Líder da periferia, ‘Burcão’ diz que o sonho na política ainda “não acabou”
O jovem Guilherme Fernando dos Reis, mais conhecido como ‘Burcão’, de apenas 29 anos, se tornou, ao longo dos últimos anos, uma grande liderança das periferias em Marília. Seus trabalhos sociais, inicialmente organizando eventos na Páscoa e no Dia das Crianças para milhares de crianças e adolescentes, chamaram a atenção na cidade.
Seu desempenho na última eleição, em sua primeira disputa para o cargo de vereador, mesmo não sendo eleito, trouxe a certeza do seu grande potencial. Ele conquistou a confiança de 1.310 eleitores, se tornando o terceiro candidato mais votado do PL e primeiro suplente da legenda, atrás apenas da Professora Daniela, que teve 1.898 votos e de Junior Moraes, com 1.847.
A vontade de ajudar o próximo e o engajamento nas periferias fez com que o jovem fosse chamado para participar da administração municipal. Durante um ano e sete meses, ele fez parte da Secretaria Municipal de Obras.
O grande carisma e as soluções encontradas para resolver problemas nas comunidades mais carentes irritaram, de acordo com o líder comunitário, algumas pessoas, que teriam se sentido ofuscadas pelo seu trabalho. Ele perdeu o cargo comissionado na Prefeitura de Marília, mas ganhou o respeito e admiração de muita gente que ainda não o conhecia.
O Marília Notícia conversou com ‘Burcão’, que contou sua história de vida, a origem de seu apelido, a polêmica sobre sua saída da Secretaria Municipal de Obras e os planos para continuar ajudando as comunidades carentes de Marília.
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MN – Você é muito conhecido na periferia de Marília. Qual a sua relação com as comunidades?
Burcão – Eu nasci na comunidade do Argollo Ferrão, na zona oeste. Morei por dois anos lá e depois meu pai comprou uma casa no Jardim Lavínia, na zona norte, onde morei até meus 19 anos. Só que todo mundo me conhece por ‘Burcão da Vila Barros’, por causa da minha grande convivência com o pessoal da comunidade e com os amigos de lá. Sempre gostei de ações sociais e sempre estava por ali.
MN – Como surgiu o seu apelido de ‘Burcão’?
Burcão – Tinha um menino que falava errado na época que eu era criança. Eu tinha uns nove anos nessa época. Todo mundo conhece meu pai como ‘Rubão’ e me chamavam de filho do ‘Rubão’, mas esse garoto me chamava de filho do ‘Burcão’, pois não conseguia falar certo. No meu bairro eram três Guilhermes. Quando íamos jogar bola, a molecada começava a zoeira falando “toca no filho do Burcão”. No final das contas ficou só ‘Burcão’.
MN – Em quais escolas você estudou em Marília?
Burcão – Primeiro na escola ‘Ciranda, Cirandinha’ (Castelo Branco). Depois fui para a escola ‘Américo Capelozza’ (Jardim Lavínia) e escola ‘Professor Antônio Reginato’ (Palmital). Atualmente eu estou cursando o primeiro ano da faculdade de Gestão Pública.
MN – Como tem sido essa experiência?
Burcão – Está sendo uma experiência boa demais. Nesse ramo que eu estou levando minha vida, é necessário.
MN – Como você começou a desenvolver trabalhos sociais em Marília?
Burcão – O meu irmão é o Matheus Reis, mais conhecido como Black. Ele é publicitário e fazia muitas festas e shows aqui na cidade. Eu também fui para o ramo de eventos e fiquei uns 13 anos organizando apresentações de pagode, funk e outras festas em Marília. Teve um período que eu parei de fazer as festas e uns amigos me falaram que poderíamos ajudar as pessoas. Eu topei na hora e a primeira ação social que fizemos foi na entrega de ovos de Páscoa.
MN – Como foi essa primeira experiência?
Burcão – Juntamos alguns amigos e fomos até o Atacadão comprar ovos de Páscoa e distribuímos na Vila Barros. Como sobrou um pouco, fomos então ao Jânio Quadros e depois no Marina Moretti. Conseguimos atender três bairros e no ano seguinte nos organizamos, pedimos para alguns empresários, conseguimos alguns apoios e até hoje continuamos com isso.
MN – No começo era só essa ação social na Páscoa?
Burcão – Começamos na Páscoa, mas depois outro amigo veio com a ideia de uma festa para o Dia das Crianças. Eu acredito que na Vila Barros seja a maior festa para as crianças da cidade, pois reunimos cerca de cinco mil pessoas.
MN – Mas isso não ficou só na Vila Barros?
Burcão – Com o passar do tempo, já com mais experiência, comecei a ajudar outros bairros a fazer esse tipo de festa. Então eu fui ensinando o caminho para meus amigos. Ajudo no primeiro ano a correr atrás de patrocínios, dou todo o suporte, mas no ano seguinte o pessoal já sabe como fazer e está dando certo. Ajudei o Léo a fazer a festa no Jânio Quadros e como estou morando no Trieste Cavichioli, fiz questão de promover o Dia das Crianças também aqui no meu bairro. Eu faço a festa nos outros lugares e não ia atender as crianças aqui do meu bairro? Tem cinco anos que moro aqui e são cinco anos de festa.
MN – Como foi a festa deste ano no seu bairro?
Burcão – Foi a coisa mais linda do mundo. Conseguimos reunir, assim como na Vila Barros, de quatro a cinco mil pessoas. Como eu estava trabalhando na Prefeitura, conheci muita gente, ganhei mais credibilidade e consegui muitos apoios. Ajudei em muitas festas espalhadas por Marília.
MN – E tudo isso veio antes de você iniciar na política?
Burcão – Muito antes de pensar em entrar para a política. Tem só três anos que comecei nessa área, mas tem dez anos que tento ajudar as comunidades carentes aqui de Marília.
MN – Como a política surgiu na sua vida?
Burcão – Eu sempre fiz ações sociais e certo dia o Alysson Alex me procurou e perguntou se eu não queria sair candidato. Ele disse que se eu não ganhasse, me convidaria para participar da administração, para conhecer melhor como funcionava a política.
MN – Você aceitou na hora ou inicialmente recusou o convite?
Burcão – No começo eu não queria. Eu tenho uma fábrica de pipas e expliquei que meus projetos não eram em troca de votos, mas insistiram dizendo que seria muito bom para a cidade. Eu falei que ia pensar e conversei com alguns amigos que me deram força, mas eu ainda não queria. Então o Alysson me disse que tudo aquilo que eu fazia pelas comunidades, caso ganhasse, poderia fazer para mais pessoas e com mais facilidade.
MN – Como foi disputar a eleição?
Burcão – A eleição surpreendeu. Tive 1.310 votos na minha primeira tentativa, sem experiência nenhuma, só pelas redes sociais mesmo. No começo todo mundo fala que vai votar em você e eu acreditava que podia ganhar. No meio da eleição, os outros candidatos começaram a colocar dinheiro e você via até amigos seus trabalhando para eles. Diziam que só estavam trabalhando, que iriam votar em mim, mas já não sentia a mesma firmeza.
MN – Quanto você investiu na sua campanha?
Burcão – Foi uns R$ 5 mil em panfletos, adesivos. O partido pagou uma parte e eu ajudei com um pouquinho, mas não é nada perto do que costumam gastar em uma eleição. No dia que eu perdi, fiquei triste, claro, mas continuei trabalhando. Fui chamado para trabalhar na Prefeitura e eu disse que naquele momento não queria, mas depois de um ano acabei aceitando e isso abriu muitas portas para mim.
MN – Quanto tempo você ficou na Prefeitura?
Burcão – Fiquei um ano e sete meses e consegui ajudar muito mais gente. Não apenas com ações sociais. Sempre atuei nas periferias e as empresas começaram a ajudar mais.
MN – Seu trabalho te colocou em evidência na cidade?
Burcão – Consegui fazer muitas reformas que estavam paradas. Muitas coisas que estavam sem fazer na cidade. Falo para todo mundo que fui uma ferramenta. As pessoas me pediam ajuda para reformar uma praça e eu corria atrás para tentar resolver. O que parecia impossível, a gente fazia em um dia de serviço. Trocar um banco, um pedaço quebrado da calçada, pintura.
MN – Você conseguiu reaproveitar muita coisa que seria descartada?
Burcão – Sim. Tinha escola que estava trocando algum brinquedo. Esse pessoal me avisava, a gente pegava, reformava e instalava em algum lugar que estava sem. Eu mesmo ajudava a pintar, a carregar o material e a instalar. Acho que o que mais incomodou algumas pessoas foi colocar a mão na massa. Eu pintava, eu batia massa e as pessoas começaram a perceber isso. Acho que isso gerou desconforto em algumas pessoas. Já cheguei a tirar dinheiro do meu bolso para comprar um rolo para continuar uma pintura e terminar o trabalho.
MN – Você se sentiu traído?
Burcão – Não. Traído eu não me senti, em nenhum momento. Sei que isso é do jogo, infelizmente. O prefeito Daniel Alonso (sem partido) me deu todo o suporte, conversou comigo sobre a situação. Ele disse que existem momentos que precisam trocar as peças do tabuleiro.
MN – Sua saída gerou uma repercussão em Marília. Como você viu isso?
Burcão – Quando eu estava na Prefeitura de Marília, todo dia você via obra na cidade. Depois que eu saí, parou um pouco isso. Tinha muita gente com projetos esperando para atendermos. Eu estava correndo atrás de parceiros. Os reeducandos faziam um trabalho de consertar alguns brinquedos.
MN – Como era para você conseguir resolver essas questões?
Burcão – A minha maior satisfação era chegar a um lugar abandonado e mudar aquele ambiente. Quanto mais abandonado, maior era a transformação. Todo mundo ficava impressionado. A praça no Argollo Ferrão, que tem uns 40 anos, era só lixo. Hoje você vê as crianças brincando.
MN – Quais locais foram marcantes para você?
Burcão – No Pedro Sola teve uma boa repercussão, mas principalmente no Cavallari. Era um lugar que não tinha nada. Fui lá e o pessoal do skate disse que tinha uns patrocinadores. No início a ideia era só fazer uma pista de skate, mas quando o prefeito e o Alysson viram o projeto, logo se empolgaram. Fomos então para a quadra e ficou muito bom. Acho que foi quando meu nome começou a se destacar. Começaram então a tirar o sarro em mim, me chamando de engenheiro.
MN – Você se sentiu menosprezado?
Burcão – Eu não me senti menosprezado, pelo contrário, fiquei até contente. Se estão falando de você, está fazendo um bom trabalho, dando resultado. O mais importante para mim não é o que os vereadores falam, mas o que a população fala de mim. A população estava contente e elogiando. Até hoje o pessoal me liga perguntando se eu não vou voltar para a Prefeitura. Pessoas de todos os bairros continuam me ligando.
MN – Como você se sente com esse apoio que ainda recebe?
Burcão – As pessoas falam que eu era o elo das comunidades com a Prefeitura de Marília. Essa população que tanto precisa, mas que não tem ninguém para atender eles. Passei por vários bairros e consegui deixar algo de bom. Eu deixava meu telefone com os comerciantes em cada região, caso vissem que algum brinquedo estava quebrado, podiam me ligar para tentarmos resolver o mais rápido possível. Eu estou triste em acordar cedo e não ir mais fazer isso pelas pessoas.
MN – Você se tornou um representante da periferia e Marília teve o vereador Ivan Negão (PSB), que também representava as comunidades, mas morreu durante o mandato. Como foi essa perda para a cidade?
Burcão – É muito triste. Conhecia ele antes da política. A gente viajava junto. Quando ele entrou na Dferente Jeans, eu tinha uma loja de roupas na mesma época e viajava muito para São Paulo. Fazíamos parte de uma mesma comunidade. Durante a campanha tivemos alguns estresses por sermos concorrentes, mas nada demais. A gente sempre foi amigo e eu chorei muito quando ele morreu. Ele fez a parte dele na Câmara. Foi um bom vereador para a nossa comunidade e eu queria que ele estivesse vivo. Precisamos de mais pessoas como ele, lutando pela nossa população.
MN – O que você acha que ainda falta para a cidade de Marília?
Burcão – Falta muito lazer. Também saúde, mas isso é um problema no Brasil inteiro. Precisamos dar um jeito de resolver. Precisa de uma UPA urgente no Maracá e também uma base da Polícia Militar. Acredito que, agora que temos dois deputados eleitos por Marília, pode ser que a coisa engrene. Faltam mais pessoas querendo fazer mais.
MN – Como você vê a próxima eleição? Quais são os nomes que despontam com o apoio do prefeito Daniel Alonso para a sucessão na Prefeitura de Marília?
Burcão – Estão trabalhando os nomes do Cícero do Ceasa e do Alysson Alex. Acredito que são dois nomes fortes. Não dá para dizer quem vai ganhar a eleição, mas são dois nomes fortes. Tanto o Alysson, quanto o Cícero. Hoje eu acredito que um dos dois será o candidato. Pelo cenário que estou acompanhando. Pode até ser uma dobradinha.
MN – Você deixa alguma mensagem para as pessoas que ficaram frustradas com sua saída?
Burcão – O sonho ainda não acabou. Logo estaremos novamente lutando pela população. Se Deus quiser vem coisa boa por aí.