Maria Angélica é a ‘mãe’ de 140 crianças que lutam contra o câncer e doenças hematológicas
A assistente social Maria Angélica Bonilha Viana, de 76 anos, é a atual vice-presidente do Grupo de Apoio às Crianças com Câncer e Hemopatias (Gacch) – uma casa de acolhimento -, e atua como voluntária na entidade há 18 anos.
Sua missão é ajudar a conduzir uma equipe multidisciplinar que atua na entidade fundada em 2003, há 21 anos. “Não faço nada sozinha, temos outras voluntárias e sobrevivemos de doações da iniciativa privada e marilienses”, destaca.
Maria Angélica tem um olhar de mãe e avó nos cuidados de 140 crianças que passam por uma situação delicada de saúde. A entrevistada da semana, neste Dia das Mães, revela que é necessário força e fé para cultuar o mesmo carinho e apoio por quase duas décadas. “Estou do lado das minhas crianças nas horas difíceis e de cura”, ressalta.
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MN – Como foi sua chegada ao Gacch e envolvimento com o voluntariado?
M. ANGÉLICA – Sou assistente social aposentada e vim de São Paulo para Marília, com o objetivo mesmo de morar e viver nesta cidade. Assim que cheguei aqui, fui procurar algo na minha área, em que pudesse ser útil e ajudar as pessoas. Conheci o Gacch, que me acolheu de braços abertos.
MN – Já conhecia Marília antes?
M. ANGÉLICA – A família do meu marido, Emir Paulin, já era daqui e gostamos muito desta cidade. Tenho duas filhas: Fernanda e Camila, que moram fora, e um lindo neto, o Artur, de cinco anos. Sou paulistana, nascida em São Paulo.
MN – Como é o seu dia a dia no Gacch?
M. ANGÉLICA – Temos que nos desdobrar um pouco, porque administro outras atividades também. Nas segundas-feiras, ajudo a fazer a comida para as crianças e, nas quintas-feiras, contribuo com a administração geral da casa. Resolvemos as pendências administrativas e tomamos atitudes práticas para a condução dos trabalhos da entidade. Atualmente, atendemos 140 crianças cadastradas de 62 municípios que fazem parte da nossa regional de Marília.
MN – O que é oferecido na entidade para as crianças atendidas?
M. ANGÉLICA – Nem sempre todas as crianças permanecem dentro da casa, mas as famílias e assistidos comparecem com alguma frequência para pegar medicamentos, para almoçar, passar o dia, dormir e receber cestas básicas, suplementos, roupas, agasalhos e sapatos. Nosso atendimento varia de acordo com a necessidade das crianças.
MN – Essas crianças passam por tratamentos médicos fortes?
M. ANGÉLICA – Atendemos pacientes oncológicos e também hematológicos, que são doenças no sangue, como anemia, leucemia e lupus, entre outras. Essas crianças são encaminhadas pelos hospitais referências da cidade: Santa Casa, Hospital Materno Infantil (HMI), Hemocentro, São Francisco e Hospital Beneficente Unimar (HBU). Todas podem ficar hospedadas no Gacch, enquanto fazem tratamento de quimioterapia e radioterapia.
MN – É um trabalho sensível. De onde você tira forças para encarar esta missão?
M. ANGÉLICA – Aqui é casa de vó e de mãe. A gente tem que chorar juntos, mas precisamos agir e tomar as atitudes necessárias. Auxiliamos em tudo no que for preciso, mesmo que seja difícil até pra nós, que somos mães e avós no campo familiar. Sentimos bastante a dor de cada criança que é encaminhada para o Gacch, porém, somos fortes.
MN – Você tem uma equipe para te auxiliar?
M. ANGÉLICA – Já chegamos a ter 50 voluntárias, mas com a pandemia da covid-19, o ritmo foi diminuindo por várias questões pessoais. Hoje, temos 25 voluntárias ativas, que colaboram, ajudam na rotina e participam dos eventos. Realizamos eventos sociais externos, fora da sede do Gacch, e também campanhas para arrecadação de recursos, como venda de bolos, tortas e artesanato através de nossos bazares.
MN – O poder público ajuda?
M. ANGÉLICA – Sobrevivemos graças a ajuda do poder público e de doações das empresas e população. A Câmara Municipal nos ajudou recentemente com emendas impositivas que contribuíram para a compra do material escolar das crianças, bem como aquisição de suplementos alimentares, que são alimentos de alto custo, e equipamentos hospitalares. Temos que crianças que não podem tomar água normal e preciso de auxílio neste sentido. São vários casos que dependem de cobertura financeira.
MN – Tem alguma necessidade atual que queira divulgar?
M. ANGÉLICA – Nossa necessidade maior é a cesta básica, suplementos e leite. Para nós, o alimento é fundamental. Sempre realizamos campanhas para arrecadação de alimentos. Quem quiser contribuir, pode entrar em contato pelo telefone (14) 3422-4111.
MN – Para mães marilienses e da região que possuem filhos enfermos e ainda não conhecem o Gacch, como proceder?
M. ANGÉLICA – Normalmente, as famílias chegam até nós por meio de encaminhamento dos hospitais. As mães são acolhidas pelas unidades hospitalares e orientadas a nos procurar. Nossa casa de acolhimento fica na rua Júlio de Mesquita, 50, no Jardim Maria Izabel, e atendemos todos os dias das 8h às 17h. Sempre vai ter uma voluntária à disposição para receber as mamães e papais com seus filhos em tratamento médico. Podem vir nos conhecer, estamos prontos e de braços abertos para receber as famílias que necessitam do nosso carinho, orientação e acolhimento.
MN – Há quanto tempo o Gacch atende na cidade?
M. ANGÉLICA – São 21 anos de história, completados no último dia 26 de março. A entidade é fruto de uma parceria entre a Santa Casa, que doou o terreno na gestão do provedor Milton Tédde, e Instituto Ronald McDonald e Programa Tauste Ação Social, que nos ajudaram financeiramente para construção da nova casa, localizada hoje no bairro Maria Izabel.
MN – Quando a nova casa foi inaugurada aqui na rua Júlio de Mesquita?
M. ANGÉLICA – Esta casa do Gacch foi inaugurada no dia 14 de julho de 2015. É uma data importante e histórica. A atual presidente da entidade é a médica oncopediatra Doralice Marvulle Tan.