Latrocínios se concentram na periferia de SP em meio a queda de mortes na cidade
A cidade de São Paulo registrou no primeiro semestre deste ano uma diminuição no número de assassinatos, mas essa queda se deu de maneira desigual nas diferentes regiões da cidade a redução foi maior centro expandido, e menos intensa na periferia.
Essas áreas nas franjas da cidade tradicionalmente já concentravam crimes violentos, mas isso ficou ainda mais acentuado em 2024.
No total, o número de homicídios dolosos (quando há intenção de matar a vítima) da capital paulista caiu de 266 no primeiro semestre de 2023 para 232 no mesmo período deste ano, uma redução de 12,7%.
Quando é feita a separação por área da cidade, o número de casos no centro expandido teve uma redução de 43% caiu de 51 para 29. Já na periferia a redução foi de 5,6%, uma queda de 215 para 203.
Movimento semelhante aconteceu nos casos de latrocínio (roubo seguido de morte). Esse tipo de crime teve um ligeiro aumento no total no município, indo de 22 casos nos primeiros seis meses do ano passado para 27 em 2024.
Na divisão por áreas, o número de ocorrências no centro expandido caiu de 6 em 2023 para 3 este ano (nos distritos policiais da Lapa, do Campo Belo e do Jardins), enquanto a periferia teve aumento de 16 para 24 -a maioria em áreas pobres, como Parque Santo Antônio e Parelheiros, na zona sul; Itaim Paulista, Vila Matilde e Lajeado, na zona leste, e Vila Gustavo e Vila Penteado, na zona norte.
No primeiro semestre de 2022, a cidade teve 30 casos, sendo 7 no centro expandido e 23 na periferia.
A região central tem visto uma redução de crimes desde o reforço no policiamento na área para conter registros de saques, roubos, furtos e mortes na sequência da dispersão da cracolândia ocorrida há dois anos.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse estar empenhada no combate à criminalidade em toda a capital e que analisa continuamente a variação dos crimes contra a vida, incluindo homicídios e latrocínios. “Vale esclarecer que cada área possui características populacionais, sazonais e geográficas únicas, que impactam nos indicadores criminais.
Portanto, para garantir a segurança em todas as regiões, a pasta tem reorientado as atividades policiais e o patrulhamento nas ruas com base nos monitoramentos realizados”.
Uma das vítimas de latrocínio este ano foi Leonardo Rodrigues Nunes, 24. Ele foi baleado na rua Rolando, no Sacomã, na noite de 12 de junho. O jovem tinha marcado um encontro por um aplicativo de relacionamento. Ao chegar no local, foi surpreendido por dois ladrões em uma moto. Consta no boletim de ocorrência que ele brigou com um deles, que atirou. Seu celular, os documentos e o cartão foram levados.
Nunes foi levado ao Hospital Estadual do Ipiranga, onde morreu. Sem notícias, amigos do rapaz chegaram a registrar o desaparecimento dele em uma delegacia. Aquela altura, ele já estava morto, mas como foi encontrado sem documentos, demorou a ser identificado.
“A polícia está bem empenhada com as investigações. Um já está preso”, disse a corretora de seguros Adriana Leonel Rodrigues da Costa Nunes, mãe de Leonardo.
Para ela, o ataque contra o filho foi um crime de ódio, por ele ser gay. “Foi direcionado. Estamos vivendo em um mundo doente. Isso é triste. É revoltante. O caso do Léo só não ficou no esquecimento porque viram que ele tem família. Muitos não viram nem estatísticas”, acrescentou.
Segundo a SSP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa prossegue com as investigações do caso, tratado até agora como latrocínio. “Equipes da unidade já estão ouvindo familiares e amigos da vítima. Além disso, uma vítima de roubo com o mesmo método foi identificada e também prestou depoimento. Os laudos periciais estão sendo elaborados e serão analisados pela autoridade policial assim que finalizados”.
O coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha, disse que ainda é preciso entender esse movimento na cidade. “É importante a gente ter em mente que, ainda que o latrocínio seja um crime violento, letal, um crime contra a vida, ele se relaciona muito mais com a dinâmica de roubos. O latrocínio é um roubo que deu errado, ele é um roubo onde, por algum motivo, o ladrão matou a sua vítima, durante o cometimento de um roubo de celular, de um carro”.
“O que pode estar mais associado a esse aumento do latrocínio nessas regiões é o aumento dos roubos. Então, você tem uma diminuição dos roubos no centro da cidade, e aí junto vem uma queda dos latrocínios, enquanto essas dinâmicas de roubo vão para outras regiões, acrescentou”.
Como exemplo, Rocha cita os aparelhos de telefone celular, um dos principais alvos de ladrões. Os números de roubos na área do 95° DP (Heliópolis), onde Nunes foi atacado, corroboram com a explicação do pesquisador. Em seis meses foram 901 ocorrências registras ante 579 no ano passado, alta de 55%.
Em relação aos homicídios dolosos, mesmo em queda, 34 das 93 delegacias da capital registraram um número maior de mortes em relação ao ano anterior. Elas foram responsáveis por receber 128 queixas de mortes das 232. A quantidade de distritos com alta é o mesmo observado no comparativo de 2023 com 2022.
A diferença está mais uma vez na localização. Neste ano, 30 delegacias em bairros da periferia e 4 do centro expandido tiveram aumento. Em 2023, 8 delas estavam no centro expandido e 26, na periferia.
“O site da secretaria tem uma postagem falando que o centro registrou o menor número de homicídios no primeiro semestre de ano. A questão é a que custo. Quantos policiais estão mobilizados ali, como isso tem afetado o restante do policiamento na capital e, principalmente, o que tem sido feito nas outras regiões, principalmente nas periferias, em termos de investigação de homicídios, investigação e desarticulação de quadrilhas de roubos de celulares, isso a gente não tem visto. É muito um foco no centro da cidade”, acrescentou Rafael Rocha.
Leia a nota na íntegra da SSP:
A SSP está empenhada no combate à criminalidade em toda a Capital e analisa continuamente a variação dos crimes contra a vida, incluindo homicídios e latrocínios. Esse monitoramento é feito por meio do SP Vida, que auxilia na criação de políticas públicas de enfrentamento. Esse trabalho permitiu à cidade de São Paulo fechar os últimos 12 meses com as menores taxas de casos e vítimas de homicídios dolosos da série histórica, iniciada em 2001, sendo 3,69 e 4,22 respectivamente, para cada grupo de 100 mil habitantes. No primeiro semestre desse ano, também houve redução, de 10,1% e 12,8% respectivamente em comparação ao mesmo período do ano passado. Se analisado os latrocínios, houve um boletim e uma vítima a menos deste crime em junho deste ano, em comparação com igual mês de 2023.
Vale esclarecer que cada área possui características populacionais, sazonais e geográficas únicas, que impactam nos indicadores criminais. Portanto, para garantir a segurança em todas as regiões, a pasta tem reorientado as atividades policiais e o patrulhamento nas ruas com base nos monitoramentos realizados.
A Polícia Militar, por exemplo, realiza seu planejamento operacional com base na análise de “hot spots” locais de maior incidência sazonal de crimes específicos. Desta forma, é possível adotar medidas como aumento do efetivo ou remanejamento de recursos visando solucionar o problema.
Para reforçar a segurança em toda a Capital, foram disponibilizados mais de 1,7 mil novos PMs e mais de 80 policiais civis por meio das formaturas da atual gestão. Além disso, desde o início de 2023, o policiamento em todo o Estado é reforçado com mais 17 mil policiais, por meio da Operação Impacto.
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POR PAULO EDUARDO DIAS