‘Minha Mãe É Uma Peça 2’ entra para história do cinema
Por Luiz Zanin Oricchio – Estadão Conteúdo
Ao fechar sua quarta semana de exibição com 6.580.458 espectadores (dados do Portal Filme B), Minha Mãe É Uma Peça 2 entra na história dos grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro.
Desde que os dados são contabilizados, pelo antigo Concine, e agora pela Ancine, fica atrás apenas de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), com 10.735.305, e Tropa de Elite 2 (2010), com 11.204.815
Seria também superado por Os Dez Mandamentos (2016), com 11.215 000, caso esses números fossem confiáveis. Neste último caso, há que se colocar um asterisco, como se faz nas tabelas esportivas quando existe a possibilidade de tapetão.
Tudo indica que, no caso de Os Dez Mandamentos, houve compra em massa de ingressos pelas igrejas evangélicas, depois distribuídos aos fiéis, que nem sempre os aproveitaram.
Produziu-se então o fenômeno de “o maior sucesso de bilheteria nacional de todos os tempos” ser exibido em salas muitas vezes vazias ou com lotação pela metade. Os historiadores do futuro terão de matar essa charada para colocar o filme bíblico em seu devido lugar na numerologia cinematográfica nacional.
Já as cifras de Minha Mãe É Uma Peça 2 estão acima de qualquer suspeita. Tem de fato lotado cinemas e mostra média de 694 espectadores por sala, alta após um mês de exibição.
Caiu 32% em relação à semana anterior, o que levanta dúvidas sobre até onde deve chegar. Pode atingir 8 milhões, e seus distribuidores mantinham a esperança de tocar a cifra mágica de 10 milhões.
Vamos ver porque ainda tem fôlego para atropelar números. E vem aí a terceira parte do que já podemos considerar uma franquia, com a mãe maluquete agora aprontando suas confusões em Nova York
Do ponto de vista cinematográfico, Minha Mãe É Uma Peça 2 é uma evolução em relação ao primeiro da série, que fez 4,6 milhões de espectadores. Dona Hermínia (Paulo Gustavo) agora é apresentadora de TV e mantém sua relação complicada com os filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo).
O fato de dona Hermínia não aceitar que o filho se torne heterossexual é uma curiosa inversão de preconceito de gênero, o que produz efeito cômico.
Estes efeitos se repetem ao longo da história, pontuada pelos bons diálogos (melhor seria dizer monólogos) ditos de modo rápido por Gustavo. Ele é tão bom cômico que logo nos esquecemos de que se trata de um homem interpretando essa mãe tão pouco convencional, desbocada e com o cabelo enrolado em bóbis.
A fotografia é aquele desastre habitual das comédias nacionais com sua estética dos antigos comerciais de margarina – coloridinha, óbvia, sem sombras, sem matizes. Mas, em compensação, o ritmo é bom, o roteiro razoavelmente engenhoso, embora ceda aqui e ali ao efeito fácil do palavrão que, em aparência, ainda tem efeito catártico sobre o brasileiro, sendo essa uma pequena transgressão partilhada por todos na sala escura.
O mais importante: a comédia tem ritmo, condição indispensável para o gênero. Muito candidato a diretor de comédias faria bem ao assistir a essa, sem preconceitos, para constatar a importância do timing na comunicação cômica com a plateia.
Vi o filme não numa sessão de críticos, mas com o público normal, numa sessão das 20h, em sala com ¾ da lotação.
Posso testemunhar que Minha Mãe É Uma Peça 2 apresenta aquela característica indiscutível da boa comédia de unir o público nesse rito comum e contagiante do riso desopilante. Se é bom ou mau cinema é outra história. Mas que diverte e faz rir, ninguém discute.