Mulheres trabalhadoras são as mais afetadas e buscam auxílio
O Dia do Trabalho, em meio à pandemia do coronavírus, é marcado pela esperança de dias melhores. O horizonte segue desfocado, quase uma vertigem, mas pode ser visto até nas longas filas das últimas semanas, em frente às agências da Caixa Econômica Federal.
Em Marília o último dia útil de abril teve fila de até quatro horas sob sol forte. No horário de pico, trabalhadores, pessoas sem renda e beneficiários de programas sociais, como Bolsa Família, compartilharam a espera ao longo de mais de 180 metros.
Por volta das 15h, a reportagem do Marília Notícia encontrou muitas mulheres, a maioria mães e arrimo de família, trabalhadoras em serviços historicamente remunerados abaixo das necessidades básicas, à espera de ajuda governamental e direitos essenciais.
Entre elas, a lavradora Nayara Mendes de Oliveira, de 25 anos, moradora em Ocauçu (distante 42 quilômetros de Marília), que precisou vir a Marília para fazer o saque usando seu RG. “Na lotérica só consigo sacar com o cartão (bolsa família), mas estou sem e enquanto não pego o novo, tenho que vir na agência”, relata.
Ela esperava receber o auxílio emergencial de R$ 1,2 mil, por ser mãe chefe de família e beneficiária do programa social. Por falta de ônibus, Nayara pagou para uma viagem compartilhada, uma espécie de “Uber mais que informal”, comum nas cidades da região.
A trabalhadora rural diz que a atividade – colheita de mandioca – no campo também começa a ser impactada pelo novo coronavírus. “Estão falando (colegas de serviço) que o serviço vai parar. Mesmo com todo mundo de máscara e tomando os cuidados, usamos ônibus e não vai poder por causa do risco da doença”, afirma.
Dificuldades também para trabalhadores que perderam o emprego. Com sombrinha e água mineral, Maria Izabel de Almeida Meira, de 38 anos, enfrentou cerca de quatro horas de fila. O mais próximo que conseguiu chegar da Caixa, às 11h30, foi na avenida Nelson Spielmann.
Só pisou na avenida das Indústrias às 15h e foi atendida 20 minutos depois. Ela tem uma “conta digital” em uma casa lotérica para receber o salário. O emprego durou pouco, cerca de um mês. Izabel tem saldo a receber, mas só pode sacar na agência.
“Fui chamada para cobrir uma funcionária afastada por conta da pandemia. Mas durou só um mês. Vou ver também essa questão do auxílio emergencial, para tentar pegar os próximos meses, porque agora estou sem trabalho. Não está fácil para ninguém”, constata.
Caixa Tem
A dona de casa Silvely dos Santos, de 51 anos, foi uma das dezenas de pessoas que procuraram a agência porque o aplicativo do auxílio emergencial (Caixa Tem) não gerou o código que ela necessita para fazer o saque nos terminais automáticos. O erro tem sido relatado por muitos usuários.
“Meu marido está empregado em uma fábrica de doces, mas está há dois meses sem trabalhar, entre férias e afastamento. Ninguém sabe o que vai acontecer. Temos filhos e o gasto é grande. Precisamos desse dinheiro porque, senão, não dá para suportar todas as despesas”, afirma.
Em frente a porta da agência, uma bancária com luvas e viseira, que mais lembra uma profissional de saúde, dá as instruções aos usuários. A entrada é controlada rigorosamente, inclusive para operações nos caixas eletrônicos.
A maioria das pessoas tem procurado a agência para resolver problemas relativos ao auxílio emergencial. O aplicativo Caixa Tem gera um código, que permite ao beneficiário fazer saque em terminais de autoatendimento ou lotéricas em até duas horas.
Porém, um erro no sistema deixou muita gente sem o código, como é o caso de Silvely. O aplicativo é exclusivo para beneficiários da Poupança Social Digital, criada para liberar recursos do auxílio a quem não tem conta em banco.
Beneficiários do Bolsa Família, correntistas com conta-poupança na Caixa ou clientes de outros bancos não precisam do App Caixa Tem para receber o dinheiro.
O MN reiterou pedido, mas a Caixa ainda não informou o total de benefícios pagos ou previstos para pagamento em Marília.