Mercado teme recessão nos EUA sabendo que ajuda do BC será mais seletiva, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira (12) que os mercados amplificam a repercussão de uma eventual recessão nos EUA sabendo que bancos centrais ao redor do mundo serão seletivos para atuar durante dificuldades econômicas.
“O mercado começou a entender que a barra para socorro por parte do BC ficou muito mais alta. Governos estão endividados e espaço fiscal é muito menor”, disse, durante inauguração de novo campus da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.
A possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos preocupa investidores desde o início do mês, quando a maior economia do mundo liberou dados mais fracos do que o esperado sobre o mercado de trabalho.
Nos dois dias seguintes à divulgação, as ações americanas caíram cerca de 5% e o dólar perdeu força ante outras divisas. O índice Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, despencou 12,4%, a maior queda desde 1987.
Parte das movimentações já foram revertidas e a recessão não faz parte do cenário-base do Banco Central. Entretanto, inseguranças fazem com que a volatilidade ainda possa persistir por mais tempo, segundo Campos Neto.
“O fiscal dos países está bem pior do que era antes da pandemia, ou dez anos atrás. Depois, com esse movimento dos BCs comprarem muitos títulos, eles tiveram perdas muito grande nos balanços”, disse. “A taxa de juros está muito mais alta, então custa muito mais rolar essa dívida”.
Campos Neto, que termina seu mandato na autarquia no final do ano, afirmou que o BC manterá seu compromisso de fazer a inflação convergir para a meta independentemente de quem for presidente ou de quem for o mandato.
“Temos emitido mensagem inequívoca e consensual, isso está sedimentado”, afirmou.
O presidente do BC também disse que o país precisa “ganhar credibilidade” com compromissos nos âmbitos fiscal e monetário.
“Temos diferença grande entre previsão de mercado e compromisso do resultado primário. Tem muito exagero no que tem sido dito, mas o Brasil precisa fazer esforço extra no médio prazo para convencer que teremos convergência de dívida.”
No mesmo evento, o economista traçou panorama sobre impactos do aumento das importações chinesas.
“Resta a dúvida do que acontece se tivermos reações comerciais fortes dos EUA e Europa. Algumas estimativas de impacto sobre o PIB da China vão de 1% a 2,5% no PIB, o que tem forte implicação em preço de commodities e em economias emergentes, como o Brasil”, disse.
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POR LAURA INTRIERI