HC suspende neurocirurgias e serviço para dores crônicas
Pacientes que precisam de neurocirurgia ou tratamento no ambulatório especializado em dores crônicas de diversas especialidades do Hospital das Clínicas de Marília (HC) estão enfrentando uma demora ainda maior para conseguir atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A espera aumentou porque, além da fila normal, os dois serviços foram suspensos em setembro. O HC é responsável por atender pacientes de 62 municípios da região de Marília.
No sítio em que mora na zona rural de Pompeia, a dona de casa Luciana de Souza da Conceição, de 50 anos, ainda aguardava ser chamada para a aplicação mensal de uma toxina para aliviar a dor.
“Faço tratamento há 20 anos, desde quando extraí um dente”, contou. “Toda vez que vou ao hospital melhora. Do contrário, minha boca entorta e eu só consigo me alimentar de líquidos e sopa.”
O dilema com a dor é ainda maior para Braulina Aparecida do Nascimento, residente no Parque Primavera, zona norte de Marília. Aos 59 anos, ela foi aposentada por invalidez por conviver há mais de uma década com uma neuralgia do nervo trigêmeo no lado direito do rosto.
Conhecida como a ‘pior dor do mundo’, a neuralgia é companhia 24 horas de dona Braulina, além do marido e dos filhos, que a ajudam nos deveres de casa enquanto ela tenta aliviar seu sofrimento com fortes analgésicos.
“Eu estou com muita dor. Agora mesmo acabei de ter uma crise terrível. Estou desamparada, sem neurologista e sem saber o que fazer”, afirmou dona Braulina, em um aparente esforço para se comunicar com a reportagem do Marília Notícia.
Ela reitera ter urgência no atendimento. “Não posso ficar sem o atendimento de um médico que possa avaliar meu caso, que possa me orientar uma cirurgia ou outro remédio para aliviar meu sofrimento que não passa.”
READEQUAÇÃO
Procurado pelo MN, o HC informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o departamento de neurocirurgia está “em processo temporário de readequação”. “Por isso não está realizando neurocirurgias”, informou.
No entanto, a instituição não informa quando e se o departamento será reativado. O hospital diz ainda que os pacientes que necessitem de neurocirurgia serão encaminhados às Santas Casas de Marília e Ourinhos e ao Hospital Regional de Assis.
Quanto às filas de espera, o HC informa que “tem trabalhado com a perspectiva de implantação de filas únicas, regionais e publicizadas”. Os atendimentos de neurologia, fora do âmbito cirúrgico, continuam normalmente.
“Por meio do programa de regionalização da saúde, que já está em andamento, haverá a devida compreensão das demandas locais para atendimento mais assertivo, de modo que a região irá trabalhar com os recursos que já dispõe”, conclui o HC no documento.
A Santa Casa de Marília também declarou ao Marília Notícia que mantém diálogo com médicos e a Secretaria Municipal da Saúde para absorver a demanda de neurocirurgias. “Todas as urgências que exigem intervenção cirúrgica estão sendo atendidas”, concluiu a instituição.