‘Não mudo do Santa Antonieta e meu jeito de fazer política’, diz Cícero
Eleito vice-prefeito de Marília, Cícero Carlos da Silva, o popular Cícero do Ceasa (PL), não mudou e nem pretende mudar. Ele garante que não vai deixar o bairro Santa Antonieta, na zona Norte, nem a forma de fazer política, com foco em ações comunitárias e vínculo histórico com a população carente e movimentos populares.
Em uma conversa com o Marília Notícia, o futuro vice-prefeito contou sua trajetória, fez algumas revelações, e falou sobre a influência que pretende exercer no governo.
O atual vereador vive em uma casa simples, em uma pacata rua do bairro. Há 39 anos é casado com a dona de casa Vera Aparecida da Cruz Silva, com quem teve três filhos.
“Meu patrimônio é o que você está vendo, um automóvel Toyota de R$ 40 mil, uma Parati 1990 e a minha casa. Minha riqueza de verdade é a Vera, meus filhos e meus netos. Aprendi a ter contentamento, acho que isso vem de Deus”, disse o novo vice.
Cícero aposentou-se como vigilante da unidade de Marília da Central de Abastecimento, o popular Ceasa, vinculado à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
Ele exerceu a gerência do órgão, porém, tratava-se de função gratificada, por isso a aposentadoria foi modesta, com pouco mais de dois salários mínimos. É com esse recurso que sustenta a família.
Para garantir o orçamento doméstico, é Vera quem ajuda Cícero a controlar o cartão de aposentadoria. O subsídio de vereador de R$ 6.718,12 não entra em casa, conta a esposa.
“Isso é uma coisa dele, sempre foi assim. Passamos muita dificuldade no passado, então acho que é isso. Ele não sabe dizer não para as pessoas, ainda mais quando chega com uma necessidade”, conta a companheira.
A empatia não é por acaso. O vereador relata que vive no bairro desde que chegou a Marília, em 1979. Chegou para trabalhar na construção do Ceasa e acabou virando funcionário.
No Santa Antonieta, ele construiu sua vida. Mas quem passa pelas ruas e avenidas bem iluminadas do bairro não imagina como a região era há poucas décadas. O asfalto demorou a chegar e não havia água encanada em muitas casas.
Em várias residências, conta o ex-gerente do Ceasa, não havia coleta e o esgoto era depositado em fossas. Grande parte da população, sem mobilidade, vivendo distante do Centro e com poucos serviços públicos, como saúde e educação, vivia na pobreza.
“A gente tinha que fazer alguma coisa. No Ceasa, trabalhando com alimentos e vendo as pessoas com dificuldade até para o básico, para se alimentar, não dava para ficar sem fazer nada. A igreja, os projetos, a comunidade. Foi muita luta”, conta Cícero.
O trabalho social, sem nenhuma pretensão política, foi feito durante anos. O futuro vice-prefeito de Marília conta que resistiu, inicialmente, à sugestão de amigos.
“Isso foi em 2012… Nunca tinha me visto como político. Quantos anos trabalhamos pela comunidade, sem nem pensar numa possibilidade dessa? Não passava pela minha cabeça. No começo daquele ano algumas pessoas me falaram, ‘sai que a gente te ajuda, vai dar certo’. Eu não acreditava”, revela.
A primeira eleição, com 2.897 votos, foi uma surpresa para muita gente. “Eu não tinha experiência nenhuma, não sabia como as coisas funcionavam. E além disso, as nossas posições sobre a cidade, a política que ainda era feita em Marília, nos colocaram na oposição ao grupo que mandava na cidade”, relata.
Ele menciona gratidão, especialmente, aos vereadores Mário Coraíni (PTB), Wilson Damasceno (PSDB) e Luiz Eduardo Nardi (Podemos) – que apesar de adversário político, considera um “homem inteligente”, que colabora com a causa pública.
A dobradinha com Daniel Alonso (PSDB) surgiu, acredita, da necessidade do prefeito ter um nome popular ao seu lado. “Foi uma sugestão de pessoas da política, de gente que conhece nossa luta social, de empresários, das igrejas, independente de qual religião. Foi uma indicação para compor, para fortalecer a campanha”, disse.
Cícero revelou ao Marília Notícia que, desde o final de 2019, já tinha certeza que não seria mais vereador em 2021. Em meados desse ano, os planos dele era alugar a casa e mudar-se para o Mato Grosso, onde vive um dos filhos.
“Ia embora de Marília com minha família. Eu amo essa cidade, mas desde que minha esposa e eu capotamos o carro – acidente em 2018 no MT – mudamos um pouco o jeito de pensar a vida, as prioridades. Já aposentado, eu estava pensando seriamente nessa mudança”, revela.
Agora, vice-prefeito eleito, ele tem pelo menos um bom motivo para permanecer na cidade. O que Cícero mais espera é levar seu gabinete itinerante para as periferias e locais de grande concentração.
Reivindicar atenção do Poder Público aos mais pobres, o que sabe fazer melhor – sem fazer oposição dentro do próprio governo – é o que ele espera.
“Estou reprogramando meu cérebro, depois de dois mandatos de vereador. Não vou fiscalizar o Daniel, pra isso tem a Câmara. Vou ajudar o prefeito e exercer o que a Constituição manda, mas vou ser a voz daqueles que mais precisam dos serviços públicos, da presença da Prefeitura”, promete o ex-gerente do Ceasa.