Líder de rebelião na Fundação Casa tem transtorno psíquico
Davi Rogério de Souza Cirilo, 21 anos, foi líder da rebelião ocorrida em outubro de 2016 na Fundação Casa de Marília e acabou condenado por matar o agente de apoio socioeducativo Francisco Calixto, de 51 anos, com um cabo de vassoura enfiado na garganta.
Nas últimas semanas ele foi diagnosticado com Transtorno de Personalidade Antissocial, após pedido de avaliação de urgência ser feito pelo Ministério Público. Por pouco o rapaz não acabou sendo colocado em liberdade.
Por parte de Davi houve ainda a tentativa de homicídio contra outro agente e o motim liderado por ele resultou na fuga de 18 jovens e adolescentes. O jovem cometeu “atrocidades”, diz o processo que impediu sua saída para a liberdade.
Além da vítima fatal, os internos rebelados cometeram ao todo três tentativas de homicídios. Uma das vítimas teve um cabo de vassoura enfiado no ouvido.
Os agredidos sofreram com hematomas generalizados e fraturas em costelas, nariz, vértebras da coluna e perda de dentes. Outros agentes também teriam sido agredidos, entretanto, sem maior gravidade. Em uma parede foi deixada a inscrição “PCC” com sangue.
No mês passado Davi acabou encaminhado para um hospital psiquiátrico, onde deve ficar até decisão judicial. A internação foi determinada dias antes da soltura do jovem ser concretizada, após completar 21 anos – idade limite de permanência na Fundação Casa.
Laudo médico citado na manifestação do Ministério Público desta quarta-feira (13) afirma que não é possível “concluir a causa específica da patologia” psíquica que Davi possui.
“Porém, pode-se concluir que não expressa nenhum valor delegando aos ditames e regras sociais e ético morais da convivência em sociedade”, diz o documento. “Importante traços de irritabilidade, agressividade e impulsividade estão presentes”.
No processo também consta que Davi manipulava os demais internos da Fundação Casa e outras citações a “traços de psicopatia” e agressividade.
O relatório do médico psiquiatra, feito após transferência da Fundação Casa, diz que o jovem teria relatado “preferência em se manter longe dos demais pacientes porque não quer estragar sua caminhada no mundo do crime”.
O modo como Davi “relata delitos graves com frieza e sem alteração da expressão facial ou mesmo sem modulação da fala”, também foi observado.
A recomendação psiquiátrica foi de permanência em ambiente assistido com segurança 24 horas e sistema de saúde multidisciplinar.
O entendimento do promotor Isauro Pigozzi Filho é de que “o adolescente hoje maior de idade, praticou atrocidades dentro da unidade de tratamento, e mesmo assim, não se conseguiu reabilitá-lo de forma adequada”. “Davi coloca em risco a sua vida e de toda a coletividade”, afirma o promotor.
Relembre
A rebelião começou por volta das 21h de uma terça-feira, dia 4 de outubro de 2016. Os adolescentes fizeram mais nove reféns, sendo cinco voluntários de uma igreja e mais quatro funcionários do local (incluindo a vítima de homicídio). O agente foi morto justamente no dia em que fazia aniversário, para desespero da família.
Quatro menores e um maior de idade que teriam participado da morte do agente foram encaminhados até a Central de Polícia Judiciária na própria ocasião.
O maior foi identificado como Cleberson William Veloso de 18 anos. Porém, o autor do golpe fatal tinha 17 na época e assumiu a barbárie. Era Davi, que estava na Fundação desde 2015 por roubar uma residência. Os envolvidos detidos após a rebelião foram indiciados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio.
A assessoria de imprensa da Fundação Casa divulgou uma nota oficial sobre o caso na época: “A Corregedoria Geral da Fundação Casa vai instaurar uma sindicância para apurar a morte do funcionário na Casa Marília e a fuga de 18 adolescentes da mesma unidade. A Fundação Casa lamenta profundamente a morte do funcionário e trará toda a assistência aos familiares do servidor”, diz a nota.
Nos dias seguintes vários deles foram sendo recapturados, mas alguns ficaram foragidos durante meses. Outros foram detidos em flagrante cometendo outros crimes.
A rebelião terminou depois de três horas de negociação, sem a necessidade de uma intervenção da Tropa de Choque. Os outros agentes feridos foram socorridos pelo Samu e Corpo de Bombeiros.
Na época a unidade abrigava 108 internos, sendo que a capacidade era para 101 pessoas. A maioria dos adolescentes estava ali por conta de roubos e tráfico de drogas. A rebelião teria começado quando os infratores de uma determinada ala invadiram outro setor da unidade.
Os menores escaparam utilizando fiação elétrica para escalar a muralha da unidade com cerca de sete metros. Alguns dos envolvidos indiciados acabaram condenados, mas parte foi inocentada por falta de provas no envolvimento no homicídio e nas tentativas de homicídio.