Moradores de Marília lutam para trazer familiares do Líbano para o Brasil
O agravamento do conflito entre Israel e o Líbano tem gerado grande preocupação entre moradores de Marília com familiares nas áreas afetadas. A comunidade libanesa local, marcada por fortes vínculos com o país de origem, enfrenta momentos de angústia ao tentar trazer parentes para o Brasil.
Na manhã desta terça-feira (15), sob o som de drones, moradores de Beirute se preparam para próximo bombardeio de Israel. Pouco antes do meio-dia lá, drones de Israel voltaram a sobrevoar a cidade, após 48 horas de trégua.
Os bombardeios israelenses já deixaram um rastro de mortes e destruição, atingindo também civis em regiões como Beirute, cenário que alarma quem tem laços com a região.
O comerciante Wessan Sakbani, que hoje mora em Marília, conta que um dos prédios já atingidos pelos mísseis nesta guerra está há cerca de 10 minutos de caminhada de sua casa no Líbano. Ele afirma que conhecia várias pessoas que moravam no local e está desesperado com toda a situação vivida em Beirute.
“É desesperador. Quando saiu a notícia, larguei tudo e comecei a ligar e mandar mensagem. O pessoal não respondia, pois estava com falta de internet. Eu queria tentar contato e tem gente até hoje que não me respondeu ainda. Teve um prédio destruído que ficava muito perto da minha casa no Líbano. Convivi mais da metade da minha vida com eles. Morreram 20 pessoas e 17 foram internadas em estado grave. E não havia ninguém do Hezbollah neste prédio”, afirma Wessan Sakbani.
Além do temor pelos que ainda estão no Líbano, muitos descendentes de libaneses e palestinos enfrentam barreiras burocráticas para conseguir trazer seus parentes ao Brasil. O médico Feres Abrão é descendente direto de palestinos. Ele conta que o Brasil é um dos destinos preferidos dos imigrantes, por encontrar um clima de amizade e acolhimento.
“O presidente está tentando acertar isso, mas é um absurdo você não conseguir trazer seus parentes para cá. Como pode, você querer trazer sua família e não arrumar um documento que possa facilitar a vinda dessas pessoas que só querem fugir da guerra? É uma dificuldade política e de interesse do sistema capitalista”, diz o médico radicado em Marília.
O governo brasileiro afirma que tem feito esforços para repatriar pessoas das áreas de conflito, mas as comunidades sírio, libanesa e palestina cobram do governo a emissão de um passaporte humanitário para agilizar o retorno deles, assim como aconteceu com os venezuelanos.
Em oito dias, 1.105 brasileiros e 14 animais de estimação foram resgatados do Líbano durante a operação Raízes do Cedro, coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB). O quinto voo pousou às 6h06 desta segunda-feira (14), em Guarulhos.
Presidente da ONG Abuna, que recebe e acolhe imigrantes, José Prado tem ajudado várias pessoas a se estabelecerem no Brasil. A organização ajuda na integração dos imigrantes ao Brasil, com aulas de português e ajuda na obtenção de documentos.
“O Brasil tem uma tradição humanitária muito reconhecida, mas infelizmente, nos últimos anos, isso não tem sido colocado em prática. Desde que Israel começou a bombardear Gaza, não foi criado um visto humanitário para os palestinos. Muitos poderiam vir e sobreviver. Não precisavam ter morrido em Gaza. Era preciso criar um visto humanitário para os palestinos, assim como queremos que sejam criados para os libaneses. Senão vai acontecer a mesma coisa. A população libanesa está sofrendo muito”, afirma Prazo.
O primeiro grupo com 229 pessoas repatriadas do Líbano chegou ao destino final em solo brasileiro no dia 6 de outubro em Guarulhos. A chegada foi acompanhada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na Base Aérea de São Paulo. O voo priorizou mulheres, idosos e crianças, dez delas de colo.
Cerca de três mil brasileiros já pediram repatriação ao governo brasileiro, que criou a Operação Raízes do Cedro. O comando da operação está a cargo dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Cerca de 21 mil brasileiros vivem atualmente no Líbano. Hoje, com mais de mil resgatados, operação de resgate deve se tornar a maior na história do Brasil.
A guerra matou 1.600 pessoas em solo libanês só nas últimas três semanas. Entre os mortos nos bombardeios estão dois adolescentes brasileiros.