Falta coordenar políticas fiscal e monetária no mundo todo, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (10) que a organização das contas públicas no Brasil é sempre um ponto de preocupação dos investidores, mas afirmou que esse não é um problema exclusivo do país.
Segundo ele, houve uma coordenação interessante entre política monetária e fiscal durante a pandemia, o que não está mais acontecendo no combate à inflação alta que se seguiu no pós-pandemia.
“Nós vemos as políticas monetárias reagindo, mas ainda temos muita falta de política fiscal, e não estou falando aqui especificamente do Brasil, eu estou falando globalmente”, afirmou.
Durante apresentação em evento da Constellation Asset Management, Campos Neto chamou atenção para o fato de que a dívida pública no mundo está concentrada em quatro grupos: Estados Unidos (34%), Europa (20%), China (15%) e Japão (11%).
Segundo o presidente do BC, a dívida nesses países aumentou muito durante o começo da pandemia, dada a necessidade de injeção de dinheiro na economia. Mas, com a alta dos juros, ficou mais caro rolar essa dívida, e a preocupação agora é com a liquidez dos mercados e como isso impactará países emergentes.
Falando especificamente sobre o Brasil, Campos Neto disse que as contas públicas são fonte de muita preocupação. “Os investidores falam muito disso. O governo mudou as metas fiscais e isso criou alguma incerteza no mercado”, afirmou.
Segundo ele, isso levou a uma reprecificação dos números fiscais pelos analistas. Além disso, Campos Neto citou uma pesquisa que mostrou que, desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), 79% dos entrevistados relataram sensação de piora nas contas públicas.
“A questão aqui é: como nós endereçamos o fato de que precisamos mostrar para os investidores de longo prazo que nós podemos ter uma trajetória sustentável da dívida pública.”
O presidente da autoridade monetária disse ainda que não é papel do Banco Central questionar se o governo será capaz de cumprir o novo arcabouço fiscal. Segundo ele, o resultado fiscal em si não é importante, mas sim o que ele significa para a macroeconomia.
Além da mudança da meta de resultado primário, o último Copom trouxe dúvidas para o mercado acerca da transição no BC após a saída de Campos Neto no fim do ano. Há temores de intervenção nos trabalhos do Banco Central quando a maioria dos diretores forem indicados do governo atual.
Houve um racha entre os diretores indicados pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os indicados pelo governo passado na decisão de reduzir o ritmo de corte da taxa básica de juros, Selic.
***
POR STÉFANIE RIGAMONTI