Graves problemas expõem caos na Saúde
A Saúde passa por um momento caótico na cidade de Marília. A expressão é utilizada pelo próprio Conselho Municipal de Saúde (Comus) em publicação no Diário Oficial de Marília (Domm). A situação é comprovada por diversas reportagens publicadas, nas últimas semanas, pelo Marília Notícia. Os apontamentos dão conta de sérios problemas estruturais em unidades de saúde, falta de profissionais e leitos em hospitais e inúmeras reclamações sobre o atendimento à população.
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) divulgou, na última quarta-feira (5), uma extensa lista de graves problemas gerada a partir de fiscalizações de agentes nas Unidades de Saúde da Família (USFs) da cidade. O resultado é assustador e expõe o descaso diante dos serviços públicos no município.
A falha começa pelo fato de que, dentre as oito unidades fiscalizadas, nenhuma contava com Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) ou Certificado de Licenciamento dentro do prazo de validade. Para complicar ainda mais a situação, alguns extintores de incêndio também estavam com o prazo vencido.
Outras irregularidades apontadas foram a ausência de carrinho de emergência e reanimador pulmonar, falta de segurança, organização, conforto e limpeza. Até mesmo foi encontrado lixo branco hospitalar, com materiais infectocontagiosos, descartados em área descoberta.
Ambientes com mofo, parede com infiltração e pintura descascada são outros apontamentos. Falta de vacinas, armazenamento incorreto de medicamentos, espera de até seis anos para uma consulta e a dificuldade de agendamento e encaminhamento para outros ambulatórios também foram irregularidades encontradas.
LICITAÇÃO
Em 2021, a Prefeitura publicou um edital com o objetivo de contratar entidade para a gestão da Estratégia Saúde da Família (ESF). Desde então, o chamamento público foi suspenso diversas vezes, com apresentação de recursos e pareceres jurídicos.
Após quase dois anos da primeira publicação, a abertura das propostas de entidades habilitadas no certame foi marcada para o dia 6 de abril e tudo indica que o processo deve chegar a uma conclusão em breve.
O texto do edital prevê que a empresa vencedora ficará responsável pelo gerenciamento, operacionalização e execução de ações e serviços de Saúde na cidade, o que inclui a manutenção dos prédios, equipamentos e insumos.
Questionada sobre a falta de preservação e consertos nas unidades, a Prefeitura se limitou a dizer que “os apontamentos realizados pelo órgão contribuirão para uma melhor organização dos serviços e acesso da população.”
Em nota, o Executivo ainda diz que, com relação às obras de reparos e manutenções, já existe um cronograma na Secretaria Municipal de Obras Públicas para a realização dessas melhorias.
E, para as obras de grande porte, há um processo licitatório em andamento, sendo que a empresa vencedora desse certame fará as remodelações e adequações necessárias nas unidades de saúde do município, inclusive em outras que não fizeram parte da ação fiscalizadora do TCE.
INVESTIMENTOS
O médico Valdir Silveira Marin, coordenador do Setor de Urgência, indicado pelo município para esclarecer as questões levantadas pelo Marília Notícia, afirma que serão destinados R$ 14 milhões para reformas, sendo contempladas 18 das 44 unidades marilienses.
“A Prefeitura não ficou parada. Apesar dos problemas, corremos atrás também. Temos algumas unidades que tiveram muita infiltração, no Jóquei e em Padre Nóbrega, por causa deste ano atípico com muitas chuvas no início. Mas essas unidades serão as primeiras a serem contempladas”, diz o médico.
FILA DE ESPERA EM MARÍLIA
Sobre o problema das filas para consultas e cirurgias, Marin explica que existe fila de espera em algumas especialidades, mas diz que está em negociação com hospitais particulares para tentar resolver a questão.
“O HC tem demanda de 62 municípios. Estamos negociando com a Santa Casa e Unimar para atender e agilizar essas demandas. Foram quase três anos de Covid-19, quando o pessoal não procurava médico. Muita gente tinha uma doença de menor gravidade, mas que se tornou pior e agora precisa de especialista. As pessoas não procuravam médicos, ficavam em casa e agora estão procurando”, afirma ao MN.
PROBLEMA ELÉTRICO NO PA SUL
Um apontamento do Comus relevou problema na parte elétrica do PA Sul, que por contrato, seria de responsabilidade da Secretaria Municipal da Saúde resolver. Marin afirma que se tratava de um caso com um gerador, mas que já havia autorização para o problema ser resolvido.
“É um gerador que precisa resolver. A administração está correndo atrás. Teve alguns detalhes, não sei te falar se já foi resolvido, mas já foi constatado, temos o diagnóstico e está autorizado a ser feito o que precisa, como no caso em que resolvemos a situação do aparelho de raios-x”, diz.
DEMORA NO ATENDIMENTO
Em relação à reclamação de pacientes com a demora no atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no PA da zona Sul, o coordenador do Setor de Urgência explica que foi criado um aditivo, com a contratação de novos médicos, para dar conta da demanda.
“Já demos uma resposta para a demora. Criamos um aditivo a mais para a Unimar, para contratar um pediatra e dois clínicos no PA Sul. Na UPA, a gente aumentou um pediatra. Tivemos um aumento de atendimento e consequente demora sazonal. O atendimento na atenção básica aumentou 39,14% de fevereiro para março”, revela.
OCUPAÇÃO DE LEITOS
Com relação ao aumento na ocupação de leitos do Hospital das Clínicas (HC), que atingiu 100% de capacidade, o médico afirmou que a situação acontece por causa da sazonalidade de algumas doenças.
“Em fevereiro tivemos um aumento que ninguém esperava. Não tinha onde colocar as crianças. Fizemos reunião e mandamos para o lugar onde tinha leito, para serem assistidas. Leitos são finitos. O importante é dar assistência. O que não pode deixar é evoluir para óbito e não ter assistência. Não tinha demanda de pediatria na pandemia, mas agora as crianças estão tendo síndrome gripal grave. Como não tiveram exposição anterior, não possuem imunidade. Agora quando as crianças pegam um vírus, os casos estão sendo mais graves”, conclui o coordenador.