Moeda comum não acabaria com o real e o peso argentino
O anúncio de uma nova moeda – o Brasil sugeriu o nome “sur” – levantou dúvidas, gerou ruídos nas redes sociais e até virou fake news.
O jornal O Estado de S. Paulo reuniu as principais perguntas e respostas em relação à moeda comum sul-americana.
Como deve funcionar a moeda comum?
Lula e Fernández assinaram um artigo publicado no último domingo, 22, no jornal argentino Perfil, declarando que irão avançar nos estudos para a criação de uma moeda sul-americana comum para transações comerciais e financeiras, “reduzindo custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa”, escreveram.
A medida foi formalizada nesta segunda-feira, pelo presidente Lula, em memorando de entendimento com o governo argentino. O documento traz a criação de um grupo de trabalho para viabilizar nos próximos anos a implementação da moeda comum, visando fortalecer as exportações brasileiras ao país vizinho. Este grupo de trabalho deve direcionar questões sobre o eventual funcionamento da moeda comum.
No mesmo projeto, haverá estudos para o lançamento de linhas de crédito de bancos privados e públicos para que importadores argentinos comprem produtos brasileiros.
Segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o anúncio deve abandonar o nome “moeda comum” e se referir ao projeto como unidade de conta sul-americana, para diminuir ruídos.
O real irá acabar se a moeda comum sul-americana for criada? E o peso argentino?
Uma eventual moeda comum, nos moldes em que tem sido discutida, não acabaria com o real nem com o peso.
Diferentemente do euro, que é a moeda em circulação em vários países da União Europeia, esta moeda comum seria formatada para o propósito específico de ser usada em transações comerciais e financeiras entre os países, para que haja uma menor dependência do dólar.
As moedas nacionais seguiriam as mesmas: o Brasil com o real e a Argentina com o peso.
Qual o objetivo da criação de uma moeda comum sul-americana?
A Argentina é um importante parceiro comercial do Brasil, mas as trocas comerciais entre os países regrediram, sobretudo diante da crise econômica no país vizinho.
O diagnóstico do governo Lula é que o comércio entre o Brasil e a Argentina teve uma “derrocada monstruosa” e essa perda de participação do Brasil foi ocupada pela China. Na avaliação do governo, a China conseguiu aumentar as vendas para os argentinos e ocupar espaço dos exportadores brasileiros.
“[A importação da Argentina] está muito ruim e o problema é exatamente a divisa, né? Isso que a gente tá quebrando a cabeça para encontrar uma solução”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao chegar ao hotel em que ele e Lula ficarão hospedados até a manhã de quarta-feira em Buenos Aires.
A criação da moeda comum, portanto, seria uma medida visando elevar as exportações brasileiras para a Argentina.
A ideia de uma moeda comum na América do Sul é nova?
A ideia da adoção de uma moeda comum ou até uma moeda única (são conceitos diferentes) para os países da região já surgiu algumas vezes antes.
No ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, escreveram um artigo propondo o uso de uma moeda comum no comércio sul-americano para impulsionar a integração na região e fortalecer a soberania monetária dos países do continente.
Já o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a criação de uma moeda única para toda a América Latina.
A moeda comum seria implantada imediatamente?
A implantação da moeda comum sul-americana não seria para agora, mas sim para daqui a alguns anos. O plano seria começar com Brasil e Argentina e eventualmente estender o mecanismo para os países da região.
Neste domingo, o britânico Financial Times publicou reportagem na qual o ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, fala em estudos sobre uma moeda comum com definição de papéis dos bancos centrais. Massa afirmou ao veículo que serão estudados os parâmetros necessários para uma moeda comum, mas que é o primeiro passo de um longo caminho a trilhar.
Segundo o jornal, o movimento pode eventualmente criar a segunda maior moeda de um bloco econômico do mundo.