Marília tem média de cinco doadores de órgãos por mês em 2025

Por duas vezes na última de agosto, funcionários da Santa Casa de Misericórdia se enfileiraram nos corredores do centro cirúrgico para receber, com salva de palmas, dois doadores de órgãos.
No dia 27, o gesto de agradecimento foi dedicado a Rhuan Peloso, de 24 anos, falecido em decorrência de um tumor cerebral. Já em 29 de agosto, a homenagem foi para Adan Jefferson Gonçalves da Silva, de 41 anos, vítima de homicídio.
Com a autorização das famílias, foram extraídos corações, pulmões, rins, córneas, ossos, tendões e fígado. Uma força-tarefa, com uso de aeronaves, foi mobilizada para transportar os órgãos e tecidos doados até os receptores.
Apesar de ter ocorrido em menos de 36 horas, a cena ainda não é frequente nos hospitais de Marília. Em média, a cidade registra cinco captações de órgãos por mês, segundo a Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital das Clínicas (HC). O serviço é responsável pela identificação, avaliação e viabilização de doações em 121 municípios.
LISTA RESTRITA
Os órgãos captados em Marília foram encaminhados a pacientes internados em hospitais do interior e da capital paulista, mas também salvaram vidas na própria cidade.
No HC, são realizados transplantes de córneas. Já na Santa Casa, acontecem procedimentos de fígado e rins. A retirada de ossos é feita por profissionais do Unioss, banco de tecidos musculoesqueléticos pioneiro no Brasil.

A relação de marilienses na fila de espera por transplantes é considerada informação restrita. Procurada pelo Marília Notícia, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a estatística é apenas estadual.
Dados de junho mostram que São Paulo liderava o ranking nacional, com 6.569 pacientes ativos entre os 31.053 em todo o país. O acesso à lista estadual de espera só é permitido às equipes médicas, por meio do Registro Geral da Central de Transplantes (RGCT).
SETEMBRO VERDE
No dia 1º, teve início a campanha Setembro Verde, voltada à conscientização sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. Em Marília, a programação foi aberta oficialmente em solenidade na Prefeitura, nesta terça-feira (9), com a presença de autoridades municipais, representantes da Saúde e da OPO.
O evento contou ainda com o depoimento da mãe Ana Paula Costa Guedes, que autorizou a doação do coração da filha Bárbara, falecida em acidente de moto em 2020, aos 25 anos.
Ao longo do mês, diversas ações serão realizadas, incluindo pedágio educativo, atividades em escolas e unidades de saúde, divulgação em supermercados, além de palestras e mobilizações no Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro).
A secretária municipal da Saúde, Paloma Libanio, destacou a importância da iniciativa:
“Que possamos transformar essa conscientização em ações concretas de apoio, informação e solidariedade. Convido a todos para participarem das atividades do Setembro Verde.”
COMO DOAR
Para que a doação seja efetivada, é essencial que a pessoa manifeste em vida sua vontade à família, responsável legal pela decisão após a morte encefálica.
Nem todos os falecidos podem ser doadores. Casos de tumores malignos (com exceções) e doenças infectocontagiosas, como aids, Covid-19, dengue, tuberculose e sarampo, impedem o processo. Além disso, a captação só pode ocorrer em ambiente hospitalar.
Também é possível doar em vida — como um rim, parte do fígado ou do pulmão. Já a medula óssea pode ser coletada por aspiração óssea ou amostra de sangue.