Mesmo proibidos, pods são vendidos livremente
Embora proibida, a venda de cigarros eletrônicos – em modelos e formatos diversos – acontece livremente em tabacarias, adegas e no camelódromo de Marília. A adesão é grande entre os jovens, por isso educadores e profissionais de saúde têm alertado para os malefícios deste tipo de produto.
O Marília Notícia registrou o livre comércio dos chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), que incluem uma gama de apetrechos, com substâncias nocivas à saúde (veja o vídeo abaixo).
A fabricação, comércio e propaganda no Brasil são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a mercadoria chega no país através de contrabandistas.
Criados em 2003, os produtos já tiveram várias gerações. No início eram apenas os descartáveis (de uso único), mas depois surgiram os recarregáveis, que estão cada vez mais tecnológicos.
Com refis líquidos, aparência de um pen drive, em sua maioria, os aparelhos têm cargas recarregáveis de propilenoglicol, glicerina, nicotina e flavorizantes. Os mais tecnológicos – feitos para durar – são chamados de “pods”, que contêm sais de nicotina e outras substâncias diluídas.
A ideia de que cigarros eletrônicos possam ser menos nocivos e reguláveis – utilizados para quem deseja parar de fumar – serve de pretexto para uma indústria global que tenta reduzir a má-fama dos fumígenos, acumulada nas últimas décadas.
O jovem é que está sendo alvo, como deixa evidente a publicidade no rótulo de uma embalagem, onde uma mulher com aspecto saudável não economiza fumaça.
Em uma das barracas do camelódromo, onde a reportagem do MN esteve, a jovem que atende o balcão afirma que o produto é novidade. Apesar de proibido, a exposição é facilmente notada em um dos corredores, logo na entrada do centro de compras.
Em uma tabacaria, um vendedor explica como os dispositivos funcionam e revela as diferenças. O produto começa entre os mais básicos, que custam a partir de R$ 40 (descartável), passando pelos eletrônicos (os pods), a partir de R$ 150, e avançam entre os chamados vapes mais elaborados, ou “narguilé de mão”, para quem deseja fazer muita fumaça.
REAÇÃO
O supervisor da Vigilância Sanitária em Marília, Luciano Vilela, explica que as tabacarias não sofrem fiscalizações em rotina como, por exemplo, restaurantes. “A menos que o estabelecimento tenha um lugar para o consumo no próprio local, o que já é o caso de algumas grandes cidades”, explica.
Assim, mesmo com a proibição da Anvisa, não compete ao órgão municipal, segundo Vilela, autuar este tipo de estabelecimento. “É caso de polícia. Se a pessoa está vendendo um produto proibido no Brasil, é porque adquiriu ilegalmente. Ou apresenta a nota ou está cometendo um crime”, diz.
Embora relatos do uso sejam mais comuns em ambientes privados – como baladas e festas em chácaras -, a preocupação já começa a mobilizar educadores.
A diretora escolar Marta Sueli da Silva, responsável por uma instituição que inclui Ensino Médio em Marília, relata que a escola não registrou nenhum tipo de incidente entre seus alunos, mas por ter tomado conhecimento da difusão dos produtos entre jovens, resolveu agir preventivamente.
“Em novembro, uma das edições do ‘Falando com pais’ [blog que publica textos direcionados às famílias] abordou esse tema. Explicamos que esse tipo de dispositivo, apresentado em formatos modernos, sob pretexto de não fazerem mal, além de serem nocivos são ilegais”, alerta.
Eledir Leonardo, diretor em outra escola particular em Marília, afirma que já tomou conhecimento de estudantes tentando fazer uso de cigarros eletrônicos, em outras cidades. Em Marília, especialmente na escola que dirige, não houve casos.
“É muito importante mostramos as consequências ruins disso. A informação é especialmente importante para os pais”, destaca.
SAÚDE
Um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) – divulgado em maio – aponta para os riscos de iniciação ao consumo de cigarros a partir do uso de cigarros eletrônicos.
O artigo, feito por pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto, foi aceito para publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
“O uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro”, segundo coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, a médica epidemiologista Liz Almeida.
Os cigarros eletrônicos expõem o organismo a uma variedade de elementos químicos gerados de formas diferentes.
Uma pelo próprio dispositivo (nanopartículas de metal). A segunda tem relação direta com o processo de aquecimento ou vaporização, já que alguns produtos contidos no vapor de cigarros eletrônicos incluem carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas, potencialmente causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares.