Ex-funcionários apontam Camarinhas como donos do Diário
Ex-funcionários do jornal Diário de Marília e das rádios Dirceu AM e Diário FM, estão relacionando em suas ações trabalhistas o deputado estadual Abelardo Camarinha (PSB) e seu filho, o ex-prefeito Vinícius Camarinha (PSB), como sócios ocultos dos meios de comunicação.
Dezenas de trabalhadores que saíram de mãos abanando após a Polícia Federal fechar o impresso e as rádios, já acionaram a Justiça do Trabalho. Parte deles, com medo de não ter de quem receber, tem apontado os políticos como donos.
Ouvidos pela reportagem, os ex-colaboradores – que preferem não se identificar por segurança – garantem que os donos eram pai e filho Camarinha, sendo que os políticos ditavam as ordens, as pautas, o que escrever, quem atacar e quem enaltecer.
A empresa está abarrotada em dívidas de todos os tipos, com uma gama enorme de fornecedores. Matéria recente do Marília Notícia mostra que a Editora Diário – Correio de Marilia está entre os maiores devedores de FGTS da cidade, com R$ 653 mil em dívidas.
Alguns antigos funcionários trabalharam mais de 10 anos sem nunca ter sido depositado o recurso previdenciário. Fora isso, não foram dadas baixas nas carteiras de trabalho, tampouco feito qualquer tipo de acerto com o grosso dos trabalhadores fichados.
No âmbito da Justiça Trabalhista as audiências estão sendo todas remarcadas para 2018.
O MN acompanhou um desses casos na última semana. A advogada da empresa alega que não tem acesso aos documentos do RH (Recursos Humanos), já que o prédio está lacrado pela PF.
Delação
Os boatos nos bastidores apontam há anos quem seriam os verdadeiros donos das rádios e do impresso Diário, que absorveu também o antigo Correio de Marília – comprado e fechado – e herdou essas dívidas trabalhistas (igualmente “paradas”).
Em fevereiro deste ano o vazamento de uma delação premiada contribuiu ainda mais para essa tese. O testemunho foi feito por Sandra Mara Norbiato à Procuradoria Geral da República, em inquérito desenrolado pela Operação Miragem.
Nesta operação são apurados crimes de falsidade ideológica, associação criminosa, uso de documento falso, desenvolvimento clandestino de atividade de telecomunicação, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Norbiato, que mora em Ribeirão Preto, aparece como sócia-proprietária do grupo de comunicação mariliense, mas confessou ser apenas uma “testa de ferro” no negócio.
A declaração da testemunha consta no pedido de homologação do termo de colaboração premiada, feito pelo Ministério Público Federal ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região. O documento vazou para a imprensa, apesar de ter sido decretado sigilo absoluto dos autos.
Na ocasião, o MN divulgou com exclusividade que a mulher chegou a registrar um boletim de ocorrência por ter sofrido ameaças de morte do ex-marido, também envolvido no caso.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com Abelardo e Vinícius Camarinha para que eles comentassem as acusações.
“Lamentavelmente as ações contra o jornal tiveram objetivo político de, às vésperas das eleições municipais, promover o exagerado espetáculo policialesco. No decorrer da ação, as falsas acusações serão esclarecidas e seguramente arquivadas. Todas as decisões serão respeitadas e devidamente cumpridas”, disse ao MN Vinícius Camarinha.
Já Abelardo pediu para a população que “por favor não impute crime q não existe a nós”. O deputado estadual ainda completou: “As ações estão sub judice e o que for determinado pela lei será cumprido na risca”.