“Eu vi minha mãe chorando e quis resolver essa dor”, conta Rudy Tedeschi, CEO da Pedbot
Uma situação pessoal vivida em família fez com que Rudy Tedeschi, hoje com 28 anos, tivesse uma ideia que mudou sua trajetória vida e de muitas outras pessoas. Ele criou um aplicativo para ajudar quem procurava preços de medicamentos.
A primeira solução foi vendida para um grande grupo farmacêutico, mas ele seguiu no mesmo ramo de tecnologia e saúde, criando a maior plataforma de gestão de atendimentos via redes sociais para farmácias do Brasil.
O sucesso com a startup Pedbot possibilitou uma fusão com a Funcional Health Tech, um dos maiores ecossistemas de tecnologias para saúde do Brasil. A Funcional, que beneficia cerca de 20 milhões de pessoas mensalmente, enxergou o potencial de capacitação da empresa mariliense e investiu no sonho de construir um laboratório de desenvolvimento de colaboradores.
Por isso foi criado o PedLabs, garantindo a formação de pessoas interessadas em aprender e trabalhar.
Hoje a empresa já se consolidou no mercado e as pessoas reconhecem o talento de Rudy Tedeschi, bem como dos outros dois fundadores da Pedbot, Diogo Souza e Daniel Andrade, mas nem sempre foi assim.
Para atingir o patamar atual, eles tiveram de enfrentar muitas dificuldades, desconfianças e algumas portas fechadas. Apesar dos desafios, Rudy Tedeschi sempre acreditou no propósito da startup e nunca pensou em desistir, alcançando o sucesso nos negócios.
***
MN – Com qual idade você começou a trabalhar?
Rudy Tedeschi – Sou de Marília, nascido e criado aqui. Comecei a trabalhar quando tinha uns 14 ou 15 anos. Os meus pais possuem uma loja de materiais de construção e acabamento chamada Tedeschi. Eu comecei a trabalhar quando eu era novinho lá e isso para mim foi muito importante, pois eu consegui identificar um pouco mais de como funciona uma empresa. Mesmo sendo uma pequena empresa, eu consegui identificar como lidar com colaboradores, o que existe na estrutura organizacional.
MN – O que você fazia lá?
Rudy Tedeschi – Passei por todos os setores. Comecei etiquetando estoque e carregando caixas. Depois fui atendendo, comecei a fazer compras e vender. Depois de alguns anos, eu já ajudava meus pais a tocar a empresa.
MN – E quando foi que você decidiu empreender na área de tecnologia?
Rudy Tedeschi – A minha vida como empreendedor solo começou com a Pedfarma, em 2017. Na verdade, começou com um projeto acadêmico, por um problema que eu vivi. Meu avô, o pai da minha mãe, teve um AVC. Eu tinha uns 16 anos. Ele ficou nove anos e meio com muitos problemas e quem cuidava e custeava o tratamento dele era minha mãe. Como eu trabalhava com ela, ficava na mesma sala que ela, até que um dia ela caiu no choro.
MN – O que aconteceu?
Rudy Tedeschi – Ela tinha que resolver as situações do cuidador, médico, fisioterapeuta. A gente sabe que quando uma pessoa está em situação de cama, não é nada fácil, nem psicologicamente e nem financeiramente. Uma das coisas que ela tinha que fazer era comprar os produtos de farmácia dele. Minha mãe abriu uma planilha do Excel e começou a anotar todos os produtos que ele precisava. Ela ligava nas farmácias para cotar preços, mas tinha alguns de alto custo, que eram um pouco difíceis de encontrar.
MN – E você sempre ali ao lado acompanhando tudo isso?
Rudy Tedeschi – Eu ajudava um pouquinho nesse cuidado com o meu avô. Visitava e levava, às vezes, uma luva, uma máscara ou fralda. Certo dia, minha mãe estava fazendo a cotação, acho que era uma segunda-feira, sendo que a minha avó, mãe dela, também estava doente. Ela estava em uma situação bem triste naquele momento da vida, e quando estava fazendo essa cotação, começou a chorar.
MN – Qual foi sua reação?
Rudy Tedeschi – Eu devia ter meus 19 anos ou 20 anos. Pensei que pudesse encontrar alguma coisa na internet para conseguir encontrar os remédios que minha mãe precisava. Lembro que a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que devia existir um Buscapé de farmácia. Eu abri o Google, comecei a pesquisar, pesquisar, e na época eu não encontrei nada. Então foi quando eu decidi criar a Pedfarma.
MN – Você já estudava na faculdade nesta época?
Rudy Tedeschi – Eu estava cursando Administração e para que qualquer um se formasse, precisava ‘fazer o balcão de projetos’, que é construir uma empresa do zero. Foi quando eu decidi trazer para dentro da Universidade o projeto que se tornou o Pedfarma. Isso tudo começou em 2016. Diogo já estava comigo desde aquela época e a gente começou a tocar o projeto para se formar, mas eu também queria que aquilo virasse um negócio, porque eu queria poder ajudar minha mãe.
MN – Qual era a ideia para Pedfarma?
Rudy Tedeschi – A ideia era construir um aplicativo que comparasse o preço das farmácias da região. Como se fosse um iFood, só que mais voltado mesmo em você fazer um orçamento. Fazer uma cotação nessas farmácias. No fim de 2017, quando a gente ainda estava na Universidade, estava no meu último ano, a gente foi convidado para participar do Marília Startup Pitch Day, que na época era o maior concurso de startups no interior.
MN – Como foi a apresentação de vocês? Havia muita concorrência?
Rudy Tedeschi – Tinha 55 empresas e acho que 14 foram convidados para o pitch final. Nós fomos uma dessas. Na época tinha coordenador da universidade e professores concorrendo com projetos. Éramos tipo o “patinho feio”, mas por conta de ter uma história muito forte, realmente estávamos construindo alguma coisa por conta de um propósito, que era conseguir fazer as pessoas comprarem de uma maneira mais fácil, encontrando uma melhor condição, vencemos o concurso.
MN – Esse foi o incentivo que faltava para se lançar de cabeça no projeto?
Rudy Tedeschi – Ali começou a virada de chave. Eu lembro que foi num sábado e na segunda-feira eu falei para os meus pais que eu não ia mais trabalhar com eles. Foi quando eu e o Diogo viemos aqui para a Univem. Sentamos ali no que era o Innovaspace e começamos toda a nossa jornada.
MN – Nessa apresentação, o aplicativo já estava funcionando?
Rudy Tedeschi – Não. Nossa apresentação foi toda no Power Point. Era um documento ali, um business plan, era isso aí. Na época a gente ganhou um incentivo, nada em dinheiro, mas um valor de custo de servidores, um ano de contador, então a gente ganhou algumas coisas que poderiam dar a possibilidade para abrir a empresa.
MN – Você e o Diogo eram da área da Administração.
Rudy Tedeschi – Nessa época nenhum de nós dois desenvolvia. Começamos a procurar um desenvolvedor, até que a gente encontrou o Daniel, que é o terceiro sócio da empresa. Foi quando começamos a construir o Pedfarma. Um ano depois, em novembro de 2018, exatamente um ano, a gente lançou o aplicativo para o mercado.
MN – Esse foi o primeiro projeto de vocês?
Rudy Tedeschi – O Pedfarma foi nosso primeiro projeto, a gente ficou com ele de 2018 até o meio/fim de 2020, que foi quando a gente vendeu a solução para a Febrafar, que hoje é o segundo maior grupo econômico do mercado farmacêutico. Trata-se de uma federação de 15 mil lojas, que são 70 redes, se eu não me engano, e eles compraram para poder ser um aplicativo padrão deles.
MN – E por qual motivo decidiu vender o Pedfarma?
Rudy Tedeschi – Quando eu construí a Pedfarma, o meu principal intuito era conseguir fazer com que as pessoas pudessem ter facilidade na hora de comprar em farmácia. Quando a gente fala de aplicativo, a gente corta uma faixa de pessoas que têm acesso. Existem pessoas de uma classe social mais baixa, que não tem memória no celular, não conseguem baixar o aplicativo, além de pessoas mais velhas, que possuem dificuldade de usar o app.
MN – Qual a solução para esse obstáculo?
Rudy Tedeschi – No meio do caminho da Pedfarma, para incentivar o usuário a fazer a compra no app, decidimos usar o WhatsApp. Tinha muito ‘carrinho abandonado’, que é quando a pessoa entra, adiciona os produtos e não compra. Então integramos com uma plataforma de WhatsApp e começamos a mandar mensagem para os usuários, alertando que a pessoa não tinha comprado e chamando ela para voltar no app. Muita gente começou a interagir com esse número de telefone.
MN – Qual conclusão vocês tiveram?
Rudy Tedeschi – Começamos a perceber que de todos os downloads que a gente gerava no app, os clientes que tinham ali 45 anos ou mais, era a turma que estava perguntando no WhatsApp se podia comprar por ali. Foi quando a gente foi estudar o mercado de WhatsApp no meio farmacêutico, o tamanho do potencial de vendas das farmácias dentro do WhatsApp. Identificamos então que o WhatsApp era o único canal que tem hoje no Brasil, que inclui todas as faixas etárias, ou seja, todo mundo usa o WhatsApp. Se você tiver pai, mãe, mais velho, todo mundo usa o WhatsApp. Ele não vai entrar no iFood e comprar um negócio, mas no WhatsApp ele usa todos os dias. Então a gente viu um potencial. Além disso, além de todas as pessoas estarem lá, é um canal consultivo. As pessoas queriam tirar dúvidas na hora de comprar os produtos na farmácia.
MN – Quais eram as dúvidas?
Rudy Tedeschi – O médico receitou um remédio e a pessoa queria saber como tomar, ou quais eram as reações adversas. As pessoas buscam essas informações quando vão até uma farmácia. O profissional está ali para apoiar esse consumidor. Decidimos construir essa ferramenta e demos na mão de algumas farmácias para que elas testassem. Isso foi em 2020, um pouquinho antes de estourar a pandemia. Foi na hora certa, pois muita gente não podia sair de casa e todo mundo foi fazer compras online.
MN – Quando o Pedbot entrou em operação?
Rudy Tedeschi – Foi em agosto de 2020. A gente começou a operação também em parceria com a Febrafar. Eles não trabalhavam online. Quando compraram o Pedfarma, fecharam a parceria para indicar o Pedbot para todas as suas lojas. Então foi aí que começou o crescimento do Pedbot em si. A gente resolveu vender o Pedfarma para focar no Pedbot, pois vimos que o WhatsApp se tornaria o que muita gente chama de super app brasileiro, que é um aplicativo que inclui toda a população. E ele começa a oferecer cada vez mais serviços, porque tem muito esse conceito de um aplicativo oferecer vários serviços, para você não ficar saindo daquele lugar. Foi quando a gente começou a operação do Pedbot.
MN – Hoje vocês contam com uma equipe grande, mas como era na época?
Rudy Tedeschi – A operação do Pedbot começou em agosto de 2020. Em 2021 a gente conseguiu alcançar, com um time de cinco pessoas mais ou menos, 600 lojas em todo o Brasil. Eu era o nosso único vendedor, enquanto geria a empresa eu também apresentei a solução para centenas de lojas de maneira online. Trabalhávamos de 12 a 16 horas todos os dias. Não que isso tenha mudado hoje em dia.
MN – Quando vocês conseguiram um investimento para o Pedbot?
Rudy Tedeschi – A gente conseguiu escalar durante o ano de 2021 com a solução. Em 2022, no começo do ano, a gente captou uma rodada de investimento com a Bossa Nova, que hoje é um dos maiores venture capital da América Latina, sendo o mais ativo. Na época, a gente entrou em dois grupos que tem dentro da Bossa Nova. Um é formado por ex-fundadores de startups que venderam e agora investem. É o que a gente chama de Smart Money, uma galera que podia ajudar muito a gente com a operação. E outro era de um coach de empreendedorismo, o Marcus Marques. Então, a gente foi muito potencializado pela Bossa Nova nesse período para conseguir escalar a nossa solução. Com isso, o Pedbot expandiu para todo o Brasil.
MN – E nesse ano aconteceu a fusão com a Funcional?
Rudy Tedeschi – Em maio deste ano, 2023, a gente foi comprado e com isso se fundiu com a Funcional, que hoje é uma das maiores empresas de tecnologia para a saúde do Brasil. São dez unidades de negócios, que são dez produtos diferentes e o Pedbot é um desses. A gente se fundiu com eles, justamente por um propósito de conseguir levarmos a solução para cada vez mais empresas, para que essas empresas, essas farmácias e drogarias, pudessem melhorar a vida de cada vez mais pessoas, de cada vez mais cidadãos brasileiros. Esse sempre foi o nosso propósito, desde lá do comecinho, quando eu vi minha mãe chorando. Até hoje é isso que permeia toda a nossa cultura organizacional. A Funcional hoje tem em torno de 55 mil farmácias.
MN – Nessa fusão você também se tornou sócio da Funcional?
Rudy Tedeschi – Sim. Hoje, eu e os demais fundadores da Pedbot somos sócios da Funcional. Quando eles fizeram negócio com a gente, virei sócio da Funcional como um todo e membro do Conselho Consultivo. Agora eu ajudo toda Funcional, não só a Pedbot. Continuo sendo CEO da Pedbot, mas ajudo toda Funcional. Nós somos cinco conselheiros e a gente debate todas as matérias das unidades. Participo das análises de métricas, discussões de projetos, iniciativas e estratégias da empresa.
MN – Qual o maior orgulho nessa trajetória?
Rudy Tedeschi – O que a gente mais se orgulha de toda essa história aqui que eu te contei, o que mais me orgulha disso tudo, sem nem comparação, é que a gente já conseguiu nesses anos fazer com que mais de 14 milhões de pessoas comprassem a nossas soluções, muita gente então tem uma facilidade que minha mãe não teve naquela época. Hoje temos mais ou menos em torno de um milhão e meio, dois milhões de pessoas que compram no Pedbot mensalmente. As nossas farmácias estão espalhadas por todos os estados brasileiros.
MN – Qual é o público dessas farmácias?
Rudy Tedeschi – Nosso público normalmente são farmácias individuais. Então nós beneficiamos todas as pontas. Pegamos aquele cara que tem uma farmácia individual, que trabalha o pai, filho e a mulher. Conseguimos entregar para ele uma ferramenta, para ele conseguir potencializar e aumentar as vendas dele, e consequentemente esse cara vai entender muito melhor o público dele, que normalmente são pessoas de baixa renda e idosos. Conseguimos chegar ao cerne daquelas pessoas que gostaríamos, que eram as pessoas que realmente precisam cada vez mais dessas soluções.
MN – Existe um perfil de cidade em que atuam?
Rudy Tedeschi – A gente atua em muita cidade do interior. Tem cidade no interior do Acre, do Pará, do Rio Grande do Sul. Atuamos em cidades de cinco mil habitantes, 10 mil, 100 mil, atuamos nas capitais, como Rio de Janeiro, BH e São Paulo.
MN – Olhando para trás, tudo que passou para chegar até aqui, valeu a pena?
Rudy Tedeschi – Consegui impactar uma galera. Toda essa jornada de abrir mão de cuidar de uma empresa dos meus pais para empreender, passar muito sufoco e quase quebrar algumas vezes, valeu a pena. Quando a gente começou tínhamos R$ 2 mil, uma quitinete emprestada, três cadeiras emprestadas e uma mesa. Era isso que a gente tinha e conseguir chegar até aqui é uma vitória.
MN – A preocupação com as pessoas sempre foi uma das diretrizes dos negócios?
Rudy Tedeschi – Por isso a gente lançou o Labs recentemente. Teve a Pedfarma e o Pedbot, mas a empresa é a Ped. E a Ped sempre teve esse conceito de querer dar oportunidade para pessoas que precisavam.
MN – Por quê?
Rudy Tedeschi – Porque a gente não teve. Quando a gente ganhou o pitch day lá atrás, muita gente pensou que foram meses, anos de glória, mas muito pelo contrário. A gente teve muito mais pessoas que falaram que não ia dar certo, que fecharam portas para a gente. Então quisemos fazer o contrário do que a gente teve aqui. Nossa intenção era pegar jovens que queriam se destacar, queriam evoluir, queriam crescer e dar essa oportunidade para eles. Não só os jovens que estão começando, mas também quem está migrando de carreira.
MN – Qual perfil vocês buscam?
Rudy Tedeschi – Você vai se inscrever para uma empresa e eles querem ver o seu currículo, o que você já tem de história, ou o que você já fez. A gente não. Queremos encontrar pessoas que têm a parte interpessoal, ou seja, tem um coração bom, tem ética, se esforça, quer mudar a vida da família. Fico muito feliz quando tem alguém aqui na empresa que fala que conseguiu mudar a vida da família.
MN – Quais os principais diferenciais de vocês?
Rudy Tedeschi – Independente de qualquer coisa, o que permeia em uma empresa é a cultura dela. Vai mudar o produto, a gente era Pedfarma, agora é Pedbot, podem mudar as pessoas, pode ser que o fulano ou ciclano não estejam mais aqui, mas se a gente mantiver a cultura, o negócio continua rodando, continua em pé e continua seguindo o seu objetivo. Um segundo ponto é de ter humildade. Isso é uma coisa que me pega muito. As maiores pessoas que eu conheci na minha vida eram as pessoas mais humildes, então você sempre saber que independente de quem você é, tem que ter humildade com o outro que está começando, porque não tiveram tanto com a gente lá no começo.
MN – Qual dica você daria para quem tem uma ideia e quer ter sucesso?
Rudy Tedeschi – O ponto principal, que eu sempre falo para a galera, é que as pessoas precisam ver com um olhar diferente. As pessoas quando empreendem em tecnologia querem criar produtos, soluções e empresas, e não resolver dores. Desde o começo de todo o nosso papo aqui, eu falei para você que eu vi uma dor e quis resolver essa dor. Quando você empreende, você tem que entender que você tem que resolver uma dor, um problema do seu público. Seja você melhorando o processo, seja criando um produto novo, diferente. A inovação vem muito de você pegar uma coisa que a pessoa tem necessidade e mudar, fazer de uma maneira melhor. O Nubank, por exemplo, não é só aplicativo que é uma inovação, algo novo que ninguém nunca viu, os grandes bancos já tinham aplicativos. Nubank é um banco digital, só que eles fizeram um banco tirando todas as dores que as pessoas viviam no banco. Eles fizeram a mesma coisa que as pessoas já fizeram, só que de um jeito melhor. Aqui se apegou na dor e não na solução. Você tem que ser apaixonado pela dor do seu cliente, não pela solução que você oferece, porque senão você fica cego.