Músicos de Marília relatam sufoco e saudades dos palcos na pandemia
É quase um ano sem fazer, com o mesmo espaço e tranquilidade, o que mais gosta. Diferente de muitas ocupações, exercidas primeiramente pela necessidade de um salário, a arte da música como trabalho, exige dose extra de ousadia, paixão e talento.
A pandemia afastou profissionais dos palcos e tirou renda de quem vive da música. Em Marília bandas tradicionais, músicos de longa estrada ou artistas que estão despontando, tiveram que parar. Para a maioria, praticamente não existem alternativas.
Marlu Romero e Benê Vieira (conhecidos pela Banda Fama Trio) fizeram o último evento no dia 14 de março de 2020. Desde então cantaram um para o outro – são casados –, para familiares, para os amigos e fãs da boa música, em algumas interações pela internet.
Profissionalmente, porém, o público deles sempre esteve nos salões de festas. A banda é reconhecida pelas formaturas, eventos corporativos, casamentos, entre outras aglomerações dançantes.
“Há praticamente um ano ‘tiraram’ o nosso trabalho e o prazer em cantar. Isso tem feito muita falta. Do ponto de vista econômico temos um respaldo dentro de casa, na família. O auxílio emergencial foi de extrema valia, mas queremos e precisamos muito trabalhar”, disse Marlu.
Fazer live, conta ela, é “bacana, mas nunca será igual a um palco, diante do público.”
Marlu – que é declaradamente antivacina e acredita na profilaxia contra o Covid-19 – afirma que as pessoas já estão orientadas sobre o perigo do coronavírus. Também já sabem se prevenir à contaminação. Por isso, defende, que as atividades culturais deveriam ser liberadas, preservando-se as pessoas com comorbidades e os mais vulneráveis.
Dupla jornada
Com o reconhecimento em Marília, região e até em programas de auditório em rede nacional, os músicos do KN4 tiveram que parar em ‘péssima hora’. Três meses antes da pandemia, os marilienses haviam sido premiados em um popular programa de TV.
Por concentrar jornada à noite e finais de semana, o trabalho como músico pode ser conciliado com outras ocupações. É o caso do vocalista e instrumentista da banda, Kleber Sá. Ele é motorista a serviço da Saúde Municipal, no programa Estratégia Saúde da Família.
Ele conta que trabalha com música há 15 anos. “Quando veio a pandemia, fazíamos de 15 a 20 shows por mês. Foi um baque muito grande, em todos os sentidos, muito complicado”, relata.
Além da satisfação pessoal no segundo emprego, a renda obtida com o trabalho artístico já representava metade do orçamento mensal de Kléber, que felizmente continuou trabalhando como motorista da Saúde.
Os cachês compartilhados entre os integrantes do KN4 faziam a diferença para várias famílias. Mas o sonho de viver exclusivamente da música sumiu do horizonte, ou pelo menos, teve que ser adiado.
“Vamos esperar, não há o que fazer. Durante a pandemia fizemos algumas lives, mas foi para arrecadar alimentos e ajudar algumas pessoas. Não ganhamos nada das plataformas. Para a internet remunerar artistas, só com milhões de seguidores”, afirma.
Durante a pandemia, principalmente no segundo semestre do ano passado, os artistas foram beneficiados pela lei Aldir Blanc de auxílio emergencial.
Os editais e subsídio representaram importante auxílio para o setor cultural. Marília recebeu e destinou a artistas profissionais R$ 623,5 mil do edital de ações emergenciais e mais R$ 921 mil para projetos apresentados por Espaços Culturais – coletivos.