Empresário impede que 15 mil embalagens de vidro virem lixo na cidade
Da necessidade de se reinventar, surgiu em Marília um negócio familiar que alia economia solidária e sustentável. Pimentas, molhos e outras especiarias viraram a principal fonte de renda de um empresário que viu a rentabilidade cair no setor de entregas, depois da pandemia.
A empresa ia bem, mas o mariliense Ricardo Furlaneto percebeu que após a crise sanitária o preço do serviço despencou. Mesmo com muitas entregas para fazer, a forte concorrência de muitos desempregados que passaram a realizar a mesma atividade, desarranjou o segmento.
“Eu já fazia pimentas, molhos, mas para os amigos. Fazia para presentear, porque é uma coisa que eu gosto, mas comecei a perceber que poderia agregar valor e criar uma produção mais profissional, mantendo o padrão de produto artesanal”, explica.
Com as pessoas em casa mais tempo, preparando seus próprios alimentos, o negócio decolou rapidamente. Ricardo e a família, porém, se depararam com a dura realidade da pandemia no desarranjo na cadeia de matérias-primas.
“O vidro ficou escasso. Eu pagava R$ 3 em cada unidade de um fornecedor em Garça, mas já não estava sendo suficiente, porque as vendas já estavam muito boas. Foi aí que precisamos nos reinventar uma segunda vez. Para não parar, nós tivemos que criar uma alternativa”, relata.
A solução encontrada foi realizar uma parceria com uma associação que promove a reciclagem na cidade e tira renda de resíduos que iam para o lixo. Logo o vidro começou a chegar na pequena produção da família Furlaneto em farta quantidade.
O material passa por um processo de triagem, um controle de qualidade que assegura a qualidade das embalagens. Em seguida, vai para a higienização em solução química, depois lavagem e por último a esterilização.
Assim, embalagens que iam levar até 4 mil anos para serem eliminadas pela natureza seguem num ciclo de reuso. O volume de garrafas levadas pela associação e outros coletores na fábrica de pimentas foi tanto que em pouco tempo, ao invés de demandar vidro, Ricardo passou a fornecer o material já higienizado para outros empresários.
Por mês, Furlaneto e os coletores que levam o material para a empresa tiram de circulação em Marília 15 mil garrafas e potes de vidro. Em um ciclo de economia solidária e sustentável, o produto está ajudando no sustento de famílias que vivem da reciclagem, outros pequenos empreendedores que trabalham com alimentos artesanais e, claro, o negócio da família.
“Eu acredito que temos que acordar para a finitude dos recursos naturais, para o alto custo econômico e ambiental da energia. A produção precisa ser pensada do ponto de vista da eficiência, mas também do que ela está gerando para a sociedade e o que está consumindo do nosso planeta”, ensina o empresário, que se reinventou duas vezes durante a pandemia.