Hidrelétricas da região têm queda de 43% na produção de energia
A geração de energia nas quatro usinas hidrelétricas mais próximas de Marília – sistemas Tietê Paraná e Paranapanema – teve redução média de 43% na capacidade de entrega ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em junho e julho desse ano.
A base de comparação é com o mesmo período do ano passado. O motivo da redução foi a crise hídrica, que já é considerada a pior da história.
Vale lembrar que a queda na produção não impacta, necessariamente, o consumidor residencial ou industrial da região. No Brasil, vigora um modelo de centralização e distribuição da produção energética.
Os dados fazem parte de relatório mensal do ONS e mostram, por exemplo, que a geração nas unidades Chavantes e Salto Grande recuaram, respectivamente, 46% e 33% no bimestre, ante aos volumes entregues em megawatt/médio (MW/Med) do mesmo período do ano passado.
Nas hidrelétricas de Barra Bonita e Promissão (Rio Tietê), a situação foi ainda pior. Os números do órgão federal apontam queda de 46% e 48%, respectivamente.
Com a energia elétrica gerada pela força das águas mais escassas, o brasileiro está pagando mais na conta de luz, devido à ativação das termoelétricas. O sistema de bandeiras tarifárias está, atualmente, na faixa de maior valor e indica a máxima dependência das fontes mais caras.
Ao longo de todo o primeiro semestre, as quatro hidrelétricas da região estão com volumes inferiores de produção, se comparado com o mesmo período do ano passado. A maior perda foi na unidade de Promissão, que “encolheu” em 9,90% no período, ou seja, um déficit de 280 MW/Med.
O volume, que as quatro usinas – consideradas de pequeno porte – deixaram de gerar no semestre, corresponde a 554 MW/Med. Ou seja, seria energia suficiente para que 7,6 mil famílias marilienses utilizassem seus chuveiros por 30 dias, considerando uma hora diária de uso em cada casa.
ANÁLISE
Paulo Pedroza, presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), lembra que o país vive a pior crise hídrica já registrada. “Há 91 anos, o Brasil acompanha a situação das chuvas e essa é a pior marca da série histórica”, alerta.
O engenheiro exemplifica. “Estamos gerando uma energia caríssima, pegando dez vezes mais que o normal. É como se estivéssemos comprando gasolina a R$ 70 reais por litro”, compara.
Uma das bandeiras da entidade, segundo Pedroza, é a redução do valor cobrado pela energia quando os níveis dos reservatórios estão elevados.
“É preciso criar uma agenda estrutural, que afete o preço da energia no Brasil. Temos momentos incoerentes, com a geração custando pouco e os consumidores tendo que pagar uma conta cara”, denuncia.
O motivo da conta alta o ano todo – e ainda mais alta nas crises – é o sistema de termoelétricas que o país possui, que mesmo quando não estão ativas, segundo o presidente da Abrace, exigem milhões em recursos dos brasileiros.
A Associação reúne mais de 50 grupos empresariais responsáveis por quase 40% do consumo industrial de energia elétrica do Brasil e 42% do consumo industrial de gás natural, representando um consumo de energia elétrica maior do que o de países vizinhos da América Latina, como Chile, Colômbia ou Peru.
A grande indústria consumidora de energia é responsável por cerca 49% do valor adicionado ao PIB e quase 67% do investimento no setor privado, embora represente menos de um terço das plantas industriais brasileiras.