Julho Verde: prevenção do câncer de cabeça e pescoço e o papel fundamental da nutrição

Julho é o mês dedicado à campanha Julho Verde, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do câncer de cabeça e pescoço, um grupo de doenças que inclui tumores que afetam a cavidade oral, laringe, faringe, seios paranasais, glândulas salivares e outras estruturas da região.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de cabeça e pescoço é o quinto tipo mais comum entre os homens no Brasil, com cerca de 41 mil novos casos por ano. Fatores de risco como o tabagismo, consumo excessivo de álcool, infecção pelo HPV (papilomavírus humano) e má higiene bucal estão diretamente ligados ao surgimento desse tipo de tumor.
O papel essencial da nutrição no tratamento
O tratamento do câncer de cabeça e pescoço pode incluir cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia, que frequentemente afetam funções básicas como mastigação, deglutição, salivação e paladar. Por isso, a nutrição clínica assume um papel central na jornada do paciente.
A manutenção do estado nutricional é fundamental para:
- melhorar a resposta ao tratamento;
- reduzir efeitos colaterais, como mucosite, disfagia, xerostomia e perda de peso severa;
- favorecer a cicatrização e recuperação pós-cirúrgica;
- diminuir o risco de infecções e internações;
- evitar a interrupção do tratamento oncológico por fragilidade física.
Como nutricionista, costumo dizer que a perda de peso em pacientes oncológicos não é apenas um efeito colateral, mas um fator que pode comprometer o próprio tratamento. A desnutrição pode levar à interrupção das terapias, maior risco de complicações cirúrgicas e até mesmo pior prognóstico.
Por isso, manter o estado nutricional adequado é mais do que garantir energia: é otimizar a resposta ao tratamento, preservar a massa muscular e favorecer a recuperação.
O cuidado em equipe: integração entre médico e nutricionista
O tratamento do câncer de cabeça e pescoço deve ser multidisciplinar.
Segundo Dr. Levy Figueiredo, cirurgião de cabeça e pescoço responsável pelo setor de oncologia do Hospital das Clínicas de Marília (HCFamema) e do Hospital Beneficente Universitário de Marília (HBU), o cirurgião trata o tumor, mas o sucesso do tratamento depende da atuação conjunta da equipe. O nutricionista tem um papel vital para garantir que o paciente esteja em condições clínicas de suportar a cirurgia, a radioterapia ou a quimioterapia.
Essa integração permite ao paciente um acompanhamento completo, que considera desde as necessidades calóricas e proteicas até as adaptações na via de alimentação (oral, enteral ou parenteral) conforme o estágio da doença e os efeitos colaterais do tratamento.
Alimentos aliados e alimentos que devem ser evitados
Durante o tratamento, os sintomas orais e gastrointestinais exigem ajustes na dieta. O nutricionista deve orientar não apenas o que comer, mas como e quando comer, respeitando os limites e sintomas do paciente.
Bons alimentos:
- alimentos macios e fáceis de engolir, como purês, sopas, caldos enriquecidos, mingaus e vitaminas;
- fontes de proteína de alta qualidade, como ovos, frango desfiado, peixe cozido, leite e derivados (sem lactose, se necessário);
- frutas cozidas ou em forma de compota, como maçã, banana e pera;
- óleos vegetais e azeite de oliva extra virgem, que fornecem energia de boa qualidade;
- suplementos nutricionais orais, quando prescritos, ajudam na ingestão de calorias e proteínas adequadas.
Alimentos a evitar:
- ácidos e cítricos, como abacaxi, laranja e limão, que podem irritar a mucosa bucal;
- alimentos secos, duros ou crocantes, como torradas e castanhas;
- alimentos muito quentes ou muito frios, que agravam a sensibilidade oral;
- alimentos condimentados e com pimenta, que causam ardência em mucosas lesionadas;
Micronutrientes e exames bioquímicos no suporte nutricional
Além da alimentação, a avaliação de deficiências nutricionais e a suplementação de vitaminas e minerais são essenciais para o bom andamento do tratamento.
Como nutricionista afirmo que a correção de deficiências, como vitamina D, ferro ou zinco, pode melhorar a resposta imunológica e reduzir infecções durante o tratamento. O profissional deve acompanhar exames bioquímicos e ajustar a suplementação conforme necessário.
Vitaminas e minerais importantes:
- Vitamina A: essencial para integridade das mucosas.
- Vitamina C e E: antioxidantes poderosos que auxiliam na cicatrização e defesa imunológica.
- Complexo B (especialmente B6 e B12): apoio ao sistema nervoso e metabolismo energético.
- Zinco e selênio: minerais com ação antioxidante e imunomoduladora.
- Vitamina D: com papel imunológico, é frequentemente deficiente em pacientes oncológicos.
A campanha Julho Verde nos lembra que o tratamento do câncer de cabeça e pescoço vai além do procedimento cirúrgico ou da terapia medicamentosa. A nutrição é um elo vital nessa jornada, garantindo força, qualidade de vida e mais chances de sucesso.
Considero que nutrir o paciente é cuidar da base que sustenta o tratamento. Sem nutrição, não há evolução clínica satisfatória.
Já o Dr. Levy Figueiredo reforça que a oncologia moderna exige um olhar mais amplo. O paciente não é apenas um tumor, ele é um ser humano inteiro que precisa ser tratado com atenção, cuidado e, acima de tudo, em equipe.
Previna-se, informe-se e cuide da sua saúde. Em julho — e o ano todo.
A nutricionista Natália Figueiredo e o cirurgião Dr. Levy Figueiredo atuam juntos no Instituto InMulti, na rua Carlos Botelho, 703, e atendem pelos telefones (14) 3343-6198 e (14) 9 9162-7550 ou pelo site [clique aqui].
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Natália Figueiredo é nutricionista especialista em nutrição clínica e saúde da mulher (CRN-SP 58451)