Equipes de Boulos e Nunes medem efeito Marçal e mantêm confronto entre si
As pré-campanhas de Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) reagiram positivamente à nova pesquisa Datafolha, que mostrou a permanência de ambos empatados tecnicamente na liderança, mas incluíram em seus cálculos a entrada de Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB). Tabata Amaral (PSB), que viu sua terceira colocação ser ameaçada, avaliou ter preservado seu patamar.
Aliados de Boulos voltaram a dizer que o desempenho do deputado federal, apoiado pelo presidente Lula (PT), é um bom indicativo perante a estrutura que Nunes tem à disposição, com a máquina da prefeitura e a possibilidade de fazer inaugurações e publicidade.
Já a pré-campanha de Nunes comemorou o que vê como a consolidação do emedebista no topo das pesquisas e num arco de crescimento, enquanto considera que Boulos vem minguando principalmente por causa da queda de popularidade de Lula.
A pré-candidatura de Datena está cercada de ceticismo, em virtude do histórico de desistências do apresentador. A avaliação dos adversários é a de que ele, no máximo, aceitará ser vice de Tabata, como já se desenhava.
As pontuações de Marçal e Datena foram lidas com otimismo no entorno de Boulos, pelo diagnóstico de que ambos prejudicam Nunes, que pode perder força com a pulverização de votos no campo da direita.
Foi para evitar esse quadro que o postulante à reeleição se empenhou na costura para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não lançasse candidato e o apoiasse.
Aliados de Nunes, por sua vez, minimizaram o impacto de Marçal, argumentando que ele tende a concentrar apenas votos de jovens e da direita mais radical. O coach e empresário marcou 9% em um dos cenários testados pelo Datafolha e 7% no outro.
Estrategistas ligados ao prefeito afirmam que o pré-candidato do PRTB precisaria do apoio formal de Bolsonaro para crescer significativamente. Há quem palpite que o ex-presidente pode, sim, endossar Marçal e, com isso, encolher a votação e a coligação de Nunes, que conta com 12 partidos.
Essa é a aposta do próprio Marçal, que avalia ter mais chances de derrotar Boulos e, por isso, acabaria atraindo o ex-presidente.
Pessoas que convivem com Bolsonaro, no entanto, descartam essa possibilidade e afirmam que ele tem ressalvas em relação ao coach. Com o ex-presidente no barco de Nunes, a avaliação é a de que o público bolsonarista fiel, no fim das contas, vai confiar seu voto ao emedebista para evitar uma vitória de Boulos.
Aliados de Nunes consultados pela reportagem disseram acreditar que não é preciso neste momento reforçar o vínculo entre Nunes e Bolsonaro com o intuito de barrar o crescimento de Marçal. Desde que anunciou apoio ao prefeito, Bolsonaro tem se mantido discreto na pré-campanha.
A expectativa é que Nunes seja alavancado não pela associação ao ex-presidente, mas por suas entregas. Pesa nessa estratégia o fato de que Bolsonaro é um padrinho que também provoca rejeição no eleitorado.
Nunes afirmou à Folha de S.Paulo que ficou feliz com o resultado e que está tranquilo em relação a Marçal.
“Entraram mais pré-candidatos que estão dentro [do campo] do nosso eleitor e, mesmo assim, estou subindo e meu principal adversário caindo. No cenário mais provável, tenho 26% ante 24%. É um incentivo para continuar trabalhando”, disse.
“A pesquisa demonstra a percepção das pessoas de que Nunes é um prefeito realizador, que entrega e que trabalha sobretudo para a periferia”, afirma o presidente do MDB, Baleia Rossi.
Boulos emitiu nota afirmando que a pesquisa reforça que a população “quer mudança” e que “o uso abusivo da máquina pública não é suficiente para esconder os problemas de São Paulo”.
“Os paulistanos não querem uma administração que prioriza obras eleitoreiras, cheias de indícios de corrupção, ao invés de investir em projetos estruturais que retomem o papel de destaque da maior cidade da América Latina”, disse.
Aliados do deputado no PSOL e no PT admitiam, nos bastidores, o risco de Nunes abrir vantagem em relação a Boulos ainda na pré-campanha. A manutenção do empate foi recebida com alívio, levando em conta as ferramentas que estão à disposição do incumbente.
“A pesquisa mostra resiliência do Boulos e fragilidade do Nunes”, diz o presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro. Para ele, ficou evidente que o emedebista prescinde de um eleitor convicto. “O quadro para ele muda quando entram novos atores, e o mesmo não acontece com o Boulos.”
Auxiliares têm evitado dar peso negativo à rejeição ao deputado, de 32% a mais alta entre todos os pré-candidatos. O discurso é o de que o patamar elevado é normal no atual contexto de polarização no país e que isso não é impeditivo.
“Ainda temos 130 dias para a eleição”, afirma o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), dizendo-se confiante na vitória a partir do diálogo com pessoas de fora da “bolha” do aliado. A ordem é manter a artilharia contra Nunes e desgastá-lo pela vinculação a Bolsonaro e pelas falhas de gestão.
A pré-campanha de Tabata avalia que a pesquisa demonstra a consolidação de um eleitorado que aposta nela independentemente de adversários, padrinhos ou circunstâncias.
“A pesquisa confirma que minha candidatura é sólida e tem um patamar consolidado de ponto de partida, por volta dos 10%”, disse em nota a deputada federal. “Há um cenário favorável para minha candidatura crescer e ir para o segundo turno”, seguiu ela, que tem taxa de conhecimento de 55% e rejeição de 16%.
Para Orlando Faria, coordenador político da pré-campanha, Tabata continua orbitando em torno da terceira colocação, mesmo com a entrada de Datena e Pablo. “Ela tem um voto que é dela”, diz.
Questionados pela reportagem, aliados de Nunes descartaram, por enquanto, uma composição com Marçal para tirá-lo da disputa por duas razões. Primeiro por não quererem associar o emedebista ao influencer, que coleciona uma série de processos e episódios controversos.
Em segundo lugar, considerando o alto desconhecimento (50%) e a alta rejeição de Marçal (25%), a aposta na pré-campanha de Nunes é a de que o rival se mantenha com cerca de 10%, assim como Tabata. Marçal não deverá ter acesso à propaganda de TV e rádio nem aos debates.
Sendo assim, mantê-lo na disputa e, num eventual segundo turno, atrair seus eleitores criaria um fato político positivo para o prefeito, segundo seus aliados. Eles dão como certo que Boulos, na segunda etapa da disputa, vai se beneficiar com o apoio de Tabata algo que ela descarta no momento.
Por CAROLINA LINHARES, JOELMIR TAVARES E CARLOS PETROCILO