Legalização das drogas não é ‘liberar geral’, diz FHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou em evento nesta terça-feira, 28, que a classe política brasileira tem medo de debater a descriminalização das drogas. O tucano voltou a defender que o usuário de pequenas quantidades não seja preso e afirmou que a legalização não é “liberar geral”.
“No geral, os setores políticos são mais medrosos, porque supõem que isso vai ter resultado eleitoral negativo pra eles”, disse FHC. “Existe medo das pessoas envolvidas no processo decisório de entrarem neste tema.”
Do ponto de vista da população, acabar com o problema é a prisão dos usuários, afirmou defendendo que é preciso “quebrar o tabu” na sociedade. A bandeira de descriminalização das drogas tem sido uma das principais defendidas pelo ex-presidente nos últimos anos, inclusive em eventos internacionais. Por conta do temor da classe política, FHC afirmou que parte expressiva do avanço do tema no País tem se dado mais no Judiciário do que no Congresso.
“A ideia de legalizar não é ‘liberou geral’. As drogas podem fazer mal”, disse durante o debate desta terça, que reuniu também o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, na sede do instituto que leva o nome do ex-presidente, no centro de São Paulo. “Você tem que tratar essa questão muito mais em termos de uma visão inteligente do processo, com o objetivo de reduzir o consumo das drogas, porque elas todas te fazem mal.”
FHC ressaltou em sua apresentação que a distinção muito usada de droga pesada e droga leve pode ser ilusória. “Uma droga leve usada abusivamente pode causar um estrago enorme, incluindo nisso a maconha. E uma droga pesada eventualmente usada não faz o estrago equivalente”, disse ele, citando que o governo de Portugal resolveu tratar o “conjunto das drogas”.
Tanto FHC como Barroso defenderam no evento que não se coloque na cadeia a pessoa pega com uma determinada quantia de droga destinada para o uso pessoal. Barroso mencionou que o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, com cerca de 650 mil presos.
“No Brasil, a gente prende muito, mas prende mal”, disse ele, destacando que a maior parte dos detentos é formada de negros e pobres.