Escolas apostam em reforço, mas pais veem prejuízos com a pandemia
A educação da filha de oito anos é uma das prioridades da auxiliar de serviços gerais Fernanda de Oliveira, 44, moradora da zona Oeste de Marília. A pequena Sara estuda na rede estadual e ficou mais de um ano sob assistência do ensino remoto. A percepção foi de prejuízo ao aprendizado.
“Ela está fazendo reforço e agora frequenta a escola todos os dias. Em pouco tempo, já está melhorando a escrita. Foi muito ruim para as crianças, por mais que elas se esforçassem, não avançavam no remoto. Eu acredito que ela deixou de aprender muito, por não estar dento da escola”, diz Fernanda.
Para a auxiliar, a preocupação com o coronavírus ainda existe. Mas é preciso se adaptar, já que não há perspectivas quanto a erradicação da doença. “Acho que veio para ficar, igual ao [vírus] H1N1. Temos que retomar a vida e nos proteger”, acredita a mãe.
REDE ESTADUAL
Em Marília, são 36 escolas sob gestão do Estado, com 16.291 alunos matriculados. A Diretoria Regional da Educação não admite a expressão “prejuízos ao ensino”, mas concorda que muitos alunos tiveram dificuldades com o distanciamento social e, por isso, habilidades ficaram desfasadas.
Ana Luiza Guimarães, dirigente na região, afirma que o ensino remoto trouxe especificidades e que “nada substitui o contato do professor com o estudante”. Para apoiar todos os alunos e oferecer condições de equiparação, a estratégia foi adotar aulas de reforço no contraturno.
A avaliação é feita pela equipe pedagógica, mas também é considerada a percepção dos pais. Os responsáveis pelas crianças têm a responsabilidade de participar do processo e apontar, caso tenham observado, que o desenvolvimento de habilidades deixou a desejar.
“Tanto em janeiro como em julho, tivemos ações de recuperação em todas as escolas de Marília, especialmente para Língua Portuguesa e Matemática. Considerando todo o contexto de pandemia, de restrições, trabalhamos com um currículo voltado para as habilidades essenciais”, explica.
A expectativa é que, com a pandemia sob relativo controle, a presença de alunos na escola suba a cada dia. Atualmente, a rede estadual em Marília estima a frequência entre 60% e 70%.
Há escolas com índices ainda mais elevado, já que a ocupação depende da adesão das famílias. “As unidades, inclusive, receberam recursos para adaptações necessárias, para material de higienização e proteção de funcionários e alunos”, destaca Ana Luiza.
A evasão na rede estadual, que antes da crise sanitária praticamente inexistia – segundo a dirigente –, agora pode terminar o ano em 2%. Para que isso não ocorra, todas as estratégias estão sendo usadas.
“Teve uma escola que colocou um carro de som na rua. Há um empenho imenso para que possamos reduzir o número de alunos inativos. Não os consideramos evadidos porque ainda estamos trabalhando para trazê-los ao convívio escolar, seja de forma remota ou presencial”, diz a dirigente.
São pelo menos 180 alunos nessa condição. “Detectamos que alguns mudaram de endereço, teve caso de aluno que começou a trabalhar, enfim, as causas são diversas, mas não vamos desistir de ninguém. Temos contado com ajuda de igrejas, postos de saúde, todas as instituições do convívio social. Quando não há outra meio, acionamos o Conselho Tutelar”, garante.
REDE MUNICIPAL
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, o rendimento dos alunos tem sido monitorado por meio das avaliações bimestrais. Os exames foram realizados presencialmente, mesmo quando os alunos estavam em aulas 100% remotas.
O titular da pasta, Helter Rogério Bochi, afirma ainda que os professores têm tido olhar atento a todos os alunos, principalmente, os que possuem problemas de aprendizagem.
“Os estudantes que possuem eventuais prejuízos pedagógicos estão sendo monitorados e, além de atendidos de acordo com o plano da escola (por meio de rodízio ou diariamente), estão recebendo atenção de forma personalizada, de acordo com metas estabelecidas pela unidade escolar”, afirma.
A secretaria informou ainda que, após busca ativa, existem apenas duas crianças evadidas da rede, o que corresponde a 0,02% dos matriculados.
“Os alunos que apresentaram algum problema de aprendizagem ou faltas estão sendo atendidos em atividades de reforço ou atividade complementar. No momento, temos 2.800 crianças sendo atendidas, o que corresponde a 21% dos matriculados”, aponta Helter.
Para orientar os pais e responsáveis sobre o número de horas presenciais – para cada ciclo -, diferentes datas de retorno e reuniões para definir os próximos passos, a Prefeitura divulgou um cronograma, aplicado a partir deste mês.