‘Eu fiz um plano viável para Marília, que será realizado’, diz Vinicius
De volta à sua rotina de deputado estadual, o prefeito eleito de Marília, Vinicius Camarinha (PSDB), teve agenda cheia na primeira semana após conquistar a segunda oportunidade para governar a cidade onde nasceu.
Vinicius reencontrou entidades, eleitores e espaços públicos e, em viagem, visitou a Rumo, concessionária ferroviária responsável pelo trecho em Marília, para tratar sobre o parque linear que consta em seu plano de governo.
Inspirada em um modelo de Nova York, nos Estados Unidos, a obra provocou desconfiança de mera propaganda de campanha – não houve qualquer menção de custo e o candidato admitiu a necessidade de recurso extraorçamentário para realizá-la.
Agora eleito, Vinicius reafirmou tudo que anunciou antes das urnas. “Eu fiz um plano de viável para Marília, sem falsas promessas. Tudo que está lá é possível de ser realizado. Não tem nenhum absurdo. E nós vamos fazer”, disse.
Ele repetiu suas garantias de governo em entrevista exclusiva do Marília Notícia, concedida no fim da tarde da última terça-feira (8), em seu escritório político em edifício da rua Bahia, a menos de 100 metros do Paço Municipal.
Em menos de meia hora, Vinicius confidenciou bastidores de sua campanha, justificou porque não foi aos debates, explicou com qual critério escolherá seu secretariado e contou como poderá ser um “prefeito/deputado” para Marília.
Leia abaixo a entrevista completa:
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MN – O senhor venceu a eleição com quase o triplo de votos do segundo colocado, a exemplo do que ocorreu em 2012. Por quê?
Vinicius Camarinha – A população, no meu entender, conseguiu enxergar um candidato com mais condições de resolver os problemas. O mais preparado, com melhor histórico e currículo, com compromisso com a cidade. Um voto seguro. Isso nós percebermos nas ruas. Fui o único candidato que levou propostas, e que pode dar contas das demandas.
MN – Que lições o senhor tirou das eleições de 2008 e 2016, quando perdeu?
Vinicius Camarinha – Cada campanha é diferente, cada momento de vida também. A gente se torna um ser humano melhor a cada dia, cada um na sua atividade, profissão. Ao longo de minha vida pública eu procurei me aperfeiçoar o tempo todo. Aquela eleição que eu não venci em 2016 foi muito importante para mim pelo amadurecimento. Agora eu parti para uma eleição 100% focado em gastar as minhas energias para resolver os problemas do povo. Essa foi a minha determinação. E zero debate pessoal com candidatos para que a gente não pudesse desfocar da relação com o povo. Essa foi a grande diferença.
MN – Um político experiente como senhor não entraria numa eleição sem ter uma ideia da intenção de votos do eleitorado. Foi isso que os números te mostraram ainda em março?
Vinicius Camarinha – Sim. Se fosse pensar somente em mim, eu ficaria onde já estou, como deputado. Seria muito mais fácil para minha vida pessoal. Mas política não é comodidade, e sim onde posso prestar o melhor serviço. Entendi que poderia ajudar mais a minha cidade sendo prefeito. Não era só uma vontade minha, mas dos meus eleitores. Eles nos queriam nas eleições. Por isso as pesquisas apontavam, desde o início, quando comecei minhas sondagens, um boa diferença. Só que isso não serviu de conforto para mim. Eu fui para as ruas com a mesma intensidade de como se estivesse em último lugar, até o último minuto.
MN – Por isso sua presença nas ruas, como vimos em suas redes sociais desde o início da campanha…
Vinicius Camarinha – Campanha corpo a corpo, diálogo, falando com as pessoas, trabalhando, focado em dar atenção, em ouvir. Eu saí muito sensibilizado desta eleição. Muito preocupado, triste pelo que encontrei. Eu nunca ouvi em minha vida pública tanto sofrimento quanto agora. Pessoas há seis anos sem consulta médica, sem especialista, sem cirurgia. Uma senhora ficou esperando por seis anos um otorrino. Outra com dor no estômago sem que ninguém resolvesse o problema há três anos. Uma tragédia. Isso me abalou bastante. Ao mesmo tempo me dá energia por saber que vou poder ajudar essas pessoas.
MN – O senhor liderou todas as pesquisas de intenção de votos publicadas desde julho mas, sabemos, contou com suas próprias estatísticas. Como sua mensuração de dados fez a diferença nos rumos de sua campanha?
Vinicius Camarinha – Nós tínhamos pesquisas regionalizadas. Sabíamos em cada região da cidade como estavam os nossos números. Quem era a favor, contra, estava indeciso. Eu também tinha o feeling de rua. Você anda num bairro, vai para outro, vai percebendo a reação das pessoas, como elas te atendem, te recebem.
MN – Passou pela sua cabeça perder esta eleição com números tão favoráveis?
Vinicius Camarinha – Política não é uma ciência exata. Estava confiante. Eu sabia que o eleitor já tinha caído numa aventura com o atual prefeito. E não iria apostar nisso de novo. A cidade não queria isso, e sim alguém seguro, maduro. Eu não tenho empresa para pagar conta. Minha vida é de carreira política.
MN – O senhor acabou de ser eleito prefeito e já pensa no futuro político?
Vinicius Camarinha – Tenho pretensões políticas lá na frente.
MN – Essas pretensões políticas passariam pelo Palácio dos Bandeirantes?
Vinicius Camarinha – Alguém vai ter que ser algum dia presidente da República, governador do Estado, senador, deputado federal. Eu me preparei para isso a vida inteira. Enquanto estivermos dando a reposta que a população deseja e eu estiver me sentindo útil, eu vou continuar.
MN – Ser prefeito dá mais visibilidade que estar deputado?
Vinicius Camarinha – Isso é muito relativo. Eu poderia ser presidente da Assembleia (Legislativa do Estado de São Paulo, a Alesp). Ou mesmo líder do governo no ano que vem. Mas a questão agora não é de vaidade política, mas de onde eu posso atender melhor o povo de Marília. A cidade precisa de um bom prefeito agora. Modéstia à parte, eu posso ser uma espécie de ‘prefeito/deputado’. Tenho relações com pessoas que garantem recursos para a cidade. Marília terá um prefeito com características de deputado.
MN – Durante a campanha o senhor confirmou presença em dois debates e acabou não comparecendo a nenhum. Se estivesse em segundo nas pesquisas, teria ido?
Vinicius Camarinha – Eu fui a todos os debates sérios. De propostas, de discussões. O que houve agora é que meus adversários foram ‘zero fair play’. Ultrapassaram a linha da ética política. Fizeram uma campanha de ataques à minha pessoa com calúnias, difamações, injúrias. Como a população também fez nas urnas, decidi desprezá-los. Não dá para debater com esse tipo de gente. Pessoas com essas características eu quero distância.
MN – Em 2016, o senhor entregou a cadeira ao prefeito Daniel, de quem agora a terá de volta. Nesta transição, pretende receber o mesmo tratamento que ofereceu à época?
Vinicius Camarinha – O prefeito me ligou para me parabenizar, mas vou esperar que ele me chame para a transição. Vamos ver o que ele poderá me informar. Na minha vez, tivemos uma transição tranquila, democrática. Cumpri meu papel até o último dia com dignidade, decência e honradez.
MN – Além dos membros do gabinete, o senhor terá 17 secretarias e mais a administração indireta para encaixar os nomes da próxima administração. Quais serão os critérios para defini-los?
Vinicius Camarinha – Brilho nos olhos. Sabe o que é isso? Vontade de trabalhar. Quero gente com vontade de produzir.
MN – Há previsão de quando os primeiros nomes deverão ser anunciados?
Vinicius Camarinha – Ainda vou pegar o organograma da Prefeitura para ver as pastas que existem hoje.
MN – Além da retirada dos radares como primeiro ato de governo, o senhor anunciou após sua vitória uma força-tarefa de Saúde nos primeiros meses de 2025. Como garantir segurança jurídica para o primeiro e recurso para o segundo?
Vinicius Camarinha – A Prefeitura tem suas ferramentas para suspender unilateralmente esse contrato e nós vamos usá-las. E eu vou buscar recursos de custeio para Saúde para fazer os mutirões. Inclusive eu tenho R$ 20 milhões de emendas para colocar no próximo ano para Marília. Ainda como deputado, participo do orçamento do Estado para 2025. Eu renuncio apenas em 31 de dezembro. Antes disso vou destinar muitos recursos para Marília.
MN – O senhor ancorou boa parte de seu plano governo em recursos extraorçamentários. Como conseguirá dar conta de atendê-lo, agora que está eleito?
Vinicius Camarinha – Eu tenho uma estimativa de alocar para Marília no mínimo R$ 100 milhões do orçamento do Estado e da União. Estou em contato com o governador e semana que vem estarei em Brasília. Já tenho reunião marcada na Assembleia Legislativa também. Vamos trabalhar o orçamento para começar a prover os recursos de investimentos para Marília. Quero tirar do papel tudo aquilo que me comprometi com a população. Eu fiz um plano viável para Marília, sem falsas promessas. Tudo que está no plano é possível de ser realizado. Não tem nenhum absurdo. E nós vamos fazer.
MN – O senhor terá pelo menos 12 dos próximos 17 vereadores em sua futura base governista na Câmara Municipal. Do ponto de vista do Executivo, como é ter um Legislativo no andar de baixo?
Vinicius Camarinha – A Câmara vai estar conectada com a gente porque está no mesmo propósito. O nosso time de vereadores foi eleito pela maioria da população como a maior bancada. Vou dialogar com quem foi eleito dos outros partidos para somar com a gente. Eu vou propor mudanças para melhorar a vida das pessoas. Eu tenho certeza que os vereadores que torcem pela cidade irão aprová-las. Espero não encontrar gente do quanto pior melhor.
MN – No ângulo inverso, como é ser deputado estadual tendo que lidar com um governo de Estado?
Vinicius Camarinha – Sou do partido de Marília. Por exemplo: se eu trabalhei para um governador, ele perdeu e entrou outro que pensa como eu, por que eu vou ser oposição? Eu vou apoiar os bons projetos do governador. Eu vou aperfeiçoá-los. Se o projeto é bom para Marília, eu estou dentro. Eu não tenho esse ranço de questões ideológicas. Tenho minhas convicções. Se forem contra, não vou apoiar. É assim que eu penso.
MN – Por mais algumas semanas o senhor segue como deputado. Já conversou com a suplência para que Marília não perca o apoio desta cadeira?
Vinicius Camarinha – A suplência ainda não foi decidida. O meu primeiro suplente é candidato a prefeito em Taubaté. Está no segundo turno. Mas temos 93 deputados lá que são amigos nossos. Não será apenas esse suplente.
MN – A doutora Beatriz (esposa de Vinicius) terá de trocar em breve o consultório pela vida pública. Ela nos confidenciou que ainda ensaia para as primeiras entrevistas. Como a atuação dela como primeira-dama pode ser uma referência de empoderamento da mulher em seu próximo governo?
Vinicius Camarinha – Minha esposa foi médica do SUS. Ela estudou em uma universidade federal e trabalhou em Rondônia, Roraima, em comunidades muito carentes. Pessoas que moravam em vielas, barracos. Ela tem muita noção de carência pública. Ela tem um desejo enorme de ajudar as pessoas e tenho certeza que vai se sentir muito realizada estando em Marília. Ela é médica de profissão, tem a clínica dela, mas vai nos ajudar neste trabalho social.
MN – Já conseguiu descansar?
Vinicius Camarinha – Que tempo? Não estou cansado. Estou é motivado. Até um pouco mais acelerado. O trabalho está só começando.