Menores mataram empresário e foram curtir ‘farra’ em Bauru
A Polícia Civil, através da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Marília, divulgou no final da tarde desta sexta-feira (8) que as investigações sobre a morte do empresário Jair Viveiros, de 63 anos, dono da boate Fênix Club, estão praticamente encerradas.
Para a conclusão resta apenas o recebimento de alguns laudos e a realização de algumas perícias, segundo o delegado Valdir Tramontini, que comanda a investigação.
“O crime foi cometido por três adolescentes, sendo um mais velho de 16 anos, completados na véspera do caso, um de idade intermediária de 15 anos e 10 meses, e um mais novo de 15 anos e 08 meses, não sendo constatada, até o presente momento, a participação de outros autores”, informou o delegado ao Marília Notícia.
Segundo a Tramontini, já haveria um possível relacionamento entre a vítima, que era homossexual, e o adolescente mais velho. Ainda de acordo o responsável pela DIG, no último dia 28 de fevereiro, um familiar do jovem de 16 anos teria visto mensagens com conteúdo íntimo trocadas entre Jair e o menor.
Aproveitando-se deste possível relacionamento, perto das 16h do último dia 2 de março, um sábado, o adolescente de 16 anos convidou os outros dois envolvidos para que fossem até a casa da vítima.
Após descerem de veículo de transporte contratado, nas proximidades de um supermercado, passaram a caminhar em direção da residência de Jair, que fica na rua dos Bagres, no Jardim Riviera, zona Norte de Marília.
Conforme esclarecimentos feitos pela Polícia Civil, o adolescente mais velho efetuou duas breves ligações para a vítima, solicitando a ela que abrisse o portão, pois já estava chegando, e assim foi feito.
“Com o acesso ao imóvel liberado, nele entraram apenas os dois adolescentes mais velhos, enquanto o mais novo permaneceu do lado de fora, provavelmente observando eventual aproximação de terceiros. Dentro da casa, a vítima foi atingida com golpes de faca, desferidos pelos dois adolescentes que lá ingressaram”, explicou o delegado Valdir Tramontini.
Com a vítima morta, o adolescente mais novo também entrou na casa e auxiliou os outros dois a enrolarem o corpo de Jair em um cobertor. O empresário foi colocado no porta malas de seu Ford Ecosport, estacionado na garagem.
Em seguida, por volta das 16h30, os três garotos deixaram o local com o veículo da vítima, sendo dirigido pelo adolescente mais velho.
Eles seguiram para Vera Cruz (cerca de 18 quilômetros de Marília), onde no final de uma estrada vicinal, que se inicia nas proximidades de um motel, seguiram até o final do asfalto, ingressando à direita em uma fazenda, por onde trafegaram por cerca de mais três quilômetros e em meio ao cafezal jogaram o corpo de Jair.
Com o corpo já no meio da plantação, os menores atearam fogo, provocando total carbonização.
‘FARRA’ EM BAURU
“Os três adolescentes foram para suas casas, trocaram de roupas, e algum tempo depois, seguiram no próprio veículo de Jair para Bauru, onde gastaram cerca de R$ 1.100,00 em dinheiro que haviam roubado da vítima com comidas, bebidas e maconha”, informou Tramontini.
Ainda de acordo com o delegado, os adolescentes retornaram para Marília apenas na madrugada seguinte, e antes de irem embora para suas casas, ainda compareceram em alguns locais.
O veículo Ford Ecosport foi localizado apenas no início da tarde do domingo, dia 3 de março, na Rua Floriano Soares de Araújo, no Parque das Vivendas, zona Oeste de Marília.
“Através de diligências realizadas por policias civis desta especializada, foi identificado e localizado o mais velho dos adolescentes, morador naquela região, o qual de pronto confessou sua participação no crime, indicando onde residiam os outros dois, e nos conduzindo até o local onde se encontrava o corpo de Jair, já totalmente carbonizado”, disse o delegado.
A faca utilizada no crime, com cerca de 12 centímetros de lâmina, foi apreendida por policiais no interior do veículo da vítima. Exame necroscópico indicou que o empresário faleceu pelo “choque hipovolêmico devido ferimentos pérfuro-cortantes”.
O adolescente mais velho foi apreendido no próprio dia 3. O de idade intermediária se entregou no dia 6 e o mais novo se apresentou ontem (7) na DIG.
“Todos confessaram envolvimento no crime, sem que, em qualquer momento, demonstrassem efetivo arrependimento”, disse Valdir Tramontini.
VERSÕES
Além de R$ 1.100,00 em dinheiro roubados, foram encontrados no carro uma televisão, um ferro de passar roupas, um aparelho de som e um notebook. Os criminosos alegaram que estes objetos já estavam anteriormente no automóvel.
“Embora já tivesse um possível relacionamento com Jair, o adolescente mais velho alegou que a vítima quis obrigar ele e outro menor a praticarem sexo juntos. Esta versão não foi confirmada por nenhum dos outros dois adolescentes” informou o delegado da DIG.
O adolescente mais velho ainda acusou o de idade intermediária de desferir os golpes de faca contra a vítima, mas este último relatou que os primeiro golpes foram realizados justamente pelo menor de 16 anos, e que ele “apenas terminou o serviço porque a vítima estava sofrendo”.
“Houve muitas divergências nas alegações dos três adolescentes, acerca dos motivos pelos quais foram à casa da vítima. Ouvimos sobre oferecimento de emprego, cobrança de dinheiro devido e até pegar dinheiro com um amigo. Tudo isso em evidente tentativa de negar a verdadeira motivação pela qual foram ao local dos fatos, ou seja, a prática de crime patrimonial”, afirma o responsável pela investigação.
Tramita pela Vara da Infância e Juventude de Marília procedimento para apuração da conduta dos adolescentes, em face de representação (semelhante a denúncia no caso de maiores) pela prática de atos infracionais de latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação/destruição de cadáver, com audiência já designada para o próximo dia 13 de março.
É JUSTO?
No comunicado divulgado pelo delegado titular da DIG, o questionamento final sobre a punição dos responsáveis chamou a atenção.
“Por fim, salienta-se que, em caso de comprovação da participação dos adolescentes em hediondo crime, nos termos do artigo 121 do E.C.A. ‘em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos’, restando perguntar, após, exaustivo trabalho de investigação, ‘é o justo?!’, finalizou Valdir Tramontini.