Inteligência artificial pode aprimorar diagnóstico de saúde mental, diz Steven Pinker
A inteligência artificial pode aprimorar o diagnóstico de transtornos mentais. É o que defende o canadense Steven Pinker, psicólogo social, linguista, pesquisador, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard e autor de 12 livros de divulgação científica.
Ele acredita que algoritmos de IA podem ser mais útil do que livros e ajudar profissionais da saúde.
Segundo o cientista, a ferramenta é útil pois reúne literatura de diversas áreas, como psiquiatria, psicologia clínica e psicopatologia, por exemplo. “Nenhum terapeuta humano pode saber toda a literatura e é nisso que os computadores podem ser melhores”, afirmou.
“Não acho que há uma diferença qualitativa entre um psiquiatra ir para o DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição] ou para o algoritmo de computadores, porque o DSM-5 é um monte de sintomas, é quase como um algoritmo”, disse Pilker na sexta-feira (28) no Brain Congress 2024, um congresso sobre comportamento, emoções e saúde mental, realizado no Rio de Janeiro.
O pesquisador é membro eleito da Academia Nacional de Ciências, duas vezes finalista do Prêmio Pulitzer e figurou na lista das “cem pessoas mais influentes do mundo” em 2004, elaborada pela revista americana “Time”. Também foi considerado um dos “100 maiores intelectuais públicos do mundo” pela revista Foreign Policy.
O pesquisador voltou aos anos 1950 para citar o feito do psicólogo americano Paul Everett Meehl, que comparou o desempenho humano em diagnósticos psiquiátricos com uma fórmula estatística. Na época, não havia inteligência artificial, mas equações de regressão. Para fazer os cálculos, o pesquisador utilizou variáveis relacionadas à depressão, como histórico da doença, e comparou a previsão da fórmula com as estimativas de psiquiatras.
“A fórmula fez melhor do que todos os psiquiatras”, disse ele. “Sempre devemos ter em mente quando comparamos a inteligência humana com a do computador é que o humano não é tão bom. O computador erra; o humano também, provavelmente mais.”
Por outro lado, Pinker destaca que o ChatGPT não seria a ferramenta indicada. A inteligência artificial para a psiquiatria ou neurologia deve contemplar sistemas especiais projetados para diagnóstico psiquiátrico ou neurológico.
“O ChatGPT simplesmente comprime a informação da web. Não tem experiência em problemas psiquiátricos. Pode requerer um assistente psiquiátrico mais inteligente, ou um assistente de pesquisa psiquiátrica. Não sei se programas como esse existem, mas acho que provavelmente seriam mais confiáveis do que simplesmente perguntar ao ChatGPT”, afirmou Pinker.
REDES SOCIAIS E SAÚDE MENTAL
Steven Pinker fez eco ao discurso de outras autoridades mundiais contra o excesso do uso das redes sociais por crianças e adolescentes.
“Este é um problema que foi abordado por alguns psicólogos americanos, que muitos de vocês já ouviram falar, Jonathan Haidt e JeanTwenge. Eles notaram uma piora da saúde mental nos adolescentes americanos e em outros países. E a teoria deles é que a piora foi ao mesmo tempo em que os smartphones se tornaram populares”, disse o cientista.
Segundo Pinker, os pesquisadores concluem que jovens abaixo de 16 anos não deveriam ter celulares.
Dar dar aparelhos antigos, que só fazem chamadas, é uma das recomendações.
“Recomendo tentar reduzir o número de horas que os adolescentes passam nas redes sociais, que as empresas de redes sociais as façam menos viciantes e se apaguem as atividades que possam viralizar”, declarou.
Recentemente, a maior autoridade de saúde dos Estados Unidos, Vivek Murthy, pediu que plataformas de mídias sociais, como Instagram, TikTok e YouTube, incluíssem um aviso de que o uso pode ser prejudicial à saúde. O rótulo de advertência serviria como um alerta para aconselhar os pais de que o uso das redes sociais pode prejudicar a saúde mental dos adolescentes.
A repórter viajou para o Rio de Janeiro a convite do Brain Congress 2024.
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POR PATRÍCIA PASQUINI