felício, aos 67 anos, preserva essas e muitas outras características que o tornam especial para a cidade.
Mariliense, Gilson nasceu e cresceu no conhecido Morro do Querosene, na zona oeste do município. Ao lado da mãe Alice e de seus quatro irmãos, com quem chegou a dividir um único colchão, manteve toda sua integridade mesmo diante de um cenário bastante desfavorável.
Com diversos ensinamentos da vida, seu engajamento social o levou até a criação do Grenom, onde conseguiu unir futebol, desfiles e atividades populares. A agremiação conquistou mais de 40 títulos com times em campeonatos e com a tradicional Escola de Samba Nova Marília.
Atualmente, Gilson tenta manter o otimismo com o Carnaval e pede maior atenção das autoridades municipais para que o samba possa sobreviver na cidade.
Confira a entrevista da semana do Marília Notícia com Gilson Alves Felício, pai da Melissa, avô da Letícia e do Bruno e bisavô do Pedro Henrique.
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MN – O senhor é mariliense, certo? Nasceu em qual região?
Gilson Felicio – Nasci em Marília, no Morro do Querosene, que fica na zona oeste da cidade. Tudo que sei da vida em termos de futebol, samba e trabalho social, eu aprendi lá. Até meu parto foi feito na favela.
MN – E como foi sua infância?
Gilson Felicio – Foi sofrida, viu!? Passei muita fome na vida. A gente só morava em cortiço, sempre em fundo de casa, nunca tivemos um imóvel mesmo para morar. Meu pai foi embora e deixou minha mãe com cinco filhos. Em um colchão de casal, dormiam minha mãe e os cinco filhos do lado. Cansei de pegar casca de batatinha no lixo, para depois lavar e cozinhar. Nascemos e crescemos no meio do tráfico, mas graças a Deus nem cigarro eu fumo. Minha mãe criou quatro homens e uma mulher conscientes.
MN – Conta um pouco da sua trajetória antes de chegar ao Grenom.
Gilson Felicio – Estudei até o quarto ano, mas tem muita gente “de faculdade” que não sabe metade do que eu sei. A vida me ensinou muita coisa. Então, completei 18 anos e sai do Morro do Querosene para casar. Prestei um concurso da Polícia Militar e passei em terceiro lugar, mesmo sendo um dos menos estudados. Fiquei dois anos em São Paulo, mas não me adaptei e voltei para Marília. Comecei a trabalhar e continuei minha vida.
MN – Foi então que entrou para o mundo do futebol?
Gilson Felicio – Depois que voltei à cidade, comecei a me envolver com o futebol. Joguei no Marispuma, que era um time de uma fábrica de colchão onde trabalhei, e passei pelos clubes do Correio de Marília e Líder WV. Só que logo passei a ser treinador, com 21 anos. Também passei pelo Atlético do Morro, Portuguesa, São Miguel e Grenom.
MN – E quando chegou ao Nova Marília?
Gilson Felicio – Cheguei no dia 15 de junho de 1982. Fui a décima pessoa a mudar para o bairro. O Kawakami, que abriu junto com o próprio bairro, fez um concurso na rádio. Quem chegasse primeiro ao Nova Marília ganharia uma cesta básica. Nessa época, morava no São Miguel. Arrumei um caminhão de mudança e vim rapidinho, mas quando cheguei já tinham nove na minha frente (risos).
MN – Como surgiu a ideia do Grenom?
Gilson Felicio – No segundo dia que eu estava no bairro, fui para um bar e encontrei alguns amigos. Foi aí que resolvemos montar um time de futebol, que chamava Gres – Grêmio Recreativo Esportivo Social Nova Marília. Então, no dia 1º de julho de 1982, nasceu o Grenom, que hoje já tem 42 anos de existência. Um tempo depois, em 1985, a escola de samba surgiu. O Hélio Clemente, primeiro presidente do grêmio, praticamente a montou. Eu mexia com o futebol e ele com o samba. Ele e o Jairo, vice-presidente na época, conseguiram o terreno da Cohab para montar a sede depois. Contruímos tudo com nossos próprios recursos, ajuda de amigos, de empresários e alguns políticos. O Hélio ficou um ou dois anos como presidente, e logo depois assumi e sigo até hoje.
MN – E de lá para cá?
Gilson Felicio – O Grenom foi uma grande potência. Aqui temos o departamento do futebol, de mesmo nome, e do Carnaval, com a Escola de Samba Nova Marília, mas já tivemos academia de capoeira e outros serviços, principalmente para idosos. Já chegamos a ter 1.500 pessoas em ensaio aqui na sede. Conquistamos 42 títulos, entre carnavais, campeonatos de futebol, society e master. Além disso, também cedemos o salão para o pessoal fazer festa de aniversário, batizado, casamento e encontro evangélico. É um espaço social e, graças a Deus, continuamos em atividade. Nunca deixamos a peteca cair e não vamos deixar.
MN – A Escola de Samba Nova Marília é uma das mais antigas em atividade na cidade?
Gilson Felicio – Participamos de todos os carnavais em Marília desde que a escola surgiu. Até 2012, o desfile era na Sampaio Vidal. Chegamos a colocar 15 mil pessoas na avenida, com quatro escolas de samba e blocos. Só a Nova Marília chegou a levar 1.280 carnavalescos. O Grenom já teve oito carros alegóricos. Sempre fizemos as fantasias, contando com 10 costureiras e uma boa estrutura. Hoje em dia, infelizmente, é tudo mais difícil.
MN – O que mudou?
Gilson Felicio – Depois de 2012, paramos de receber qualquer auxílio da Prefeitura, como verbas da Cultura e afins. Nos últimos 10 anos, passamos a realizar o desfile na avenida João Ramalho, aqui na zona sul, com recursos próprios e de patrocinadores. O problema é que o Carnaval é uma festa cara. Sem ajuda do município, a tendência é um dia acabar. Não pedimos que a Prefeitura banque todo o Carnaval, mas é preciso manter um diálogo e maior atenção com as escolas. Nos últimos anos, temos feito apresentações em Vera Cruz e Sabino, levando uma ala show para essas cidades.
MN – Mesmo diante das dificuldades, a escola do Grenom continua firme?
Gilson Felicio – Vamos continuar. Nossa bateria começa a ensaiar no começo de 2024 e a gente sempre dá um jeito de fazer pelo menos alguma apresentação, geralmente na Sampaio Vidal com a São Luiz. Carnaval de rua mesmo, em Marília, não deve ter.
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