Filha de dentista morto tem alta e é ouvida pelo Ministério Público
A filha de Aloísio Tassara, de 17 anos, apontada como autora do crime que matou o dentista, teve alta na última sexta-feira (25) e já foi ouvida pelo Ministério Público.
A adolescente estava internada na ala psiquiátrica do Hospital das Clínicas desde o dia 23 de agosto, quando o pai foi assassinado.
Segundo o advogado de defesa da adolescente, Fábio Ricardo Rodrigues dos Santos, agora segue o procedimento da representação.
“Ela [a adolescente] segue em tratamento ambulatorial. Mas está em casa, pois precisa de tratamento” disse o advogado ao Marília Notícia.
Procedimento
O procedimento que foi instaurado para apurar o assassinato do dentista Aloísio Tassara, de 51 anos, foi concluído pela Polícia Civil em 2 de outubro.
Foram ouvidas 19 pessoas e somente em 1º de outubro a jovem prestou depoimento ao delegado Valdir Tramontini, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG). O depoimento aconteceu no Hospital das Clínicas, onde ela estava internada por ordem judicial, e demorou pouco mais de uma hora.
Quando o procedimento foi instaurado o delegado da DIG concedeu uma entrevista ao Marília Notícia.
“Ela relatou todos os fatos, afirmou que se recordava de todos eles e falou de forma detalhada o que teria ocorrido. Eu já recebi os laudos médicos, os laudos de exame de corpo delito, o laudo pericial local e esse procedimento que envolve a adolescente. Encaminhei o relatório ontem (2) para a Vara da Infância e Juventude informando o que até então foi apurado. O procedimento agora está com vistas ao Ministério Público para decisão. Estamos no aguardo de qual a medida ele [MP] vai tomar”.
Na época o advogado de defesa da adolescente afirmou que o caso era uma tragédia familiar e que a menina já vinha passando por problemas de ordem psiquiátrica. Inclusive passaria por uma consulta médica na data dos fatos.
“Eu afirmo que a própria declaração do Delegado Seccional, lá no primeiro dia, é o que realmente aconteceu. E reafirmo que foi uma tragédia familiar. Ela já vinha passando por alguns problemas de ordem psiquiátrica. Inclusive no dia dos fatos, estava com uma consulta pré-agendada com um profissional. Ela vinha fazendo acompanhamento com um e ia consultar outro. Infelizmente aconteceu isso. Ela está abatida por toda essa situação. Ainda está internada, não existe uma previsão de alta. Foi realmente um surto”.
A Polícia Civil havia sugerido exame de sanidade mental para a jovem. “Isso vai influenciar numa eventual aplicação de medida. Se estava plenamente capaz, sabia o que estava fazendo e não estava surtada, provavelmente vai para a Fundação Casa. No caso dela ser totalmente ou relativamente incapaz, pode ser aplicada uma medida de segurança para tratamento ambulatorial ou internação em unidade de tratamento psiquiátrico”, explicou o delegado.
“No início das investigações surgiram comentários de eventual participação de terceiros. Em virtude disso, por cautela, logo no início instaurei um outro procedimento apartado para apurar eventual participação de outras pessoas. Até o presente momento não há nada nesse sentido. Esse outro procedimento aguarda alguns laudos que foram enviados para São Paulo”, disse Tramontini.
O depoimento da jovem foi filmado e encaminhado para o promotor responsável pelo caso, que agora irá decidir qual medida deve ser tomada.
Dinheiro
Tanto o delegado quando o advogado da família afirmaram que o dinheiro encontrado com o dentista na data do crime não tinha ligação com os fatos.
“O dinheiro era de origem lícita, fruto do trabalho dele. Ele já tinha essa tática de estar com dinheiro. Estava com alguns problemas financeiros, mas não tem nada de ilícito nessa situação”, disse o advogado.
“Ele há mais de ano andava com esse dinheiro para cima e para baixo. Era uma coisa costumeira dele. Inclusive ele tinha uma pochete. Um fato que era de conhecimento de toda a família e até de funcionárias de seu consultório. O dinheiro não tem nada a ver com o que aconteceu na casa. A priori seria desencadeado por um surto psicótico da menina”, explicou o delegado.
Entenda
Segundo as informações divulgadas pela Polícia Militar no dia do crime (23 de agosto), a adolescente teria problemas psiquiátricos e durante um surto na madrugada, pegou uma faca e desferiu um golpe no peito do próprio pai, que estava tentando contê-la.
O Samu foi acionado, mas ao chegar ao endereço nada pôde fazer, constatando apenas o óbito. Ao lado do corpo estava a faca usada pela adolescente.
O MN apurou que a primeira equipe da PM a chegar no local, encontrou a esposa da vítima desesperada, gritando por socorro e pedindo aos policiais que salvassem seu marido.
A garota foi encontrada pelos militares no telhado da vizinha, agarrada na chaminé, com outra faca na mão. Após muita conversa, os policiais teriam conseguido fazer com que ela descesse do local.
Ainda de acordo com o apurado pela reportagem, a jovem estava mentalmente desequilibrada e foi levada sedada até o Hospital das Clínicas, onde passou por atendimento médico e não tem previsão de alta.
A perícia foi acionada, sendo que apreenderam a faca encontrada ao lado do corpo com sangue e localizaram também no bolso da vítima a quantia de R$ 2.154,85 e na cueca R$ 16.550,00.
A jovem foi ouvida na última terça, no Hospital das Clínicas, onde permanece internada na ala psiquiátrica. Conforme o apurado ela estava acompanhada pela mãe, o advogado e médicas.
A adolescente deveria ter sido ouvida no último dia 25 de setembro pelo delegado e pela Promotoria da Infância e Juventude, porém momentos antes de falar, entrou em crise psiquiátrica e o depoimento acabou adiado.
A viúva do dentista já havia prestado depoimento na Polícia Civil no final de agosto. Câmeras de segurança também foram analisadas.
A equipe do site também apurou que durante o velório do dentista, uma equipe da Polícia Científica esteve no local, pouco antes do sepultamento, para coleta de material genético do corpo.