Mariliense na Itália descreve situação ante a Covid-19
O administrador de empresas Caio Zaros, 24 anos, está há 20 dias na Itália, país que tem batido recordes de mortes de pacientes com Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
Em entrevista exclusiva ao Marília Notícia, Caio descreveu o avanço da doença nas últimas três semanas na região mais ao norte da península – uma das áreas mais infectadas da Europa.
A quantidade de vítimas fatais no país já ultrapassa os mortos contabilizados na China, onde o novo vírus teria surgido. Já são mais de 4 mil óbitos entre os italianos, com 629 vidas perdidas somente nesta sexta-feira.
“O país todo de quarentena. Nada funcionando além de mercado e farmácia”, contou o jovem que está na província de Rovigo, região do Vêneto, em busca de reconhecimento de sua cidadania. Em 30 dias ele pretende ir morar em algum outro país da união europeia.
“Todas as fronteiras das cidades vizinhas fechadas, só passa quem tiver uma justificativa plausível, caso contrário a polícia não deixa passar. A todo tempo tem monitoramento nas ruas evitando aglomerações e fluxo de pessoas”, relatou Caio.
De acordo com ele, quem descumpre as normas sofre sanções, como multa de € 206 (euros) – mais de R$ 1,2 mil – e até mesmo detenção por três meses.
“Quando cheguei algumas coisas estavam funcionando, e a cidade não estava ‘totalmente’ parada. Mas após o aumento intensivo dos casos confirmados e óbitos, o governo precisou tomar essa medida de manter todos em quarentena”.
De acordo com o jovem, a Itália “acordou tarde pra realidade”, então “de certa forma, estão tentando controlar essa proliferação do vírus”.
O rapaz, que está dividindo moradia com um médico brasileiro, explica que a “rede de saúde daqui até que é boa, com hospitais novos, porém com o aumento da demanda de 1.000%, não tem estrutura suficiente pra conter todos os casos”.
“Aproximadamente 4 mil pessoas por dia estão sendo infectadas aqui na Itália”, completou. “Os médicos estão trabalhando intensivamente, 24 horas por dia e sete dias por semana”.
Além disso, Caio relatou que “um esquadrão de médicos dos EUA desembarcou na Itália por esses dias, para dar suporte”. Ele também disse que “prédios e hospitais abandonados estão sendo reabertos para prestar atendimento a todos”.
O administrador falou que a população está bastante assustada com o aumento drástico de casos fatais. “Até então ninguém esperava passar por esse surto global, sem contar que a Itália é país que tem a população mais velha da Europa”.
Sobre seus dias de quarentena na Itália, o rapaz confessou que tem sido “angustiante”, mas tem procurado manter uma rotina saudável, na medida do possível. “Ultimamente ando fazendo bastante exercício físico e me alimentando bem, uma forma de manter minha imunidade elevada”.
Efeitos colaterais da paralisação de serviços, como desabastecimento de supermercados, ainda não estão ocorrendo por lá, explicou Caio. “Os moradores estão consciente do caos e por isso só pegam o necessário nos mercados. O trânsito de caminhão para abastecimento está normal também”.
“O governo tomou uma iniciativa bacana e cortou por tempo indeterminado contas de água, luz e gás”, detalhou.
A reportagem pediu que Caio desse dicas a seus conterrâneos de Marília e do Brasil, já que tem vivido o que pode ser o cenário brasileiro dentro de algumas semanas, caso população e poder público não façam sua parte.
“Fiquem em casa e prestem solidariedade às pessoas mais velhas, comprem somente o necessário. Porque, se não for assim, infelizmente a Itália de hoje será o Brasil de amanhã. Ainda temos tempo de conter esse vírus e só depende das pessoas, de nós”, respondeu Caio.