“Não é uma simples gripe”, diz mariliense com coronavírus
O mariliense Marcelo Rodrigues, de 38 anos, foi contaminado pelo novo coronavírus na Islândia, onde cumpria um contrato de trabalho por três meses.
O país, que tem pouco mais de 364 mil habitantes, já conta 802 infectados e duas mortes em decorrência da Covid-19, doença causada pelo vírus.
Marcelo é chef de cozinha e mora na Europa há 17 anos – o Marília Notícia inclusive já contou sua trajetória.
“Moro na Espanha desde outubro de 2008. Estive uns meses de férias no Brasil e no dia 5 de fevereiro vim para a Islândia para um contrato que deveria cumprir até 25 de abril como líder de equipe cobrindo férias de outro chef. Em maio, voltaria para a Espanha para o meu antigo contrato de trabalho”, contou Rodrigues ao MN.
De acordo com o chef, a pandemia já ocorria na Europa quando ele voltou das férias, no entanto não havia caso confirmado na Islândia.
O mariliense enfrentou problemas ao passar pelo aeroporto de Londres, na Inglaterra. “Eu tive problema no aeroporto de Londres porque eles são mais rigorosos, precisei passar por inspeção e me obrigaram a usar álcool nas mãos, medidas preventivas ao coronavírus”, falou.
Sintomas e diagnóstico
Marcelo contou que no último dia 18 de março trabalhou normalmente. Ao chegar em casa começou a sentir dor de garganta e um gosto amargo na boca.
Dois funcionários do restaurante já haviam sido afastados com sintomas de dor de cabeça, suor intenso, diarreia, febre e tosse.
“Na quinta [dia 19] quando levantei, estava com a garganta bem ruim, não consegui dormir a noite, comecei a suar e tive uma leve dor de cabeça. Já mandei uma mensagem avisando que iria no médico e que não trabalharia”, disse Marcelo.
Para ir até os hospitais na Islândia, o chef relata que é necessário ligar em um número de informação prévia.
“As pessoas estão proibidas de ir direto nos hospitais. As portas estão fechadas e os hospitais não atendem se você chegar lá diretamente. Eles tem placas dizendo para respeitar as pessoas que estão vulneráveis. A triagem é feita pelo telefone e eles te encaminham para uma clínica para fazer o teste. Depois disso te orientam a não aparecer no hospital sem máscara e sem luva”, explicou.
Como estava se sentindo mal, Rodrigues fez todo este procedimento e passou pelo atendimento médico. Foi necessário fazer o teste para coronavírus e o especialista recomendou que ele fosse para casa e não saísse até ter o resultado do exame.
“Nesse mesmo dia a noite recebi uma ligação telefônica, porque aqui eles ligam para o paciente, e me falaram que o exame era positivo para coronavírus”.
Conforme o relato do chef, de quinta (19) para sexta-feira (20) começaram os sintomas como dores por todo o corpo, além da perda do olfato e do paladar provocados pela coriza.
“Na sexta-feira o médico me ligou e eu perguntei se iam me passar medicações. Ele disse que não há remédio. A única coisa que iriam receitar era paracetamol para a febre e dor de cabeça. Comentei que tinha dores no peito e catarro. Ele falou para tomar muito líquido e suco de goiaba para aumentar a resistência”, explicou.
“Parece que o vírus está andando pelo teu corpo. Cada dia você sente uma coisa. Aconteceu tudo muito rápido. Não é apenas uma simples gripe, acho que uma pessoa mais velha não aguentaria tudo que eu senti nesses dias. Essa doença parece desde o início uma pneumonia média para forte”, destacou o chef.
Medo
Marcelo contou que o apartamento em que mora é bem no Centro da capital da Islândia, Reykjavik.
“Eu estava muito preocupado em contaminar meus vizinhos. Um amigo me emprestou outro apartamento onde estou agora, em uma cidade que fica uns cinco quilômetros da Capital. Estou sozinho, completamente isolado, tenho amigos e é nessa hora que a gente vê que as pessoas estão dispostas a ajudar. Os amigos vem me trazer mantimentos e compram os meus remédios”, falou.
O chef disse que por enquanto não pensa em voltar para a Espanha. “Meu patrão tem novos projetos, então vou poder continuar aqui”.
Sistema do Governo
Rodrigues revelou à reportagem que o pagamento de água está isento neste período no país. Além disso, no momento em que a pessoa entra para o banco de dados dos infectados e não pode trabalhar, recebe um e-mail.
“Entramos na página do governo daqui e preenchemos os dados como uma pessoa infectada pelo coronavírus. Recebemos 80% do salário devido ao afastamento. No meu restaurante somos três, quando tem um infectado a empresa pode fechar. Dos funcionários até o patrão há um benefício do governo. Eu, por exemplo, estou em isolamento porque tive diagnóstico positivo. Mas os outros funcionários do restaurante estão em quarentena e também estão recebendo”, explicou.
O sistema de saúde da Islândia faz com que médicos ou enfermeiros liguem três vezes por dia para saber como está a recuperação do paciente e prestar todo o auxílio.
Também são disponibilizados cinco números exclusivamente para os pacientes com coronavírus ligarem e todo o sistema de receituário entre médico e farmácia é digital.
“O sistema aqui está sendo muito bom. Com o número do meu RG, daqui da Islândia, meus amigos vão na farmácia por mim, dizem o RG e a farmácia já tem no sistema a medicação que o médico prescreveu para eu tomar”.
“O país está funcionando ainda, o aeroporto está aberto e pode ser fechado a partir da semana que vem. A Islândia está vivendo, não está inteira em isolamento. Por enquanto as empresas que estão fechando são bares, restaurantes e aquelas que tem algum infectado. O Governo está facilitando a vida de quem precisa estar em quarentena. Quando a pessoa é residente e volta do exterior vai para quarentena e recebe 15 dias do governo”, finalizou Rodrigues.