Nadal cai na estreia em Roland Garros e pondera seu futuro no tênis
“Não tenho o ego tão grande para querer uma homenagem hoje. Queria entrar na quadra. Haverá tempo para homenagens.” Assim Rafael Nadal encerrou sua entrevista após a eliminação na primeira rodada do Aberto da França, nesta segunda-feira (27), em um jogo que levou muitos torcedores a enxugar lágrimas na quadra central de Roland Garros.
A derrota por 3 sets a 0 (6/3, 7/6 e 6/3) para o alemão Alexander Zverev, número 4 do mundo, representou a pior das 19 participações do espanhol em Roland Garros, onde ele foi campeão 14 vezes e tem até estátua.
Nos últimos dois anos, uma cirurgia no tornozelo esquerdo e outra no quadril impediram Nadal de repetir os resultados do passado. A uma semana de completar 38 anos, ele vive o dilema de continuar jogando ou não. Diante das insistentes perguntas dos repórteres, garantiu que ainda não decidiu pendurar a raquete.
“Juro que não estou enganando vocês. As coisas não são branco ou preto. Há tons de cinza e diferentes cores. É por isso que não estou dizendo agora que vou me aposentar. Não quero pensar daqui a um ano, um ano e meio, que não dei a mim mesmo essa oportunidade. Gosto de treinar. Gosto de jogar. Gosto de viajar com minha família. Se eu estou me sentindo bem e gosto, posso continuar por algum tempo”, afirmou.
“É uma sensação estranha estar em Roland Garros e não ser favorito. Para mim, é duro chegar aos torneios sem chances de ganhar”, acrescentou o espanhol. Ele disse ter ficado “destruído mentalmente” com as lesões no início da temporada, que o impediram de participar do primeiro Grand Slam do ano, o Aberto da Austrália.
Nadal confirmou que disputará o torneio de tênis dos Jogos Olímpicos de Paris, daqui a dois meses, no mesmo complexo de Roland Garros. Mas deu a entender que não jogará o próximo Grand Slam, em Wimbledon, dentro de um mês, que é disputado na grama. Nadal é especialista do saibro, o piso de Roland Garros, mais lento. “Não seria inteligente fazer uma grande transição, para uma superfície completamente diferente, e depois voltar para a Olimpíada.”
Nadal esperava pegar um adversário mais fácil na primeira rodada e melhorar fisicamente dia a dia até recuperar a melhor forma. Como seu ranking atual (275º do mundo) não lhe permitia ser cabeça de chave, o acaso do sorteio o colocou diante daquele que é, talvez, o tenista em melhor forma no circuito, campeão do Aberto de Roma, em quadra de saibro, na semana passada.
As limitações físicas de Nadal foram evidenciadas no saque. Sem poder se movimentar como antes, o espanhol só conseguiu sacar a 183,5 km/h, em média, contra 202,1 km/h de Zverev. Com isso, virou presa fácil para as devoluções poderosas do alemão.
Nadal mostrou lampejos de seu melhor tênis, chegando a sacar para fechar o segundo set. Nem o apoio da torcida, porém, adiantou diante de um adversário confiante, que fechou os últimos pontos com uma série de poderosos golpes cruzados de revés.
“Eu tive minhas chances”, analisou Nadal. “Joguei em um bom nível. Estou decepcionado por ter perdido, mas feliz por ter me sentido bem. Pelo menos, voltei. Se é a última vez, fico em paz comigo mesmo.”
Zverev, por sua vez, reverenciou o derrotado. “Não sei o que dizer. A hora não é minha, é de Rafa.” Mas para ele também havia um motivo para se emocionar. Foi exatamente na mesma quadra, a central de Roland Garros, e exatamente contra Nadal, que o alemão sofreu a lesão mais grave de sua carreira, na semifinal de Roland Garros de 2022: um assustador rompimento dos ligamentos do tornozelo direito, que o afastou das quadras por seis meses.
Em outra partida pela primeira rodada do Grand Slam francês, o brasileiro Gustavo Heide foi eliminado pelo número 20 do mundo, o argentino Sebastián Báez, por 3 sets a 2 (4/6, 6/3, 6/1, 4/6 e 6/3). Em sua primeira participação no torneio, o paulistano de 22 anos chegou a liderar o último set, mas a inexperiência pesou nos momentos decisivos.
Terminado o jogo, ele foi mais um a reverenciar o maior campeão do saibro francês. “Estar no mesmo torneio que Nadal, ver essa máquina treinando, serve de motivação para a gente”, disse Heide, que tinha três anos quando o espanhol foi campeão de Roland Garros pela primeira vez.
***
POR ANDRÉ FONTENELLE