Imprensa de Marília comemora 95 anos com forte presença nos marcos históricos da cidade
Antes mesmo de Marília ser considerada um município, a imprensa já havia se consolidado na região conhecida como patrimônio Alto Cafezal. A mídia, portanto, nasce localmente em meio a lotes de terras, linhas ferroviárias e uma infinidade de plantações de café, em 1928, com a criação do Correio de Marília – quase um ano antes da emancipação político-administrativa da cidade.
Localizada no cerne da estruturação municipal, portanto, a imprensa local se consolida como um dos grandes pilares que sustentam a sociedade democrática. Não é por acaso que a mídia mariliense é destaque como uma das mais antigas e atuantes da região.
Profissionais com currículos extensos, que atravessam os principais jornais, como Folha de São Paulo e Estadão, rádios conceituadas, como a Gazeta, e redes de televisão populares, como a TV Globo, escolheram o município mariliense como suas casas. Mais importante, porém, para os principais fatos e informações locais, são suas atuações em veículos diversos que já estiveram ou ainda resistem na cidade.
Após o surgimento do Correio de Marília, vieram muitos outros: A Tribuna, Jornal do Comércio, Marília News, Diário de Marília, Jornal da Manhã, Bom dia, Correio Mariliense, etc. Rádios, TVs, assessorias de imprensa e, mais recentemente, os portais de notícias fazem o papel importante de informar com responsabilidade e checagem de fatos.
O Marília Notícia conversou com alguns dos muitos excelentes profissionais do jornalismo local e recebeu fotografias históricas, que compuseram as principais notícias, produzidas pelo experiente fotojornalista Edio Junior, do Jornal da Manhã. Ele também contextualizou e ajudou com as datas dos registros.
IMPRESSO
Jornalista há 50 anos, Jocelin Machado de Oliveira, de 72 anos, atual editor-chefe do Jornal da Manhã, ressalta a importância do ofício na defesa de interesses da comunidade.
“A imprensa de Marília tem papel preponderante nas questões locais e regionais. Foram muitos casos de destaque em todos esses anos de carreira, mas certamente, um dos casos que mais chamaram a atenção, inclusive da grande imprensa foi a denúncia de venda de vagas em universidades de várias cidades, mas principalmente para o curso de Medicina por um empresário de destaque da cidade que tinha um cursinho pré-vestibular”, compartilha Oliveira.
Há 32 anos no conhecido JM, Oliveira já passou pelos jornais A Tribuna, Correio de Marília, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde e TV Globo Oeste-Paulista (hoje TV Tem). O experiente jornalista defende a grande relevância dos meios tradicionais.
“O JM é o único remanescente da ‘velha guarda’ do impresso. O jornalismo mudou, cresceu e se diversificou com novas mídias, mas o impresso ainda continua atuante e importante neste cenário, apesar da facilidade de leitura e pesquisa através da Internet e os blogs e sites. Lógico que isso faz com que as notícias tenham maior repercussão hoje em dia, tanto que o Jornal da Manhã também investiu nas redes sociais. Essa repercussão do noticiário dos jornais, rádios, blogs, sites tem grande influência nas decisões políticas e também em outros setores da sociedade”, pondera.
ON-LINE
Do outro lado, o jornalismo digital surge nos anos 2000 e, em pouco tempo, impacta fortemente questões da cidade.
Rogério Martinez, de 54 anos, fundou o Giro Marília em 2014, a partir de um projeto dirigido pela publicitária Alessandra Custódio. Antes disso, porém, Martinez passou por muitas outras experiências na área que acumula 36 anos de atuação.
Marília News, Jornal do Comércio, Folha de São Paulo e Diário de Marília, além de diversas assessorias de comunicação, passando pela Confederação de Vôlei, times como São Paulo e Flamengo, e shows internacionais – esses são alguns dos trabalhos presentes em seu currículo.
Em 2014, Rogério e Alessandra consolidam o Giro. “Ela já tinha 16 anos de carreira como publicitária, então juntamos com minha experiência com jornalismo digital, porque em São Paulo tive acesso a muitas ferramentas de sites como Uol, Terra, blogs e contato com os primeiros influencers, e criamos um dos pioneiros da web na região”, conta.
“O on-line deu agilidade, independência e possibilidades infinitas que estamos buscando. Além das pautas de instituições e serviços públicos, o Giro nasceu para ser um espaço de visibilidade. Mostrar as pessoas e suas relações. É tanta gente que faz a vida da cidade muito além dos órgãos oficiais”, narra Martinez.
Para o jornalista, cidades pequenas geralmente se destacam através dos “escândalos”, mas, para além disso, pautas como a evolução do Hospital das Clínicas (HC) com grande impacto para a Saúde, duplicação e evolução das rodovias, obras, modernizações e a formação do Parque Tecnológico são assuntos de grande relevância para Marília.
“Acompanhei escândalos também, como o caso Cascata, com denúncia de crimes na Prefeitura, o acidente do Osmar Santos, o incêndio no jornal Diário, entre muitos outros”, compartilha.
“Marília sempre teve uma imprensa forte, com papel de informar, dar voz e espaço, principalmente com checagem dos fatos, o que dá credibilidade aos veículos e profissionais. Apesar de estar submetida a certa influência e interesses políticos, a mídia tem papel fundamental na formação de opiniões, debates e direcionamento de discussões públicas”, analisa o editor.
Há 43 anos “na estrada”, Klaus Bernardino, de 58 anos, foi o primeiro a se aventurar no jornalismo on-line mariliense. Fundador do Visão Notícias, o profissional conta sobre as dificuldades dessa migração.
“Comecei no ‘chumbão’ – linotipo e impressora que era do tipo de gráfica mesmo – e passar disso para o on-line foi desafiador. Em 2000, fui convidado a participar do primeiro projeto de jornalismo on-line do interior, em Araçatuba. Chegando lá, eu nunca tinha nem encostado em um computador”, lembra com bom humor.
Uma década depois, em 2010, Klaus teve literalmente uma “visão” durante um sonho, quando então teve a ideia de criar o site. O Visão Notícias nasce, portanto, como o primeiro veículo jornalístico on-line de Marília.
“No começo não foi fácil. Ninguém acreditava na época, em Marília, que o jornalismo on-line daria certo. Rádio, TV e jornal eram os principais meios de comunicação. Mas, não desisti. Foi tudo na raça mesmo. Como ninguém acreditava, achar patrocinador era ainda mais difícil. Percebi que estava no caminho certo quando fechei o primeiro grande contrato”, narra Bernardino.
O jornalista diz que ficou feliz ao perceber que vários outros colegas também partiram para o ambiente digital. “Não vejo outros sites como concorrentes e, sim, como parceiros. Quem ganha com essa disputa saudável é o internauta”, declara.
RÁDIO E TV
Difícil encontrar em Marília quem não conhece o jornalista, radialista e apresentador Jô Fabiano, de 62 anos. Com atuação na Rádio desde os 16 anos, Jô carrega uma extensa experiência em diferentes veículos e cidades.
Passando pela Rádio Clube de São André, de Rondonópolis, de Ribeirão Preto, Rádio Dirceu em Marília e Rádio Gazeta em São Paulo, Fabiano também é destaque no audiovisual, atualmente atua como apresentador da TV +, antiga TV Cidade.
Para o profissional, o segredo de manter sua integridade durante todos esses anos é a busca constante pela ética e imparcialidade. “Toda informação é importante, mas deve ser transmitida de forma correta, com todo um trabalho de checagem. Uma notícia equivocada pode destruir a vida de uma pessoa”, pondera.
“O papel da imprensa é levar a informação com maior velocidade e facilidade”, define Jô Fabiano, que também coleciona inúmeras memórias no ofício.
“Logo no início da minha carreira, o gerente da rádio onde eu trabalhava me deu um gravador e falou ‘vai lá entrevistar o Sérgio Reis’. Ele ia fazer um show em Garça no ano de 1978 e eu era muito fã. Conversamos, foi muito bacana, mas na hora do show, ele começou a me chamar para subir no palco. Acabei cedendo e até segurei o microfone para ele tocar o berrante. Eu tinha 18 anos e foi um episódio bacana que me marcou muito”, lembra descontraído.
Com papel importante na divulgação de eventos culturais, as rádios costumavam receber convidados e artistas – às vezes sem avisos. “Em 2009, enquanto fazia meu programa em uma rádio de Marília, a recepcionista me chamou no estúdio e disse que um cantor queria divulgar seu show que faria à noite. Ele entrou, deu entrevista ao vivo, fez uma participação. Era o Luan Santana no começo da carreira, época do ‘Meteoro da Paixão'”, relembra Jô.
A imprensa de Marília – desde os primórdios da cidade – sempre esteve intrinsecamente atrelada à história de fundação e criação da cidade enquanto município. Não há sequer uma vírgula que possa ser descrita sem que o contexto esteja enraizado nos fatos que marcaram época. Dos antigos relatos da saudosa ferrovia às atuais matérias publicadas nos periódicos on-line, a imprensa local se destaca pela atuação, comprometimento e dedicação – com crédito aos profissionais da área.