Festival da cultura japonesa traz alegria e tira o mariliense de casa
A exemplo do cultivo dos bonsais, arte-botânica de origem oriental, a paciência dos marilienses foi colocada à prova durante a pandemia. Mas neste fim de semana, com feriado prolongado, a cidade teve uma demonstração de que o “tempo da poda” já passou e a vida pode voltar à normalidade. Milhares de pessoas lotaram o Nikkey Marília para prestigiar a Japan Fest, na noite deste sábado (23). O evento terminou na noite deste domingo (24).
O pastor evangélico Anderson Steiner e a esposa Mariana Barbosa, com os filhos Gustavo de 12 anos e Catarina, que ainda não completou dois anos, prestigiaram a primeira edição da festa em família. A caçula já nasceu no período de restrições e muitos passeios tiveram que ser adiados.
“Chegamos em Marília em 2017 e não fomos [à Japan Fest] nos primeiros anos. Depois veio a pandemia e parou tudo”, relata Anderson. “É muito boa a sensação de ver a vida voltando ao normal”, completa Mariana.
É também a oportunidade para Catarina se encantar com as luminárias e Gustavo saborear a tão apreciada gastronomia. “Eu amo comida japonesa. É uma delícia”, define.
E o apetite dos cerca de 50 mil visitantes é grande. Somente neste sábado, a barraca do departamento de futebol da Associação Okinawa vendeu cerca de 1,5 mil espetinhos. É apenas parte do volume diário da festa, onde, além do Nikkey, outras entidades também são beneficiadas.
NOVOS MUNDOS
A alegria pela volta da festa motivou os estudantes Vitor Moro, de 18 anos, e Mariana Mioto, de 17, a vestir seus personagens favoritos. “Eu sempre gostei de animes, desenhos em geral e resolvemos vir [fantasiados] para ter a experiência, por diversão mesmo”, conta o rapaz.
Por um dia ele é Zenitsu Agatsuma, um caçador no mangá Demon Slayer. A companheira é Nezuko Kamado, personagem central da série. “Ele não é protagonista, mas sem querer dar spoiler [revelar o final], posso contar, eles acabam se relacionando”, afirma Vitor.
O designer gráfico Marcos Vinicius, de 19 anos, é Luffy (One Piece), que graças à Japan Fest e a criatividade do cosplay, pode interagir com a Kai’Sa, do League of Legends – universos diferentes. A representação da heroína é de Ingrid Lima, de 18 anos, também designer.
“Na pandemia foi bem difícil, mas quem gosta dá um jeito. A gente fazia fantasia e participava de eventos na internet”, conta a jovem. “Ainda bem que tudo voltou ao normal”, comemora.
ACESSO À CULTURA
A autônoma Rosana Monteiro e a fisioterapeuta Ana Cláudia Xavier, admiradoras da cultura japonesa, destacam a exposição. Elas aproveitam o cenário com dezenas de bonsais para a selfie.
“Fez muita falta. A alegria está voltando. Essa festa é um evento bonito, limpo, com muita beleza nas exposições, com riqueza na cultura, as danças, a música. É encantador”, resume Rosana. “Ver tanta gente circulando com liberdade, sem aquela preocupação, chega a ser emocionante. Marília merece a Japan Fest de volta”, completa Ana Cláudia.
A feira recebeu vários cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, o que demostra o que desejo generalizado pela livre circulação, em espaços coletivos e festivos.
O aposentado Ciro Pereira da Silva Júnior, que é cadeirante, aprovou parcialmente a acessibilidade. “Precisa melhorar. O recinto todo poderia ser mais acessível”, acredita. Ele usou a entrada principal, esteve na praça de alimentação, próximo ao palco, mas não conseguiu chegar à área do parque de diversões.
O TEMPO DA NATUREZA
O médico Alexandre Perez, de 50 anos, passou metade da vida cultivando bonsais. O resultado é uma coleção com exemplares premiados, que encantam os visitantes e exemplificam bem a sabedoria do povo oriental, precursores da arte botânica.
“Definir bonsai é complexo. É cultivo, é técnica e estética, do ponto de vista de quem vê. Mas sob a perspectiva de quem faz, é botânica, ciência, filosofia”, explica.
Em relação os conceitos filosóficos da arte de forjar pequenas árvores, o médico explica que a prática tem a ver com respeito e paciência.
“Ao mesmo tempo em que você poda a planta, você também poda seus impulsos, a precipitação, a imprudência que é própria do ser humano. O bonsai nos ensina a respeitar os tempos da natureza”, define o médico mariliense.