Polêmica do PIX nas igrejas não passa de histeria
Sacar dinheiro em espécie em um caixa eletrônico, transitar com valores, colocar em um envelope e levar a um culto público, apenas como um ato litúrgico. No tempo em que transferências eletrônicas predominam, o dízimo não pode ser em PIX? Simplificar a rotina – também para atos de fé – provoca novos comportamentos.
Em Marília, igrejas cristãs – praticantes da coleta do dízimo e ofertas voluntárias dos fiéis – já aderiram à nova modalidade de movimentação financeira. Muitas delas informam em seus sites e durante as celebrações a chave no sistema bancário simplificado, para envios de valores.
Historicamente, os religiosos recebem as contribuições de seus membros. Com estes recursos, conseguem se manter como instituições seculares.
O pastor Augusto Gonçalves, presidente do Conselho de Pastores Evangélicos de Marília e responsável pela Igreja Metodista Livre, afirma que a prática do dízimo é biblicamente fundamentada e segue inquestionável nos dois milênios de história do Cristianismo.
“O mundo está passando por profundas mudanças tecnológicas e culturais. A pandemia apenas acelerou o processo em cerca de uma década. As pessoas compram e estudam pela internet, reúnem-se em plataformas virtuais, pagam suas contas pelo celular e utilizam cada vez menos o dinheiro em espécie, até por questões de segurança”, aponta ao Marília Notícia.
O pastor considera que a igreja, naturalmente, se contextualizou diante das demandas contemporâneas. Antes da pandemia, segundo Gonçalves, já era comum que membros da igreja pedissem espontaneamente ao tesoureiro o número da conta corrente para transação eletrônica.
“Isso acontece porque, realizar pagamentos com papel-moeda, já não fazia parte de estilo de vida daquele cristão. Portanto, ofertar liberalmente para sua igreja, por meios bancários, era o caminho natural”, contextualiza.
PANDEMIA E HISTERIA
Em março de 2020, as igrejas interromperam as celebrações presenciais. O presidente do Conselho lembra que as organizações mais estruturadas migraram rapidamente para o modelo on-line. Outras não conseguiram e sofreram grande impacto. “Inclusive algumas igrejas, em regiões da periferia da cidade, cessaram suas atividades no período”, relata.
A adesão ao recebimento de contribuições de forma eletrônica se intensificou no auge da pandemia e do isolamento social.
“As igrejas disponibilizaram número da conta corrente para depósitos e transferências bancárias de seus membros, o que foi recebido com muita naturalidade. Uma ou outra polêmica não passou de histeria das redes sociais”, classifica o pastor.
DEUS ESTÁ VENDO
Para o cristão que incorporou a prática em seu estilo de vida, acredita Augusto Gonçalves, entregar o envelope nas mãos do tesoureiro da igreja ou depositar a oferta no gazofilácio do templo ou fazer uma transferência bancária, não faz diferença.
“Para quem entende que sua oferta transcende as instituições humanas, a atitude faz parte de sua expressão de adoração a Deus. Sinceramente, não vejo nenhum problema ético ou desvio religioso, pelo contrário, a prática amplia a transparência contábil do processo”, conclui o pastor.
A reportagem do Marília Notícia também buscou posicionamento da Igreja Católica na Diocese de Marília, mas não obteve retorno até a publicação da matéria. O espaço segue aberto à manifestação.