Marília tem fila por UTI Covid e mortes durante a espera
A família de Aparecido Barbosa de Farias, de 58 anos, aguarda desde o último domingo (21) por uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele está há três dias intubado, com Covid-19, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona Norte de Marília.
“Não sabemos o que fazer”, afirmou ao Marília Notícia, com muita dificuldade para falar, a esposa dele, Neuza Cecília de Souza, de 59 anos. Ela está sob suspeita da doença, assim como outros familiares.
A situação de Aparecido, infelizmente, começa a ser tornar cada vez mais recorrente em Marília, que já vive o temido colapso no sistema de saúde. O quadro local ainda pode piorar muito – e rapidamente.
Com a lotação total de UTIs públicas exclusivas para pacientes com o novo coronavírus, pacientes já estão morrendo antes mesmo de chegar nos leitos de terapia intensiva.
Nesta terça-feira (23) houve recorde de mortes anunciadas em um único dia na cidade. Dos oito óbitos confirmados, três envolveram pacientes que estavam ou na UPA da zona Norte ou no Pronto Atendimento da zona Sul (PA Sul).
Serviços da rede básica de saúde estão abarrotados de pacientes com sintomas provocados pelo coronavírus.
Os leitos clínicos para Covid-19 na rede pública estão com lotação acima de 95%. A realidade não é diferente no sistema privado de saúde.
A fila de espera por um leito na cidade não para de crescer. A reportagem solicitou ao município os números exatos de pessoas aguardando por uma vaga na UTI Covid-19, mas ainda não houve retorno.
De acordo com a assessoria de imprensa da UPA, atualmente são 19 internados, sendo que oito pacientes mais graves aguardam transferência para UTI e 11 esperam por leitos clínicos.
Aqueles que esperam por UTI estão com sedação e foram submetidos ao uso de respiradores, mas não se trata do mesmo tipo de equipamento disponível em leitos de terapia intensiva. A UPA não possui leitos de UTI.
No último final de semana mais dois pacientes acabaram transferidos de Marília para UTIs em hospitais da região. Eles só conseguiram vagas após a intubação e mesmo assim foram horas até fossem confirmadas as transferências.
Um desses pacientes, de 64 anos, sem doenças pré-existentes, esperou três dias por um leito em terapia intensiva. Ele foi levado para Paraguaçu Paulista (distante 79 quilômetros de Marília).
Até agora, oito pacientes de Marília conseguiram transferência para internação em UTI de outros municípios. O problema é que a região está com mais de 95% dos leitos de UTI Covid-19 ocupados.