Marília entra na rota dos gigantes e se consolida como polo logístico do interior

Marília vive um período de expansão significativa no setor logístico, impulsionado pela chegada de grandes players do e-commerce e pela projeção de novos investimentos. A cidade se posiciona como um hub estratégico para o escoamento e abastecimento de mercadorias em diversas regiões do Brasil, graças à sua localização privilegiada.
Um dos marcos dessa consolidação é a instalação do centro de distribuição e logística do Mercado Livre. Com cerca de 60 mil metros quadrados, a nova unidade está em fase avançada de construção e deve iniciar as operações em agosto.
O empreendimento deve gerar um impacto expressivo no mercado de trabalho local, com previsão de 1.000 a 1.100 vagas diretas na primeira fase. Até 2027, com a ampliação de mais 10 mil metros quadrados, o quadro de funcionários pode chegar a 1.800 pessoas. A estrutura está entre as maiores do estado de São Paulo e promete otimizar a velocidade das entregas na região.
A escolha por Marília não foi por acaso: a cidade está localizada em um entroncamento estratégico de rodovias estaduais e federais. A SP-294 (Comandante João Ribeiro de Barros) liga Marília a Bauru e Tupã, enquanto a BR-153 (Transbrasiliana) oferece acesso direto ao Sul e ao Norte do país. Também compõem essa malha a SP-333 (Rachid Rayes), no sentido de Assis, e a SP-333 (Dona Leonor Mendes de Barros), em direção a Lins.
Essa rede viária permite escoamento ágil para todas as regiões do Brasil, além de garantir conexão com centros urbanos como Bauru, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, em um raio de cerca de 200 quilômetros.
Além do Mercado Livre, Marília tem atraído outras empresas logísticas. A Scania já instalou uma unidade de autopeças e um ponto de apoio na cidade — algo inédito até então, já que as bases mais próximas ficavam em Bauru, Presidente Prudente e São José do Rio Preto.
Também há a previsão da chegada de uma unidade da Volvo, o que sinaliza uma possível tendência de novas marcas acompanharem esse movimento.

Roberto Cardoso Borges, empresário do setor logístico, destaca que a demanda impulsionada pelo e-commerce tem estimulado o crescimento da transportadora AJ Borges, que atua com produtos industrializados (como Dori, Marilan e Bel) e no e-commerce regional. “Já fiz alguns investimentos importantes e a tendência é aumentar”, afirmou.
Para o diretor titular do Ciesp Alta Paulista, Silvio Zilio, a contratação de mais de mil trabalhadores pelo Mercado Livre pode acirrar a disputa por mão de obra com as indústrias locais, sobretudo as do setor alimentício.
“Marília já opera em situação de ‘pleno emprego’, com taxa de desemprego abaixo da média estadual e nacional. Isso pode pressionar os salários e até gerar escassez temporária de trabalhadores em alguns setores. Por outro lado, há um forte potencial de geração de empregos indiretos e atração de novos empreendimentos”, avaliou.

O presidente da Associação Comercial e de Inovação de Marília (Acim), Carlos Francisco Bitencourt Jorge, acredita que o avanço do comércio eletrônico é um “caminho sem volta” e defende que o varejo tradicional precisa se adaptar.
“A gente entende que o e-commerce já é uma realidade e a entidade vem fomentando e trabalhando para que o comerciante do varejo, o comerciante de rua, tenha no e-commerce, por marketplace e pelo seu canal próprio, uma maneira adicional de vender”, disse.

Segundo Bitencourt, a Acim tem estabelecido parcerias com empresas locais, como a Tray, para apoiar essa transição. “Nada substitui o comércio físico e a experiência no nosso comércio local, até porque é um polo regional extremamente tradicional”, completou.