Médicos de Ourinhos enfrentam atraso de salários e cogitam paralisação

Os médicos que atuam na rede municipal de Saúde de Ourinhos enfrentam uma grave crise financeira em razão do atraso nos pagamentos pelos serviços prestados. Segundo os profissionais, os repasses estão em atraso desde outubro. Recentemente, foi pago apenas 50% do valor referente àquele mês, restando ainda os outros 50% de outubro, além dos pagamentos integrais de novembro e dezembro. A situação já gera insatisfação generalizada entre os médicos e levanta a possibilidade de paralisação dos atendimentos.
O problema foi confirmado por Edson Paz, representante da Associação Beneficente de Desenvolvimento Social e Cultural (Abedesc), entidade responsável pela gestão da saúde e pela contratação dos médicos no município. De acordo com ele, a instituição depende integralmente dos repasses da Prefeitura de Ourinhos para conseguir efetuar os pagamentos.
“Estamos aguardando ainda o repasse dos 50% restantes do mês de outubro dos médicos. Houve uma conversa de que seria feito, mas, até o presente momento, não aconteceu. A Prefeitura não disse que não vai pagar, apenas que está se organizando”, afirmou Edson Paz.
Segundo o representante da Abedesc, não foi possível informar o valor total do montante em atraso. Ele afirmou, no entanto, que há uma previsão, repassada pela Secretaria Municipal de Saúde, de que os valores referentes a novembro possam ser pagos no início do próximo ano. Já o pagamento de dezembro, conforme o cronograma habitual, estaria previsto para o dia 20 de janeiro. Mesmo assim, Edson Paz reconheceu que os atrasos já provocaram forte desgaste na relação com os profissionais.
“É uma instituição sem fins lucrativos, então dependemos 100% do repasse. Isso já gerou um desconforto grande com os médicos, e com razão, porque todo mundo tem compromissos para honrar”, disse.
Os impactos do atraso, segundo relatos dos próprios médicos, vão além do campo profissional e atingem diretamente a vida pessoal. Profissionais afirmam ter acumulado multas por atraso no pagamento de parcelas de imóveis, faturas de cartão de crédito e até dificuldades para arcar com despesas básicas. Uma médica relatou que teve o carro apreendido por falta de pagamento.
“Levaram meu carro por falta de pagamento. Eu estava contando com o dinheiro, que está em atraso desde outubro. Quem vai resolver essa situação para mim agora? Acham que médico é rico e que não precisa receber. Vocês têm noção do que é levarem seu carro? É lamentável a situação que estamos vivendo”, desabafou.
Outro médico classificou a situação como “vergonhosa” e afirmou que a maior parte de sua renda vem dos plantões realizados em Ourinhos. “Sou casado, tenho família, assim como muitos aqui. Isso é uma vergonha”, afirmou.
Um terceiro profissional também relatou dificuldades financeiras decorrentes dos atrasos. “Tem médico que não tem dinheiro para pagar a secretária. Eles sempre nos pagaram no começo do mês, mas, há uns quatro meses, decidiram nos pagar no dia 20. Tenho multa da prestação do meu apartamento e atraso no cartão de crédito. Quem vai arcar com isso?”, questionou.
Em contato com os médicos, o secretário municipal de Saúde de Ourinhos, Diego Singolani, informou que o secretário de Finanças estaria com toda a documentação necessária e aguardando a entrada de novos repasses para efetuar os pagamentos. “Qualquer informação que eu obtiver, repasso a vocês”, escreveu em um grupo de mensagens com os profissionais.
Questionado pelo Marília Notícia, o secretário municipal de Saúde limitou-se a informar que a questão financeira é tratada pela Secretaria de Finanças e orientou que o contato fosse feito com a equipe de Comunicação da Prefeitura de Ourinhos.
De acordo com apuração do MN, a crise ocorre em um contexto mais amplo de dificuldades enfrentadas pela atual gestão municipal. O prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos) tem sido alvo de críticas ao longo de seu primeiro ano de mandato, período marcado por problemas administrativos e questionamentos sobre a condução de diferentes áreas da administração pública.
O MN procurou a assessoria de comunicação da Prefeitura de Ourinhos, mas, até o fechamento deste texto, não obteve retorno. Caso haja manifestação, a matéria será atualizada.