Empresário anuncia candidatura em meio a acusações de crimes financeiros
Proprietário da Sugar Brazil e Das Maria Agropecuária, empresas que trabalham com mercadorias agrícolas, o empresário João Henrique Pinheiro (PRTB) anunciou na última semana sua pré-candidatura para disputar a Prefeitura de Marília nas eleições deste ano. Pinheiro enfrenta acusações de estelionato e atualmente é investigado por suposto crime de lavagem de dinheiro.
No evento de lançamento da pré-candidatura, feito em uma churrascaria de Marília, Pinheiro afirmou que um diálogo será construído com outros partidos com a finalidade de firmar alianças visando a eleição. Segundo o empresário, o PRTB se fortaleceu na cidade com filiações nos últimos dias e a sigla vai apresentar a composição de sua chapa em breve.
Com 39 anos, nascido em 6 de abril de 1985 na cidade de Echaporã, João se mudou com a família para Marília aos dois anos de idade. O empresário começou a trabalhar com seus pais desde os 10 anos, nas fazendas da região, auxiliando na montagem de cercas rurais. Estudou na escola Antônio Batista e terminou o colegial na unidade Antônio Reginato, concluindo sua educação superior com o curso de administração de empresas.
Segundo sua assessoria, João Pinheiro fundou sua primeira empresa com 20 anos de idade, prestando serviços de consultoria técnica com equipamentos para usinas de açúcar e álcool, passando a se chamar, anos depois, Sugar Brazil. A empresa atua comercialmente com importação, exportação, serviços logísticos, transportes marítimos e aéreos, armazenagem, distribuição e comercialização de alimentos.
PROCESSOS
Em meio à exposição política, João Pinheiro enfrenta problemas com a Justiça. O empresário foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) em agosto de 2021, pelo crime de estelionato. Inquérito policial apurou que no dia 5 de julho de 2018, ele teria vendido nove tanques de armazenamento de álcool que não seriam de sua propriedade.
Segundo o apurado pelo MP-SP, João Pinheiro teria procurado a suposta vítima oferecendo os tanques, bem como toda a tubulação e cabos elétricos. O valor de entrada pago por essa pessoa teria sido de R$ 369.500,00.
Mais tarde, segundo informações do Ministério Público, a suposta vítima descobriu que os bens materiais não seriam de Pinheiro e sim de outra empresa. “O que se verifica é que o denunciado vendeu à vítima bens que não lhe pertenciam como sendo próprios. Mesmo após diversas tratativas, a vítima não foi ressarcida dos valores pagos ao denunciado, tampouco recebeu os bens correspondentes”, afirma o MP-SP.
O empresário também tem contra ele o registro de diversos boletins de ocorrência com acusações de estelionato. Além dessas denúncias, João Pinheiro está sob investigação da Polícia Civil por suspeita de ocultação de bens, direitos e valores, bem como de possível envolvimento em atividades relacionadas à lavagem de dinheiro em suas empresas. Detalhes sobre essa investigação não foram divulgadas pela polícia até o momento.
CONFUSÃO NO AEROPORTO
Outro caso que chamou a atenção envolvendo o nome de João Pinheiro, desta vez como vítima, foi a prisão de dois homens armados no aeroporto de Marília em agosto do ano passado.
Conforme o Marília Notícia divulgou na época, a Polícia Militar chegou ao local após denúncia de ‘extorsão mediante sequestro’, recebida pelo número 190. Os detidos, com idades de 40 e 46 anos respectivamente, foram abordados enquanto aguardavam na área externa de um hangar. Eles estavam na companhia de um terceiro indivíduo do grupo, que não foi preso.
Segundo a polícia, os homens presos estavam armados com duas pistolas calibre 380 e tinham em posse seis carregadores e 109 cartuchos íntegros; eles também trajavam coletes à prova de balas.
João Pinheiro foi encontrado pelos policiais juntamente com um quarto homem no interior do hangar. O objetivo da conversa, ocorrida afastada dos demais, seria cobrar do empresário uma suposta dívida em dinheiro, cujo valor não foi revelado.
O empresário disse em depoimento que não sofreu ameaça ou agressões, mas que diante da informação dos armamentos com parte do grupo, decidiu também se apresentar na delegacia por temer por sua vida.
Todos os membros do grupo foram identificados e encaminhados para o Plantão Policial, onde prestaram esclarecimentos. Os armamentos e acessórios encontrados na ação seriam de propriedade de uma empresa de segurança patrimonial e não poderiam ser utilizados fora de serviço.
O delegado plantonista determinou a prisão em flagrante dos dois indivíduos que estavam armados e estipulou fiança no valor de R$ 1400 para cada um; os valores foram pagos e ambos acabaram liberados na época.
POLÊMICAS
As controvérsias envolvendo João Pinheiro não se limitam aos casos policiais. Pouco antes de manifestar sua intenção de concorrer à Prefeitura, o proprietário da Sugar Brazil entrou em conflito com seu antigo amigo, o presidente da Câmara de Marília, Eduardo Nascimento (Republicanos), que voltou atrás em sua decisão e revogou uma homenagem anteriormente proposta. Nascimento anulou o decreto legislativo que concedia o título de cidadão mariliense ao empresário.
O agora pré-candidato disse na época que se sentiu constrangido pela ação de Nascimento e afirmou que deve acionar a Justiça para garantir o cumprimento do decreto anterior.
Já no começo de março, um avião que até o mês de fevereiro ficava em um hangar da Sugar Brazil, no aeroporto estadual Frank Miloye Milenkovich, em Marília, caiu em um acidente aéreo na região de San Fernando de Apure, na Venezuela. O piloto e o copiloto da aeronave morreram na queda, que está sendo investigada.
De acordo com o empresário, a aeronave foi vendida no dia 26 de fevereiro para um grupo agropecuário do Tocantins, mas a transferência legal ainda não havia sido feita. “O avião era meu, sim. Vendi esse meu avião no final do mês passado. Nem tínhamos dado entrada na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda, pois podemos fazer isso dentro de 30 dias”, disse João Pinheiro ao Marília Notícia na época.
Também no começo deste ano, Pinheiro foi criticado nas redes sociais por cancelar o Agro Festival Marília, evento que organizava com grandes nomes da música sertaneja e que chegou a ser anunciado para o primeiro semestre. A reclamação de algumas pessoas era de que teriam comprado o ingresso e estariam com dificuldades em receber o dinheiro de volta, fato que não foi confirmado pela reportagem em nenhum caso.
OUTRO LADO
Em contato com o Marília Notícia, o pré-candidato se defendeu das acusações e fez questão de trazer uma série de esclarecimentos. Em relação ao Agro Festival Marília, afirmou que devolveu R$ 300 mil em ingressos que já haviam sido vendidos.
“Tinha aproximadamente R$ 300 mil em convites vendidos, só que cada centavo foi devolvido para as pessoas que compraram os convites, não igual umas pessoas que são aqui de Marília, que fizeram aí um monte de safadeza, venderam um monte de convite e até sumiram da cidade. Na minha opinião, isso sim é estelionatário. Eu estou aqui na cidade faz 37 anos”, afirma o empresário.
Ele contou que havia investido R$ 5 milhões no evento e que os contratos estavam firmados, mas fez o distrato, sendo todos devidamente rescindidos.
“Esse bando de desinformado fala que não tinha contrato, mas tinha sim. Um bando de ignorantes, que não sabe nem votar e por isso que a cidade fica parada no tempo”, diz Pinheiro.
Sobre o dia em que homens armados foram até o aeroporto para supostamente ameaçá-lo, negou que tivesse feito qualquer coisa errada. “Quem foi preso? Foram as pessoas que foram tentar fazer algo errado, que vão contra a Justiça e a ordem, entende?”.
Já em relação aos inquéritos que o investigam, afirmou que pessoas mal intencionadas usam isso para atacá-lo, mas que muita coisa do que é falado pela cidade não tem base na realidade. João Pinheiro negou que tenha recebido o pagamento de quase R$ 400 mil e afirmou que era o proprietário da usina, na época em que ocorreu a venda.
“A usina era minha, porém o grupo quis vender algo diferente do que foi vistoriado, semanas antes. Esse sujeito que fez essa denúncia de estelionato é ficha suja. Figura carimbada da Justiça. Ele pagou R$ 120 mil. Como ocorreu esse problema com a empresa que adquirimos e a operação não concluiu, como fazemos diversos investimentos, na época a pessoa acabou aceitando um terreno de R$ 600 mil e ‘aparentemente’ encerrando o assunto. Tanto que o mesmo vendeu esse terreno, ou seja, encerrou o assunto, não devendo mais satisfação alguma para esse cidadão”, afirma o empresário.
João Pinheiro também esclareceu que já havia vendido o avião que caiu na Venezuela, não sendo mais o seu proprietário.
“A gente vive num mundo onde as pessoas são movidas pela inveja e para falar mal. É o que eles sabem fazer, falar mal. Eu estou andando aqui na cidade e é tanto buraco que pelo amor de Deus. É um absurdo. É tanta coisa que precisa fazer aqui, que só tendo muita fé em Deus mesmo”, diz.
PROPOSTAS
O pré-candidato afirmou que pretende investir em valorização e capacitação dos funcionários da Saúde, contratar mais médicos especialistas para atender nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e promover o retorno da farmácia popular nas Unidades de Saúde da Família (USF) e UBS, além de reformular a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona norte e o Pronto Atendimento (PA) da zona sul, com ampliação do Programa Médico da Família.
João Pinheiro pretende construir pelo menos dez novas escolas durante o mandato, valorizar e capacitar os professores, melhorando a merenda e colocando um guarda municipal em cada escola para coibir a violência.
Na área da segurança, quer criar uma Guarda Municipal armada, reivindicando ainda o retorno do Comando do CPI-4 e o Copom para Marília. Ele também pretende pedir um helicóptero Águia da PM para apoio das operações policiais.
O empresário ainda destacou que quer municipalizar o transporte público municipal com frota própria e ônibus novos com ar condicionado, além de revitalizar toda a malha asfáltica da cidade, mantendo o preço da tarifa do ônibus circular em R$ 4,00.
Pinheiro afirma que irá incentivar empresas a se instalarem em Marília, com isenção de ISS entre os cinco a dez primeiros anos, gerando empregos para a cidade. Ele também disse que é contra a privatização do Departamento de Água e Esgoto de Marília (Daem) e que pretende retirar todos os radares instalados na área urbana de Marília.