Esposa de homem morto após briga em oficina dá sua versão do caso
A polícia identificou como o funileiro Daniel Luiz da Silva de Carvalho, de 29 anos, o homem que foi morto no último sábado (19) por um policial militar de folga. Segundo versão da polícia, Daniel acabou baleado pelo PM após esfaquear o proprietário de uma oficina localizada na avenida Sampaio Vidal, no trecho conhecido como Via Expressa, zona Sul de Marília
De acordo com o apurado pela reportagem, quando a Polícia Militar chegou ao local, a vítima esfaqueada, que também é um funileiro, de 50 anos, já havia sido socorrida até o Hospital das Clínicas. Já Daniel não teve tempo de ser amparado e morreu na via pública.
No endereço, o policial militar de folga, um sargento de 44 anos que trabalhou por muitos anos na Rocam em Marília, mas atualmente presta serviço em São Paulo, teria relatado que havia levado a van de seu irmão ao local, uma oficina, e estava à paisana.
Segundo o sargento, Daniel teria chegado no estabelecimento discutindo com a vítima. Pouco depois saiu irritado e retornou, iniciando nova discussão.
Em determinado momento, de acordo com a versão do policial, Daniel retirou uma faca da cintura e passou a golpear a vítima. O sargento, que estava de folga, teria gritado “parado, polícia” e desferido um disparo de sua arma particular contra Daniel quando ele não obedeceu a ordem.
Ainda conforme a versão do PM, o funileiro não parou as agressões, sendo necessário mais dois disparos.
Daniel teria saído correndo com a faca na mão e caído em frente de uma igreja. O policial de folga ligou para outro PM, que informou o Copom sobre o fato, e acionou o socorro.
Uma testemunha confirmou a versão do policial, afirmando que presenciou a briga de Daniel com o dono do estabelecimento por duas vezes.
Conforme a testemunha, ambos se ofenderam durante a discussão e Daniel saiu do local, voltando armado com uma faca. Eles discutiram de novo, até o rapaz golpear a vítima com a arma branca.
A testemunha narrou que em dado momento, Daniel quase se ajoelhou para dar a facada na região do abdômen, e então foi possível ouvir três tiros. Em seguida o agressor foi visto saindo correndo com a faca na mão e caindo na calçada.
Após os fatos, a testemunha tomou conhecimento que os tiros tinham sido dados por um policial de folga.
A perícia esteve no local e foram recolhidos o celular do dono da oficina e o revólver do sargento, com duas munições intactas e três deflagradas.
A polícia acredita que o PM agiu em defesa de terceiro, mas os fatos serão apurados após laudo pericial e conclusão do inquérito.
Em comunicado enviado ontem ao Marília Notícia, o comando da Polícia Militar afirmou que “todas as circunstâncias relacionadas ao fato ainda estão sendo apuradas”.
Daniel foi sepultado neste domingo (20), às 14h, no Cemitério da Saudade.
Segundo o HC, o dono da oficina que recebeu as facadas já teve alta. “O paciente deu entrada no pronto socorro dia 19, sábado, onde recebeu todo atendimento necessário e permaneceu em observação por 24 horas. Recebeu alta hospitalar no domingo, dia 20.”
VERSÃO DA COMPANHEIRA
A companheira de Daniel, a repositora Franciele Firmino, de 33 anos, conversou com a reportagem do Marília Notícia nesta segunda-feira (21), e alega que Daniel teria recebido uma ligação do policial que o matou no dia dos fatos.
Franciele narrou os acontecimentos desde o começo. Segundo ela, Daniel havia comprado um Corsa e tinha contato com o dono da oficina na Via Expressa, que ficou interessado no veículo. Daniel então vendeu o automóvel para ele.
“No ato do negócio, o Daniel falou para ele [dono da oficina] passar os dados que iria fazer o recibo. O dono da oficina pediu para ele segurar a transação por 30 dias, porque iria passar o carro para frente. O Daniel concordou”, contou a repositora.
De acordo com ela, após o período combinado, que expirou semana passada, o dono da oficina ligou para Daniel, que teria pedido mais uma semana para resolver a situação. Daniel, na verdade, ainda não tinha passado o Corsa para seu nome quando vendeu o carro, e estava atrás do antigo proprietário para resolver a questão do recibo.
Franciele afirma que Daniel solucionaria a questão no sábado, mas o dono da oficina estaria ‘sem paciência’ e queria o recibo imediatamente, pois já tinha vendido o carro para uma terceira pessoa. O homem teria começado a ameaçar Daniel, dizendo que tinha contato com PMs, conforme disse a repositora ao Marília Notícia.
“A semana inteira ele ficou ligando pro Daniel, ameaçando”, disse Franciele.
A mulher de Daniel contou para o site que no sábado (19) eles acordaram, fizeram algumas tarefas domésticas e o dono da oficina teria ligado novamente, ameaçando, xingando e falando que Daniel não era homem de palavra.
“O Daniel disse para ele ‘mas hoje é sábado, vou atrás do cara e vou resolver como eu falei pra você’. Ele continuou xingando o Daniel, que desligou o telefone”.
Ainda conforme Franciele, ela e Daniel teriam saído de casa para resolver outras questões pela manhã, e quando estavam no carro, o policial envolvido na ocorrência teria ligado.
“O policial ligou e falou ‘e aí como que vai ficar esse negócio do recibo?’ O Daniel explicou tudo para ele, o que tinha acontecido e que ia atrás do cara. O policial falou para o Daniel que não gostava de falar nada disso por telefone e chamou ele para ir lá na oficina resolver. O Daniel me deixou na minha mãe com as crianças e foi pra lá”, relata.
Franciele conta que ouviu toda a conversa porque o celular de Daniel conectava automaticamente no bluetooth do carro, e por isso tudo era escutado no viva voz. O filho dela, de 13 anos, também teria ouvido. Ela ainda afirma que Daniel não tinha nenhuma faca quando saiu em direção da oficina.
“O Daniel não estava com faca nenhuma, ele estava sem nada e foi lá. Eu falei para ele, ‘você quer que eu vá com você, deixa eu ir com você?’ Ele falou que não, que ia resolver sozinho e não ia acontecer nada”.
A repositora conta que procurou a polícia para contar sua versão dos fatos, mas foi instruída a voltar nesta segunda e procurar a Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
Ela afirmou à reportagem que iria ainda na manhã de hoje novamente na Polícia Civil. Assim que Franciele prestar depoimento, sua versão deverá ser apurada no caso.
Franciele não comentou em nenhum momento sobre as facadas que seu companheiro desferiu contra o dono da oficina.
“O Daniel era trabalhador, não era bandido, era um excelente pai, eu fiquei revoltada. Eu quero que seja feita justiça”, finaliza.