“Marília caminha para se transformar em uma Smart City”, avalia Gilberto Rossi
Foi pelos ambientes acadêmicos da docência no curso de turismo da Universidade de Marília (Unimar) que o então pós-graduado em administração hoteleira, Gilberto Rossi Junior, reprogramou sua carreira profissional e a vida, rumo a Marília.
Entre idas e vindas de sua São Paulo, radicou-se por aqui, e se tornou referência na conversão da visibilidade turística da cidade através de seu trabalho como gestor de projeto. O profissional ocupa a gerência executiva do Marília e Região Convention & Visitors Bureau, franquia de marketing e turismo que apresentou à cidade, em 2011.
Vinte e três anos após sua chegada, Rossi Júnior analisa trajetória e atualidades do turismo em Marília em entrevista ao MN e visualiza, com traçados de otimismo, os destinos da cidade que escolheu para viver.
“Marília caminha para se transformar em uma Smart City”, afirmou, com conhecimento de causa, hoje à frente da Câmara Técnica dedicada ao assunto no Conselho de Desenvolvimento Estratégico de Marília (Codem).
Formado em Turismo pela Universidade Paulista, Rossi Junior tem mestrado em turismo e gestão ambiental e cultural na Faculdade Ibero-Americana de São Paulo e atualmente leciona no curso de Publicidade e Propaganda da Unimar.
Aos 51 anos, ‘Giba’, como é mais conhecido, é casado com a psicóloga Camila Mugnai e pai da Alice. E há dez anos visita as tonalidades mais graves de seu baixo na banda de rock Vaffanculo. Confira a entrevista completa.
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MN – O senhor é paulistano e já está há mais de 20 anos radicado em Marília. Que cidade encontrou aqui quando chegou?
Gilberto Rossi – O que me trouxe a Marília foi um convite para uma entrevista na Unimar, em fevereiro de 2000. A maior parte da minha vida adulta é aqui. Encontrei uma cidade muito receptiva, hospitaleira. Fui muito bem recebido. Marília é uma cidade em pleno desenvolvimento. Um campus universitário com uma vida muito agitada, interessante, mais de 20 mil alunos de todas as partes do país. Fui me adaptando à experiência que eu tive nos eventos da indústria farmacêutica em São Paulo, de modo que eu me identificasse com o perfil da cidade.
MN – Analisando como mestre em Turismo e Comunicação, como vê a relação e o mercado de ambas as áreas em Marília?
Gilberto Rossi – Eu acabei é juntando as duas, né! (risos). Em Marília eu acabei conciliando as duas, trabalhando com marketing de destino. Pelo Convention & Visitors Bureau divulgamos o nome da cidade através dos eventos e da comunicação que a gente faz diretamente para agências promotoras de eventos. O turismo também tem uma função além de gerar empregos e negócios. Não apenas hotelaria e na gastronomia, o turismo gera uma série de oportunidades.
MN – Inclusive no ecoturismo por aqui?
Gilberto Rossi – Sim. O turismo rural vem se desenvolvendo na cidade tanto para atender a população local quanto de cidades vizinhas, seja com cafés da manhã, atividades junto à natureza, almoços de cozinha da roça. É um setor em desenvolvimento, em amadurecimento. A própria gestão pública começa a olhar o turismo de uma forma diferente. Em 2018, a gente conseguiu o título de município de interesse turístico. Na época, fui um dos organizadores junto com o conselho de turismo, com a gestão pública.
MN – Em qual contexto se deu a instalação do Convention & Visitors Bureau em Marília?
Gilberto Rossi – O processo de fundação foi gradual. Nós passamos praticamente dois anos em conversas com os hotéis dos restaurantes explicando como funcionaria, para que servia, sensibilizando os empresários de como poderia ser bom para todos. A gente conseguiu o apoio do sindicato de hotéis, bares e restaurantes da cidade. Até que, em junho de 2011, fundamos o Convention & Visitors Bureau com setenta e duas empresas participantes.
MN – Como foi a implantação do Plano Diretor de Turismo de Marília, aguardado por tantos anos na cidade?
Gilberto Rossi – Foi desenvolvido em várias mãos. Na época, eu estava assumindo o Conselho Municipal de Turismo como presidente. Fiquei no cargo por cinco anos, em duas gestões. Eu coordenei essa missão do Plano Diretor de Turismo, mas não fiz sozinho não. Todo o Conselho Municipal de Turismo ajudou bastante. Tivemos muitas parcerias importantes. Todo o grupo do Conselho Municipal de Turismo, a Unimar, o sindicato de hotéis, bares e restaurantes, ajudaram nas pesquisas de mercado e de demanda. Todos perceberam o movimento do mercado turístico e quiseram entender quem era o turista, quais as motivações e quanto tempo ficava na cidade. O processo de desenvolvimento demorou praticamente um ano. É bom frisar que, enquanto muitas das cidades pagaram consultorias, este plano diretor em Marília foi um processo voluntário de toda a categoria. Foi um trabalho muito bacana que propiciou que a cidade se tornasse um dos 140 Municípios de Interesse Turístico (MIT) do Estado de São Paulo.
MN – Após cinco anos da aprovação, o que poderia ser atualizado no Plano Diretor de Turismo?
Gilberto Rossi – É um documento muito extenso que tem metas a curto, médio e longo prazo. Falta muita coisa pra ser aprovada, para ser colocada em prática. Mas a gente sabe que é um trabalho de formiguinha que depende de tempo. A conquista do MIT, por exemplo, facilitou muito porque vem uma verba do Estado, mas a gente precisa de um envolvimento maior principalmente no que diz respeito à aprovação de uma legislação indutora que impulsione os empresários e o movimento do crescimento da atividade turística na cidade. Há mais de dez propostas de leis que fazem parte do Plano Diretor de Turismo que até hoje não foram aprovadas ou, sequer colocadas em discussão, que podem ajudar bastante no desenvolvimento e na visibilidade de Marília.
MN – O Festival Gastronômico acaba de chegar à sua 9ª edição com muitos sabores, homenagens e solidariedade no cardápio. É esta a receita do sucesso do evento?
Gilberto Rossi – Sim, e a cada ano está maior, com forte apelo social. Nas oito primeiras edições conseguimos a doação de mais de R$ 130 mil. Os restaurantes são motivados a inovar no seu prato, usando o festival como um grande laboratório, com combinações de ingredientes. O Festival Gastronômico é o concurso cultural, em que quem pede o prato ganha um cupom para preencher. Ao final do evento, nós fazemos a tabulação desses resultados e a gente tem visto o crescimento do número de cidades representadas que passam pelos restaurantes. Em 2022, foram 73. Todas essas pessoas saem da cidade como uma imagem mais positiva, de uma cidade moderna, de uma gastronomia de alta qualidade.
MN – Qual a qualidade da rede hoteleira que os visitantes têm encontrado em Marília?
Gilberto Rossi – A rede de hospitalidade da cidade tem uma qualidade que não fica devendo a ninguém. Quando eu falo hospitalidade, não me refiro apenas à hotelaria, mas também da gastronomia. Nós temos hotéis de vários portes, do mais luxuoso aos mais econômicos, praticando preços que são justos em relação ao mercado. Os hotéis de Marília estão sempre passando por qualificação tanto pessoal quanto da própria estrutura. Quanto à boa comida, Marília é servida de barzinhos gostosos, além de restaurantes e comida brasileira, caipira, italiana, japonesa, chinesa, mexicana, francesa. Nós temos uma rede que não fica a dever a cidade nenhuma cidade do interior do estado.
MN – Varginha (MG) tem seu ‘ET’. Em Itu (SP), tudo é grande. Quando Marília poderá ser conhecida como a terra dos dinossauros?
Gilberto Rossi – A cidade já está nesse caminho. Os projetos eles demoram um pouco por toda a questão legal. Dinheiro público é sempre uma situação delicada. A primeira verba do MIT foi direcionada para reformulação do Museu de Paleontologia e a compra das réplicas. Isso já deu uma nova cara. A temática dos dinossauros está nas escolas, nas empresas de ônibus que atuam na cidade. Serão instaladas mais cinco réplicas de dinossauros no bosque municipal. Uma delas no lago e também de um grande esqueleto para as crianças brincarem. Além disso, nas novas trilhas da cidade serão sinalizados os locais onde foram achados fósseis de dinossauros na cidade. No ano passado, um dos pratos do Festival Gastronômico foi em homenagem ao William Nava, pela descoberta do titanossauro. Se tem algo que a gente tem de diferente da grande maioria das cidades é esse potencial paleontológico. Temos uma proposta da inclusão de um selo de ‘Cidade Amiga do Dino’ nas embalagens de produtos fabricados em Marília com a inclusão de um QR Code que direcionasse para os sites de turismo da cidade e ao Museu de Paleontologia de Marília. Acho que é uma questão de articulação para acontecer e que levará o nome de Marília através das embalagens das grandes indústrias para o país e o mundo.
MN – Como a economia criativa poderia contribuir na busca por novas soluções turísticas e de negócios para a cidade?
Gilberto Rossi – O turismo e a cultura promovem a economia criativa. Os empregos estão mudando. Se você fizer uma projeção a longo prazo perceberá que o mundo tende a sofrer essa mudança no mercado de trabalho. O homem caminha para o ambiente digital de uma forma muito forte e, paralelamente, surge uma busca por uma qualidade de vida junto à natureza, de uma volta às raízes, a necessidade de entretenimento, de passeios, de contato direto com pessoas. Trabalhar dentro de casa ou em escritórios com foco total no computador e nos seus smartphones ao mesmo tempo é uma tendência. Enquanto isso, a gente passa por um momento muito especial na cultura também, com a profissionalização de gestores, de músicos e de produtores culturais com apoio de leis de incentivo à produção cultural. Eu enxergo uma linha interdisciplinar ligando o turismo, a cultura e todo esse movimento da economia criativa que será uma grande alternativa de empregos para boa parte da população.
MN – Qual é a Marília que espera encontrar em um futuro próximo?
Gilberto Rossi – Hoje eu coordeno a Câmara Técnica de Turismo e Economia Criativa do Codem pensando justamente nessa cidade de vinte, trinta anos pra frente, daquela que minha filha vai aproveitar. Uma Marília moderna, segura, com muita inovação tecnológica, universidades fortalecidas. Vejo uma cidade caminhando para se transformar em uma Smart City. Uma cidade inteligente, com seu parque tecnológico. Se tudo correr bem, em breve será uma cidade que unirá desenvolvimento econômico com seu belo cenário. Foi o que eu encontrei aqui. Esses paredões lindos, esses vales dentro do perímetro urbano. É possível cuidar do meio ambiente, valorizando e protegendo as nascentes com crescimento ordenado com empreendimentos imobiliários. Uma coisa não impede a outra. Que a cidade saiba se cuidar e valorizar o potencial ecológico, turístico e de cultura que temos por aqui.