Mariliense vence a Covid-19 após 11 dias internado na UTI
Com 32 anos de idade, até então sem passar uma única noite em um hospital – exceto por motivo de trabalho – o técnico de enfermagem Anderson José Lopes de Oliveira venceu a luta contra a Covid-19 em Marília. Ele passou onze dias internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Beneficente Unimar.
Como grande parte dos colegas de trabalho, Anderson tem dois empregos. Ele divide o seu tempo entre os plantões do Prontomed (Centro) e do Pronto Atendimento (PA) da zona Sul.
“Não faço ideia como e quando contraí o coronavírus. Minha esposa (profissional de saúde) também teve sintomas respiratórios na mesma época, mas bem leve. Tivemos contatos com muita gente, no trabalho, mas não saímos de Marília”, conta.
Os sintomas começaram no dia 23 de março. O técnico de enfermagem foi afastado do trabalho e acreditou estar com gripe. Teve febre e coriza, mas dez dias após afastado, de forma repentina, começou a sentir falta de ar.
“Um cansaço, dificuldade para respirar. Em casa mesmo, verificamos que a saturação – fração de hemoglobinas saturadas de oxigênio no sangue – estava muito baixa. Minha esposa me levou para a UPA, na zona Norte. De lá, saí para o Hospital da Unimar”, relata.
Anderson conta que foi internado na UTI de forma imediata. Os exames revelaram comprometimento pulmonar. Ao longo da internação, ele passou 40 horas entubado. Houve grande temor entre os familiares.
“Meus familiares aqui fora, recebendo tantas notícias sobre a gravidade da doença pelo mundo, ficaram muito preocupados. Eu sempre fui uma pessoa resistente, com boa saúde, não imaginava que poderia ficar nessa situação. É uma doença que se agrava muito rapidamente, traiçoeira”, conta.
Durante todo o tempo de internação, a luta pela vida foi motivada pela família e o desejo de cuidar de outras pessoas, afirma o técnico de enfermagem, apaixonado pela profissão.
Anderson afirma que o tratamento recebido dos profissionais de saúde foi fundamental, tanto para o suporte emocional – que o permitiu enfrentar a doença que isola pessoas – quanto para a boa evolução do seu quadro.
“A equipe da UPA foi ágil, a médica que me avaliou teve toda a cautela. Depois, no hospital, fui cuidado por uma equipe excepcional, competente e comprometida, que sabe o que está fazendo”, elogia.
No trabalho, tanto no Prontomed quanto no PA, o técnico de enfermagem afirma que encontrou apoio e solidariedade. “Só tenho a agradecer. Ainda estou afastado do trabalho, me recuperando, para voltar apenas quando estiver em segurança”, disse.
O técnico de enfermagem é acompanhado pela Vigilância Epidemiológica. Ele conta que teve uma espécie de “sequela temporária” cardíaca, mas acredita que a insuficiência seja resultado do confronto com o vírus e também será curada.
Anderson revela que, durante seu tratamento, foi administrado o medicamento hidroxicloroquina, que ainda está sendo estudado, mas devido a pandemia, já é usado nos casos mais graves, de acordo com a decisão do médico responsável.
Questionado se considera-se imune, o morador de Marília é taxativo. “Não sabemos. Não posso descuidar. Quando eu voltar a trabalhar, vou tomar todos os cuidados, como os colegas que não tiveram a doença. Temos mais perguntas que respostas sobre o coronavírus”, conclui.
Falso negativo
Anderson revela que durante sua internação foram colhidos dois exames, ambos pelo sistema de coleta swab (material da região da orofaringe e nasofaringe). Os dois testaram negativo para o novo coronavírus, apesar da suspeita da equipe médica.
“É um falso negativo, que dá quando o vírus já não está mais tão presente, apesar de você estar sentindo todas as consequências da doença. Tem um tempo certo para se colher estes exames. Isso ainda está sendo descoberto”, afirma Anderson.
No dia 24 deste mês, dias após receber alta, o técnico de enfermagem foi convidado por um laboratório a repetir o exame, mas por teste sorológico IgG e IgM que detecta anticorpos.
“Foi constatado que realmente eu tive o vírus no organismo. Esse exame é conclusivo para determinar se você teve a doença e seu corpo desenvolveu a defesa. Esperamos que seja uma defesa para a vida toda”, anseia o técnico de enfermagem de Marília, a sociedade científica e toda a população.