Lago do Aquarius agoniza de novo com estiagem, água suja e sem nascente
Apesar das chuvas que voltaram a cair em Marília nos últimos dias, após dois meses de estiagem, o nível das represas e lagos que auxiliam ou não no abastecimento em Marília segue em situação crítica.
Na zona norte, os barrancos de terra voltaram a ficar expostos no lago do Jardim Aquarius, área nobre desta região da cidade. Instalado na década de 1970, o espelho d’água está no centro do bairro.
Dividida em grandes poças, a água restante no lago reflete uma realidade recorrente de abandono, já destacada pelo Marília Notícia. A falta de manutenção, apontada por moradores em 2022, e a seca de 2021, que quase esvaziou o lago por completo, são exemplos dessa situação.
De volta ao local na manhã desta terça-feira (15), o MN testemunhou um lago em agonia, outra vez. A cena de desalento não é novidade para quem reside nas proximidades e utiliza o espaço diariamente para caminhadas matinais.
“Parei de andar por 15 dias e quando voltei o lago já estava cheio de terra”, comentou a aposentada Cleusa Maria Oliveira Marin. “Sinceramente, gostaria que fosse uma área de lazer, mas está abandonado”, lamentou Aparecida Cortez.
ÁGUA CONTAMINADA
As colegas de caminhada atenderam a reportagem do MN do lado norte do lago, próximo a duas manilhas que expeliam um líquido escuro com fluxo contínuo e a céu aberto para uma das grandes poças.
Por ali, uma pata conduzia meia dúzia de patinhos por entre águas esverdeadas, coloração semelhante à verificada na represa Cascata, onde a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) confirmou a presença de cianobactérias.
Segundo o órgão, o excesso de nutrientes como fósforo e nitrogênio pode ser provenientes de atividades agrícolas e esgoto e representam risco à saúde humana e, no caso, às dezenas de patos e gansos que utilizam o lago.
“Desviaram a água de chuva que mantinha o lago cheio e só sobrou esgoto que cai continuamente”, afirmou o comerciante Júlio Cesar Lemos Pires, vizinho e voluntário na manutenção do local.
“Todos os dias trato de mais ou menos 60 aves, entre patos e gansos. Recolho lixo e galhos que ficam pelo caminho e o que mais aparecer. Moro por perto faz dez anos e, desde então, faço o que posso”, afirmou ao MN.
SEM NASCENTES
A nova estiagem prolongada do lago do Aquarius tem preocupado entidades de proteção de fauna e flora e ambientalistas. Em suas redes sociais, a Associação Sustentabilidade Popular de Marília e Região expôs sua análise ao problema.
“A causa originária foi a destruição do sistema hídrico que alimentava o pequeno lago que ainda não havia secado devido à água acumulada no lençol freático. Com a falta de chuva, sem a nascente, o lago secou”, afirma a publicação.
A entidade aponta ainda o crescimento imobiliário da região sobre área de manancial, o que teria contribuído para que houvesse o “soterramento das nascentes e a impermeabilização do solo em busca do lucro”.
Enquanto o lago agoniza, água é o que não falta na própria vizinhança. O líquido está disponível para quem quiser encher seus galões com uma mangueira escondida por entre folhagens na rua dos Jaús.
Segundo apurou o MN, a torneira voltou a ser instalada após anos de disponibilidade pelo proprietário do imóvel. A reportagem apertou a campainha às 9h46 e às 9h50, nas duas entradas da mansão, mas não foi atendida.
PROPRIEDADE PRIVADA
Procurado pelo MN, o diretor de fiscalização de posturas da Prefeitura de Marília, Juliano Bataglia, afirmou que o “maior problema” do lago é a estiagem, embora tenha admitido outros “que ainda devem ser resolvidos”.
Questionado sobre a água com odor fétido e escura que “abastece” o lago, Bataglia reafirmou tratar-se de “água de lavagem de quintais” de casas próxima identificadas por “mapeamento”. “Vamos checar de novo isso”, disse.
O MN questionou ainda se a Prefeitura teria verificado se a água cedida gratuitamente pelo vizinho seria de algum manancial que deveria abastecer o lago. “É uma informação que preciso checar”, afirmou.
Por fim, o diretor afirmou que o município aguarda pela conclusão de um projeto de doação do lago, hoje em área particular, ao município. “Com o desdobro, a Prefeitura poderá assumir e providenciar diretamente a manutenção”, explicou.
Em nota, a Prefeitura de Marília informou que “a situação do lago bairro Aquarius” está “associada a vários fatores, incluindo a ocupação do bairro no entorno com novas construções e obras civis” e “longo período de estiagem”.
“A Prefeitura de Marília aguarda a transição de responsabilidade do leito d’água e, portanto, só conseguirá realizar alguma medida após autorização da Cetesb”, conclui a nota.