Marília registra mais de 350 ocorrências de fogo em mato
O tempo está seco e segundo o Corpo de Bombeiros todo ano entre maio e agosto, até o começo de setembro, ocorre um período de estiagem muito grande, em que as condições climáticas favorecem o aumento de ocorrências de incêndio em vegetação.
Muita gente tem reclamado dos fogos em mato em Marília. É o caso da aposentada, Janete Rodrigues Alves, que mora há mais de 20 anos na rua Ivone Martins de Oliveira, no Jardim Damasco, na zona Sul da cidade.
“Está tendo muita queimada, sinto muita falta de ar, os olhos ardem, garganta seca, começa a ficar irritada, completamente difícil de respirar, mesmo ligando ventilador”, relatou a aposentada em entrevista ao Marília Notícia.
Ela reclamou também da sujeira, “meu quintal é grande, fica cheio daquelas coisinhas pretas. As vezes eu acabo de limpar, tenho que fazer de novo, aí a gente tem que economizar água, mas não tem jeito, tem que lavar, porque fica tudo preto, você limpa hoje, quando é amanhã tem queimada de novo, tá muito complicado”.
Conforme dados divulgados pelos Bombeiros, até o dia 17 de junho deste ano, foram contabilizadas 353 ocorrências de fogo em mato na área de Marília.
No ano passado o 10º Grupamento, que compreende 48 cidades, atendeu mais de três mil ocorrências deste tipo, sendo que 541 foram só na área de Marília.
Segundo o Tenente Fernando Gomes Calógero, do 10º Gb, esse ano a estiagem começou mais cedo, além disso a topografia da cidade favorece a propagação de algum tipo de incêndio, assim como a ocorrência de ventos.
De acordo com o Tenente os perigos desse tipo de ocorrência para a população em si depende da localização. Às margens de rodovia, por exemplo, pode prejudicar a visibilidade dos motoristas ocasionando muitos acidentes.
Dentro da área urbana a produção de fumaça carregada de monóxido de carbono é muito grande, então acaba prejudicando a saúde daquelas pessoas que ficam expostas, além de também expor animais quando o fogo ocorre em locais onde há pastagens e criação de animais e animais silvestres em área de preservação permanente.
“Uma vez que a população viu algum tipo de incêndio o ideal é que não tente fazer a extinção mesmo que as vezes esteja ali parecendo pequeno, ainda no início. Que acione o corpo de Bombeiros para que gente vá com as equipes para o local, faça uma análise da situação, análise da topografia, direção do vento, tipo de vegetação, altura, para aí sim a gente decidir qual vai ser a melhor forma de combater”, ressaltou Calógero.
O Tenente completou ainda que “infelizmente a grande maioria dos incêndios são causados pela ação humana. Seja por descuido com algum tipo de material inflamável que venha provocar o incêndio ou até mesmo intencionalmente. Nós temos essa cultura em muitos lugares de fazer limpeza de terrenos ou a eliminação de lixo ateando fogo. E as vezes a pessoa não tem a dimensão da situação que ela está provocando, perde o controle do incêndio e ele acaba se alastrando”.
Saúde
Além de todos os transtornos já citados, uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília revela que os resíduos produzidos em uma queimada colaboram para o aparecimento de problemas no coração.
A pesquisa foi coordenada pelo professor, Vitor Engrácia Valenti, que explicou em entrevista ao MN que foi feito um levantamento de dados científicos já publicados ao redor do mundo. O objetivo foi analisar a relação entre os componentes tóxicos da queimada e os riscos cardiovasculares.
“Os resultados dessa pesquisa de revisão nos mostraram que o material particulado, formado por compostos sólidos e líquidos suspensos no ar originados da queimada, afeta inicialmente os neurônios dentro da cavidade nasal, de modo que isso desencadeia reflexos cardiovasculares. Isso em período prolongado colabora para o aparecimento de problemas no coração, como a hipertensão”, disse Vitor.
Segundo ele o material particulado das queimadas também chega nos pulmões e é depositado na corrente sanguínea, aumentando a produção de radicais livres. Esse mecanismo lesa os vasos sanguíneos, ajudando a evoluir para aterosclerose, infarto e AVC, além de prejudicar o coração e os rins.
“Um dado muito importante dessa revisão indicou que em pessoas que já possuem uma doença cardiovascular, os efeitos da fumaça da queimada são mais imediatos no coração do que nos pulmões. A pessoa nessa condição, caso exposta à queimada, pode falecer por infarto antes de ser detectada alguma alteração no sistema respiratório”, alertou.
As pesquisas levantadas para análise foram feitas com um total de mais de cinco mil pessoas no Brasil, Estados Unidos e Japão. A idade dessas pessoas variou de 30 a 70 anos. Foram incluídas pessoas saudáveis, com hipertensão, doenças pulmonares e metabólicas. Os riscos foram comparados entre os grupos.
De acordo com Vitor o levantamento das pesquisas levou um ano, teve início em junho de 2018. Todas elas foram publicadas em revistas americanas, inglesas e japonesas, no Journal of Occupational Environmental Medicine, Circulation, American Heart Journal, American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine e Circulation Journal.