Imagens mostram o descaso com a saúde pública em Marília
A situação do Hospital das Clínicas (HC) em Marília é cada vez mais grave. A reportagem do Marília Notícia conseguiu fotos exclusivas, enviadas por uma leitora, que mostram a triste realidade da saúde na cidade. As imagens mostram a precária estrutura física do hospital, que não dá as mínimas condições de higiene, segurança e conforto aos pacientes.
De acordo com testemunhas que preferem não se identificar com medo de represálias dentro do hospital, os corredores ficam lotados de pacientes todos os dias. Uma das macas aparece sem colchão e outra sem lençol. Idosos com mais de 70 anos esperam por atendimento de forma improvisada, sentados em cadeiras de rodas, alguns até dormem, sem nenhum conforto.
Em uma das imagens, uma mulher aparece com a perna para cima de uma forma totalmente inadequada. A ‘mini escada’ que deveria ser usada para o paciente subir e descer da maca, é utilizada como apoio para a perna da mulher.
As outras fotos mostram pacientes aguardando ao lado dos banheiros, papagaios enferrujados e até uma garrafa plástica de água mineral é usada como apoio para o suporte de soro e medicamentos.
“Pacientes ficam ali [no corredor] por mais de uma semana, urinando e evacuando em papagaios e fraldas. Outros pacientes e acompanhantes ficam ao lado vendo tudo isso, é muito humilhante. Quando necessitam de banho, acontece ali mesmo, na frente de todos.”, disse uma das funcionárias do complexo Famema.
Outra testemunha que trabalha no HC diz que é preciso fazer muito esforço para levar pacientes de um andar a outro, pois faltam elevadores. “Os diretores sabem o que acontece. Mas eles não estão nem aí, porque o que importa é a verba que o governo dá para cada internação. Para eles não tem problema se o paciente dormir no chão”, diz a funcionária.
Humilhação
As fotos chegam dias após um grave caso que aconteceu dentro da unidade hospitalar: um paciente de 102 anos que havia acabado de entrar no setor de Urgência do Pronto Socorro com Acidente Vascular Cerebral (AVC), caiu no chão e sofreu corte no rosto após uma das hastes da maca em que estava romper.
Para Dionísia Ferreira Gaia, filha do paciente que caiu da maca, o fato nunca poderia ter ocorrido. “Sei que lá é lugar para pobres, mas eu senti uma humilhação muito grande ao ver uma maca quebrada e meu pai no chão. Ninguém merece isso. Devia ter um acompanhamento melhor. Isso pode acontecer com outros pacientes. Com o meu pai podia ter sido fatal”, desabafa.
Para a outra filha do senhor Otávio Ferreira Gaia, a situação é revoltante. “É um absurdo ter maca quebrada no corredor. E eu vi que eles colocaram outro paciente na mesma maca. É revoltante e queremos justiça para que isso não aconteça com mais ninguém”, afirmou Tereza Ferreira Gaia,de 52 anos.
Resposta do HC
O Hospital das Clínicas respondeu através da sua assessoria de imprensa que a demanda é maior do que o hospital pode suportar, já que o HC atende através do SUS toda a região integrante do Departamento Regional de Saúde – DRS IX – compreendendo 62 municípios com população de um milhão e duzentos mil habitantes, referenciada para alta complexidade de urgência e emergência.
Em nota, a assessoria diz que em todo o ano de 2013, a média diária do atendimento de pacientes de Urgência e Emergência no Hospital das Clínicas foi de 63 e a média diária de pacientes por demanda espontânea foi de 83 pacientes.
“Existe a necessidade de reestruturar o atendimento básico nas unidades de saúde dos municípios para que haja equilíbrio da demanda de atendimento aos pacientes. A média de atendimento mensal é de 5 mil pacientes. Deste total, 70% são referentes à demanda espontânea e 90% de média e baixa complexidade, ou seja, pacientes que deveriam estar em UBS (Unidades Básicas de Saúde), UPA (Unidades de Pronto Atendimento), Hospitais de Apoio ou em HPP (Hospitais de Pequeno Porte) nos municípios que integram o DRS IX, inclusive Marília”, diz em trecho da nota.
Problemas financeiros
Ainda segundo a comunicação do HC, tomando como base o ano de 2013, o convênio SUS pagou cerca R$ 40 milhões ao hospital. Em contrapartida, o Complexo Famema executou procedimentos que proporcionaram o financiamento no valor de R$ 48 milhões. A diferença de receita para despesa foi de cerca de R$ 8 milhões (déficit anual), ou ainda, déficit mensal de R$ 688 mil.
Balancetes de 2014 comprovam que o déficit mensal neste ano chega a R$ 750.000,00. Diretores da instituição alegam que os procedimentos de baixa e média complexidade estão comprometendo financeiramente e assistencialmente o Complexo Famema.
“Toda esta situação foi demonstrada pela Direção do Complexo Famema aos gestores da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo. A SES-SP sinaliza a possibilidade de reestruturação da rede hospitalar e ambulatorial na região de Marília, através de regulação de vagas para consultas, internações e exames. Se for implantada nova gestão compartilhada de atendimentos hospitalares, o Complexo Famema deverá atender apenas alta complexidade, viabilizando maior equilíbrio entre ofertas e demandas, atendimentos com regulação.”, finaliza a nota.