Fabrício tentou vaga em clínica de recuperação para se esconder
Entre a descoberta de seus crimes bárbaros em Pompeia (distante 30 quilômetros de Marília) e a sua prisão na última segunda-feira (8), Fabrício Buim Arena Belinato, de 36 anos, passou pelo menos uma semana escondido no Mato Grosso do Sul.
Antes de chegar em Campo Grande (MS), entre sábado (6) e domingo (7), ele se passou por andarilho e tentou se misturar a usuários de drogas e álcool no município de Bataguassu (MS). Quase deu certo.
O Marília Notícia conversou com uma voluntária, responsável pelo acolhimento na Associação Bataguassuense de Prevenção, Tratamento e Recuperação de Dependentes Químicos “Amor e Vida”. A entidade tem mais de 15 anos de atuação e realiza relevante trabalho social.
“Ele queria um lugar pra dormir. Nós explicamos que não temos alojamento nessa unidade aqui na cidade. Oferecemos alimentação, banho, roupas, mas não tem dormitório. Ele perguntou sobre uma unidade de recuperação, queria ir pra lá”, conta a voluntária.
O local almejado fica na zona rural, a 22 quilômetros do centro de Bataguassu. Na discreta propriedade, mantida pela mesma associação, são recebidos dependentes de álcool e outras drogas. Fabrício foi questionado sobre seu suposto vício e teria alegado ser alcoólatra, informação divergente do perfil social apontado nas investigações.
“Para internação nós pedimos os documentos pessoais. Ele disse que estava confuso, que havia esquecido onde deixou. A gente sempre pergunta sobre a família. Ele disse que não tinha como voltar para casa, que ‘teve muitos problemas’ e não seria mais recebido”, revelou a dirigente da entidade.
Ela contou ainda que foi dada uma alternativa ao psicólogo. “Pedimos para ele ir na polícia. Fazer o registro sobre o extravio dos documentos e trazer cópia para nós. Assim poderíamos acolher, mas ele foi adiando… depois não tocou mais no assunto”, contou ao MN.
Fabrício passou pela Associação Amor e Vida, entre outros moradores de rua, por pelo menos quatro dias. Era lá que ele fazia as suas refeições. Chegava sempre com uma sacola de plástico, com poucos objetos.
Só agora os dirigentes da instituição souberam que o morador de rua era formado em psicologia, tinha dinheiro no bolso e poderia ter se alimentado em outro lugar, mas precisava de um “nova identidade” para escapar da polícia.
De forma contraditória, ele tentava usufruir dos mesmos benefícios que tinha em Pompeia. Conforme revelaram as investigações, foi em Bataguassu que Fabrício sacou a pensão que recebe da Previdência Social, pela morte de sua primeira esposa – vítima de câncer.
Ele usou uma casa lotérica na cidade para sacar o dinheiro nos primeiros dias deste mês. A polícia acredita que Fabrício chegou na cidade entre domingo (31) e segunda-feira (1), portanto, antes da descoberta dos crimes.
Os corpos da esposa, Cristiane Pedrosa Arena, de 34 anos, e da enteada, Karoline Vitória, de nove, foram desenterrados pela polícia no último dia 2 de fevereiro
“Nunca poderíamos imaginar. Ficamos sabendo quando a polícia veio aqui, na quinta (4) e sexta-feira -feira (5). Vieram dois dias, para tentar surpreender esse rapaz, mas ele não voltou mais. Soubemos que ele também pediu ajuda em outras entidades”, revelou.
Em uma das conversas com os voluntários, Fabrício chegou a citar o nome de um padre da cidade – vinculado a uma obra assistencial. Também relatou ter procurado uma comunidade evangélica. Sem dar pistas de sua identidade, tentava ganhar a confiança das pessoas que trabalhavam na caridade em Bataguassu.
“Ele falava pouco, estava tranquilo, não aparentava estar fugindo. Lembro que no primeiro dia ele comeu pouco, tomou café, e foi embora. Aqui a gente acolhe, dá comida, estamos sujeitos a isso, independente da história da pessoa. Só para internar é que exigimos documentos”, disse ao MN a voluntária.
Na noite desta terça-feira (9), ao chegar em Marília com o psicólogo preso, o delegado responsável pelas investigações, Claudio Anunciato, disse que ele usou o próprio carro para os deslocamentos.
“Deixava escondido para despistar, meio longe dos lugares onde ia. Não podia aparecer de carro porque estava se passando por desabrigado”, revelou Anunciato. O veículo, que não tem relevância para a investigação, ficou apreendido em Campo Grande.