Jorge Galati e a reconstrução da sociedade
Tempos atrás, quando estava fazendo uma cobertura jornalística, tive a grata satisfação de conhecer a neta do maestro Jorge Galati (1885-1969), a professora Zelinda Tognoli Galati Moneta. Jorge Galati, um dos maiores músicos do Brasil, viveu em Marília. É dele, por exemplo, a composição de ‘Saudades de Matão’, um clássico da música brasileira e que qualquer cantor sertanejo que se preze precisa saber cantar.
A história deste maestro é formidável, principalmente pela humanidade que ele imprimiu não só em suas músicas, mas no cotidiano de seu viver. Seus netos me relataram histórias que confesso me emocionam e jamais saíram de minha memória.
Uma delas começou em Bauru, durante um baile. Galati se apresentava e entre o público que acompanhava começou uma discussão. O bate-boca foi esquentando e eis que um dos gladiadores sacou do revólver para liquidar o oponente. O maestro, que estava acompanhando tudo, desceu do palco e se colocou na frente da arma: “por favor, não mate este homem, ele é meu irmão!”
Imediatamente, o agressor baixou a arma e, envergonhado, pediu desculpas. A possível vítima não era irmão de Galatti. Aliás, era. Não de sangue e nem afetivo, mas irmão se todos nós aceitarmos o fato que somos filhos de um único Pai, o Cristo. Dom Helder Câmara (1909-1999), arcebispo de Recife, tomaria uma atitude semelhante a essa anos depois.
Galati terminou o baile em Bauru sem maiores problemas e voltou para Marília. Anos depois desse fato, o sábio maestro passeando pela rua Dom Pedro, no Centro da cidade, se depara com uma casa. “Nossa, que casa linda, quero comprá-la”, pensou. Checou suas finanças e notou que só tinha a metade do dinheiro para adquirir o imóvel. O jeito foi conversar com o proprietário.
Se apresentou, mencionou que havia se interessado pela casa na Dom Pedro, porém, só tinha metade do valor. No momento, Galati não havia reconhecido o proprietário do imóvel. Mas o proprietário o reconheceu e disse: “maestro, a casa é sua por metade do preço!”. O maestro, assustado, perguntou: “Mas como?”. “Se lhe vender a casa pela metade do preço ainda assim estarei em débito com o senhor…”, teria respondido o vendedor. “Mas, por quê?”, perguntou Galati. “Maestro, sou aquele homem que o senhor salvou em Bauru!”.
E assim, Galatti conseguiu comprar a casa que tanto queria! E a sua neta, a professora Zelinda Tognoli Galati Moneta escreveu a letra do Hino a Marília. Já o maestro de ‘Saudades de Matão’ é autor da música.