Marília já registrou 15 casos de suicídio somente este ano
Desde 2014 acontece a campanha ‘Setembro Amarelo’, mês de prevenção ao suicídio. O assunto ainda é um tabu.
Segundo dados da campanha, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de um milhão no mundo.
Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias químicas.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) foram notificados ao Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) 15 casos de suicídio este ano até o momento em Marília.
Ainda segundo a SMS, em 2018 foram 18 ocorrências, 17 em 2017, apenas nove em 2016, 13 em 2015, 14 em 2014 e em 2013 houve o maior número de registros com 22 suicídios.
Atendimento
O Marília Notícia conversou com o psiquiatra Murilo Santos Oliveira, que atua em uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município, para entender um pouco mais sobre como funciona o atendimento a uma pessoa que tentou suicídio ou está apresentando sintomas para isso.
Conforme o psiquiatra o Caps tem o papel não só de fortalecer a atenção primária como de atender os casos mais graves.
“A ideia é o Caps atender a pessoa até aquele momento que ele precise, pensando em um atendimento que exija reinserir a pessoa na realidade dela. Então um dos objetivos do Caps é fazer com que esse indivíduo retorne para a atenção primária”.
O médico explicou ainda que 90% das pessoas que pensam em suicídio tem algum problema de saúde mental ou algum transtorno. Principalmente depressão, mas também esquizofrenia, transtorno bipolar e outros transtornos são fatores importantes.
“A gente pensa no suicídio como um ato que vem de um processo. Claro que muitas pessoas acabam fazendo de maneira impulsiva, mas boa parte dos casos acabam cometendo o ato que vem de um processo. A pessoa tem uma série de comportamentos e cognições que acabam indo para a ideação, que encaminham para auto agressões de diferentes intenções e por fim no ato em si. Então nesse processo todo é importante que as pessoas que convivem com alguém que fala algo nesse sentido, que mostram que ela tem um desprendimento cada vez maior da vida, essa pessoa precisa ser chamada, precisa de uma conversa, precisa ser ouvida e muitas vezes o que a gente precisa fazer é uma escuta”.
Em situações mais graves as UPAs podem atender e encaminhar o caso para o Hospital de Clínicas, que possui psiquiatra de plantão.
Oliveira explicou também que não dá para falar que todos que tentam ou que efetivamente conseguem consumar o ato sempre deixam algum indício. Muitas vezes as pessoas com quem eles convivem não vão perceber. Mas frequentemente, até por ser um tabu, existem situações em que podem falar algo em que deixem implícito esse processo.
“Existe um mito de que falar sobre o suicídio pode fazer com que as pessoas tenham a ideia de cometer, mas isso é um mito. A verdade é que falar disso diminui a ansiedade, a pessoa se sente acolhida, quando é tratada de uma maneira coerente e adequada a escuta na verdade ajuda e muitas vezes a gente precisa falar de maneira direta, para poder entender como ajudar melhor a pessoa”, afirmou o psiquiatra.
Outro problema gerado quando alguém comete suicídio é algumas pessoas que convivem com ela acabam sofrendo efeitos.
“Quando uma pessoa comete [suicídio] as pessoas acabam afetadas socialmente, emocionalmente, economicamente”.
O psiquiatra comentou ainda que o Ministério da Saúde tem feito estratégias para tentar combater o fenômeno, uma delas é de ampliar a atuação do CVV (Centro de Valorização da Vida) em mais locais. Em Marília, o CVV está em vias de implantação.
Dados da OMS
Oliveira falou que segundo os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) são 100 a mil tentativas para cada 100 mil habitantes por ano no mundo.
“Dentre esses 10 a 30 aproximadamente se matam. Então é como se fosse um caso de suicídio a cada 40 segundos e uma tentativa a cada dois segundos, isso no mundo. Além disso, a OMS ainda fala que existe uma projeção que esses dados aumentem”, destacou.
Ele disse ainda que conforme os dados os homens tem tentativas mais efetivas. Quando o homem faz a tentativa, geralmente ele acaba consumando. Mas as mulheres fazem mais tentativas de suicídio.
Tentativas de suicídio em Marília
O MN solicitou via Lei de Acesso à Informação (LAI) os números de tentativas de suicídio atendidas pelo Hospital das Clínicas.
De acordo com os dados em 2019, de janeiro a julho foram 31 tentativas, sendo 19 mulheres e 12 homens. No mesmo período do ano passado foram registradas 23 tentativas de suicídio, sendo 18 mulheres e cinco homens. Um aumento de aproximadamente 35% no casos.
De janeiro a dezembro de 2018 foram 48 casos – 34 mulheres e 14 homens.