‘Falta comunicação’, diz terapeuta de casais de Marília
A psicóloga clínica Karina Ananda Titton é especialista em terapia cognitivo comportamental e trabalha com terapia de casais em Marília. Por conta do Dia dos Namorados, comemorado nesta quarta-feira (12), a equipe do site entrevistou ela sobre algumas características dos relacionamentos contemporâneos.
A influências dos aplicativos de namoro e encontros casuais, os principais problemas enfrentados pelos casais atualmente e o caminho para um relacionamento saudável e duradouro foram alguns dos tópico da conversa de Karina com o Marília Notícia.
Confira a entrevista abaixo:
Marília Notícia – Em tempos como os atuais, em que filósofos e sociólogos denunciam a existência de uma certa fragilidade dos laços sociais, os relacionamentos sérios estão em alta ou fora de moda?
Karina Titton – Eu acredito que é o que todo mundo busque, um relacionamento sério. Porém eu vejo que as pessoas não estão muito dispostas a cederem em alguns pontos para poder receber o “benefício” desse relacionamento. Mas acho que fora de moda não é a palavra exata.
MN – Aplicativos de relacionamento. Aparecem na sua clínica casais que começaram a se relacionar por meio deles?
KT – É bastante comum.
MN – Existe alguma peculiaridade nesse tipo de relacionamento?
KT – Imediatamente, nada que eu perceba. São pessoas “normais”. Porém hoje é muito mais fácil você encontrar através do aplicativo do que na “vida real”. É vida real também, mas acaba sendo mais prático. Nossa vida está nos aplicativos hoje em dia. Então, por que não os relacionamentos também?
MN – Está consolidada, ao menos para alguns grupos, a mudança na forma como se relacionam, como flertam?
KT – Sim com certeza. E mesmo quando as pessoas se conhecem “ao vivo” ao forma de contato acaba sendo através de algum aplicativo, ou o Facebook ou o WhatsApp. Hoje a primeira coisa que você quer saber é isso, o contato na rede social, então você já tem todas as informações da pessoa, o que ela faz, o que ela gosta, com quem ela se relaciona. Você tem informações mais rápido.
MN – E esse tipo de relacionamento, iniciado pelas redes sociais, aplicativos, tendem a ser mais longevos, mais curtos, ou você não percebe uma diferença nesse sentido?
KT – Não posso te afirmar isso com certeza porque não tenho acesso às estatísticas, mas pelo que eu observo, tendem a ser mais curtos, mais superficiais, justamente pelo acesso às informações.
MN – O que leva as pessoas a procurarem a terapia de casal?
KT – Em 95% dos problemas são iniciados pela dificuldade de comunicação entre os casais. Não necessariamente os casais procuram a clínica com essa questão. Dificilmente eles procuram no início, quando começam os problemas. Eles vêm quando já se esgotam todas as outras alternativas, eles busca a terapia de casal como tábua de salvação. Vêm porque houve traição, houve mentira, por questões familiares, filhos, “N” situações. Mas quando a gente começa a investigar, descobre que principal problema não é a queixa, mas a dificuldade dos casais em se comunicar. De um falar uma coisa e o outro entender aquela coisa. Aí a gente começa a trabalhar nesse sentido e eles mesmos passam a resolver as dificuldades normais de todo relacionamento em cada fase.
MN – Quais os caminhos para um relacionamento saudável e duradouro?
KT – A comunicação assertiva. Existem quatro tipos de comportamento humanos, o agressivo, passivo, passivo-agressivo e o assertivo. O comportamento agressivo é caracterizado por aquela pessoa que fala o que vem à cabeça, que diz assim: “o que eu tenho que falar, eu falo na cara, não mando recado”. Não necessariamente o comportamento agressivo está associado à falta de educação ou a agressividade física ou verbal, é uma postura de você falar o que vem na sua cabeça sem pensar o que vai causar no outro. No lado oposto temos o comportamento passivo, caracterizado pela pessoal que não diz o que quer, não expõe sua opinião e acaba abrindo mão daquilo que quer por aquilo que acha que vai agradar o outro. É aquele que diz sim quando quer dizer não, e diz não quando quer dizer sim. Pensa primeiro no outro e não pensa dele. Temos também o comportamento passivo-agressivo. É aquele pessoa que já consegue se expor, consegue colocar sua opinião, mas ela é meio “desajeitada” com a opinião. É caracterizada pela ironia, aquele tapa com luva de pelica. Usa da brincadeira, do lado lúdico, para dar uma cutucadinha. E exatamente ao meio, aquele comportamento que devemos almejar, é a comunicação assertiva, o comportamento assertivo. Que é você conseguir expressar aquilo que você quer, sua opinião, se colocar em uma determinada situação, porém analisando os recursos de quem está te ouvido para que você consiga explicar para aquela pessoa aquilo que você quer que ela entenda.
MN – Como assim?
KT – O segredo acredito que seja um poder sentir o momento do parceiro, analisar a capacidade que ele tem em determinada situação para que ele absorva aquilo que você quer, é ter uma meta. Por exemplo, “eu gosto daquela pessoa, ela fez uma coisa que não gostei, mas não quero me separar dela, eu quero consertar aquilo que está errado”. Então não vou conversar sobre isso em uma reunião de amigos, por exemplo, ou em um momento que a pessoa está super brava porque teve um problema do trabalho. Vou escolher o melhor momento para poder conversar sobre isso e chegarmos a um acordo. Vou escolher meu tom de voz, vou escolher as palavras que vou usar. É ir tateando, colaborando que o outro entenda da forma que você deseja.